Cremado, no início da tarde deste sábado (20/9), no Cemitério Bosque da Esperança, o corpo da médica Maggy Lopes da Costa, de 63 anos. A Doutora Maggy morreu em consequência de um ataque cardiovascular, sofrido na última segunda-feira (15/9), depois de uma reunião que discutia as ameaças que ela vinha sofrendo nas redes sociais, no Centro de Saúde Ventosa, onde trabalhava.

Maggy chegou a ser socorrida, sendo entubada ainda no Centro de Saúde, mas faleceu nesta sexta-feira (19/9). O velório foi marcado por um protesto, com todos os colegas de Maggy usando uma camiseta com os dizeres: "Os profissionais da saúde importam".

 

O início

Colegas de Maggy recordam que o problema começou há cerca de dois meses, quando ela atendeu a uma criança da comunidade da Ventosa, que tinha sintomas de TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade) ou, possivelmente, de TEA (Transtorno de Espectro Autista).

A mãe exigia um diagnóstico. A médica passou a ser alvo de críticas nas redes sociais e reclamou na reunião da última segunda-feira (15/9), que teve participação, além de médicos da unidade, de representantes do Sindicato dos Médicos (Sinmed) e do vereador Bruno Pedralva, do PT.

“Ela disse que estava angustiada com os ataques e ameaças que vinha sofrendo nas redes sociais”, afirma o vereador Pedralva, que lembra que, por conta dessas ameaças, médicos e enfermeiros já pediram transferência do Centro de Saúde da Ventosa.

O vereador afirma que, por esse e outros motivos, a manutenção dos agentes de segurança nos Centros de Saúde e UPA’s é fundamental. “O agente de segurança é um remédio contra a violência”.

E dá números: “Com a presença da Guarda Municipal, houve uma queda de 35% nas agressões verbais e 25% nas agressões físicas”.

Ele diz, ainda, que está repassando ao Ministério Público a denúncia de que um homem ameaçou, numa reunião aberta na Ventosa, que daria sete facadas em Maggy. “Isso não se justifica”, diz ele.

Quatro pontos são primordiais neste momento, segundo Pedralva. “Primeiro, fizemos uma notícia-crime ao Ministério Público. Já demos entrada. Segundo, estamos solicitando ao prefeito que visite os centros de saúde, para conhecê-los, como é seu funcionamento e o que acontece lá. Terceiro, temos de fazer uma campanha para conscientizar o cidadão que o profissional de saúde está lá para ajudar. E por último é preciso, urgentemente, que a Guarda Municipal volte a ser patrimonial. A unidade de saúde precisa de proteção.”

Mais denúncias

André Cristiano dos Santos, presidente do Sinmed, esteve no cemitério acompanhando a despedida de Maggy. Ele alerta para o fato de que o corpo clínico está sempre correndo risco por falta de uma obrigação que deve ser da Guarda Municipal.

Santos lembra que nos últimos 15 dias foram pelo menos três casos de violência nos centros de saúde.

“No Cersam do Barreiro, mataram um homem, que estava fazendo tratamento. No Barreiro de Cima, uma ameaça, de um homem armado com faca, fazendo ameaças. Na quinta-feira passada, houve um caso de importunação sexual. Foi com uma funcionária. Ela reagiu e foi agredida, com socos e pedradas. Teve um corte na cabeça. Um funcionário que foi ajudar, também foi agredido”, diz o presidente do Sinmed.

A atuação da Guarda Municipal é irregular, segundo o sindicalista. “Com a mudança, a Guarda Municipal deixa de ser preventiva para ser reativa. Isso não é, nunca, o ideal”.

Sobre as ameaças à médica Maggy, André diz que havia uma suspeita de autismo, mas que isso não pode ser diagnosticado por um médico apenas, como queriam a mãe e o homem que a agrediu nas redes sociais.

“A avaliação é feita por uma equipe multiprofissional, que tem um neurologista, um psiquiatra infantil e um pediatra. Vamos até o fim com esse caso. Procuramos os responsáveis pelo que aconteceu. Até os gestores do Centro de Saúde Ventosa pode ser responsabilizados. E temos de fazer isso, para que fatos como esse não se repitam”, diz André.

O que aconteceu

O episódio ocorreu durante uma visita técnica no local, organizada pelo Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), para “averiguar uma situação de exposição pública de violência contra profissionais de saúde”.

A servidora relatou que vinha sofrendo repetidos assédios por meio de publicações em redes sociais. O autor apareceu em vídeos expondo nominalmente os profissionais de saúde, por meio de gravações feitas sem o consentimento deles. Outros dois médicos da unidade também foram vítimas. Na ocasião, o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) emitiu uma nota de repúdio às tentativas de descredibilizar o trabalho dos servidores.

Logo depois de relatar o que estava lhe acontecendo e como isso a angustiava, Maggy saiu da sala e, meia hora mais tarde, sofreu o acidente cardiovascular.

Foi socorrida e entubada ainda no Centro de Saúde e, de lá, levada ao hospital.

Quem era Maggy

Maggy era adorada pelos colegas, médicos, enfermeiras e funcionários do Centro de Saúde Ventosa. Ela já tinha concluído o curso de enfermagem, quando decidiu se tornar médica e fez o curso de medicina.

“Maggy era uma pessoa humana, simples, humilde e ajudava todo mundo”, diz a enfermeira Sarita Martins. “Era uma pessoa boa”. Ela lembra de alguns dias em que a médica chegou a comentar com ela que não iria trabalhar, por não estar se sentindo bem por conta das ameaças.

“Dócil e calma, pronta a ajudar qualquer um. Essa era Maggy”, diz outra enfermeira, Ana Angélica Braga. Ela lembra que, na pandemia de Covid, a médica não ia trabalhar mas mesmo assim conversava, por telefone, com as pacientes e aviava receitas que estas estavam precisando.

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Maggy era uma pessoa sozinha. Não se casou e não teve filhos. No velório, estavam toda a sua família, irmãos, primos, tios, além dos amigos.

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