O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (Gaeco) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Polícia Militar (PMMG), em parceria com Polícia Civil (PCMG) e o Gaeco do Amazonas, deflagrou ação contra a lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas, feito por facções criminosas, como a Família Teófilo Otoni (FTO), que atua em parceria com o Comando Vermelho.
Foram cumpridos esta semana 84 mandados de busca e apreensão e 48 mandados de prisão, bloqueio de bens e de R$ 223,5 milhões, de um total de R$ 18 milhões, e buscas contra suspeitos de integrar a organização criminosa, resultando na prisão de 16 integrantes – no total, já são 56 prisões efetuadas.
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Batizada de “Custos Fidélis”, a operação está sendo realizada simultaneamente também no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Amazonas.
Segundo a major Layla Brunella, chefe da assessoria de imprensa da Polícia Militar (PMMG), as investigações tiveram início em 2023, com uma disputa entre duas facções da cidade mineira de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri: FTO e Calipso.
Nesta disputa, que provocou mortes de envolvidos, o Comando Vermelho encontrou a oportunidade de expandir sua área de atuação, aliando-se à FTO. Assim, começou a tentativa do grupo criminoso em dominar a região Leste de Minas.
Segundo o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, “o coração do crime organizado foi atingido”, pois conseguiram chegar às finanças do Comando Vermelho e confiscar parte do dinheiro.
Segundo ele, isso foi possível graças ao Serviço de Inteligência das polícias Civil e Militar. “Só se combate o crime organizado com inteligência, não na base da força”, argumenta.
Giovani Avelar, do Gaeco, diz que a integração das forças de segurança é determinante para o sucesso de qualquer operação. E que isso possibilitou o sucesso da operação, iniciada há apenas um ano e seis meses, por meio do Gaeco de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce.
“Tivemos a ajuda do Gaeco e da Polícia Civil do Amazonas, o que foi determinante para as ações desta etapa da operação 'Custos Fidélis'”, afirma.
Ele diz que as ações contra as organizações criminosas têm de ser rápidas. “Não podemos nos preocupar, por exemplo, com o pequeno traficante. É preciso entender a dinâmica da organização.”
Associação
O Comando Vermelho, segundo ele, após se aliar à organização criminosa de Teófilo Otoni, passou a utilizar empresas para a lavagem de dinheiro, como uma do Amazonas. “Nossa Inteligência detectou que uma única empresa depositou R$ 2 milhões de forma pulverizada em uma única semana, o que chamou nossa atenção.”
Ele explica ainda que a maior parte do montante não saía do tráfico de drogas, mas, sim, dos negócios lícitos, o que significa lavagem de dinheiro.
Abalo
O Coronel Maurício José de Oliveira, chefe do Estado Maior da PMMG, diz que a operação “Custos Fidélis” é um duro golpe no crime organizado, em especial ao Comando Vermelho.
“Nossa atuação impede o estabelecimento da organização criminal em Minas Gerais. Fizemos a retomada armada do território dominado por eles”, afirma.
Linha do tempo
Em 2003, a FTO havia matado dois integrantes do grupo Calipso, segundo a major Layla. “Era uma disputa local, mas o Comando Vermelho viu a oportunidade de dominar um pequeno território, para depois expandir. A PMMG foi desafiada e reforçou o policiamento na região”, afirma. Com isso, em um ano e meio foram apreendidos 500 quilos de drogas.
O vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, diz que existem ainda dois problemas a serem sanados. O primeiro, ao lado do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que é responsável por analisar e investigar operações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, no Brasil.
O segundo, tem a ver com uma lei no Brasil que defende favelas, em especial no Rio de Janeiro. “Essa decisão impede o cumprimento, por exemplo, de mandados nas favelas, especialmente no Rio de Janeiro.
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Trata-se da ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Processo Fundamental), uma ação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) que busca reduzir a letalidade policial nas favelas do Rio de Janeiro, baseada em violações de direitos humanos.
Apresentada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), a decisão do STF resultou na homologação de um plano estadual para a redução de mortes pela polícia, uso obrigatório de câmeras nas fardas e viaturas e a exigência de investigações mais aprofundadas por parte da Polícia Federal.
Abalo
O Coronel Maurício José de Oliveira, chefe do Estado Maior da Polícia Militar, diz que a Operação Custos Fidélis é um duro golpe ao crime organizado, em especial ao Comando Vermelho.
“Nossa atuação impede o estabelecimento da organização criminal em Minas Gerais. Fizemos a tomada armada do território dominado por eles”, afirma.
Linha do tempo
Em 2003, a FTO havia matado dois integrantes do grupo Calipto, segundo a major Layla. “Era uma disputa local, mas o Comando Vermelho viu a oportunidade de dominar um pequeno território, para depois expandir. A Polícia Militar reforçou o policiamento na região. A PM foi desafiada em Teófilo Otoni”, afirma. Em números, em um ano e meio, foram apreendidos 500 quilos de drogas.
E para tentar controlar a região de Teófilo Otoni, os criminosos do Comando Vermelho usavam sempre em suas ações, segundo o coronel Maurício, uniformes da Polícia Militar, emblemas da Polícia Civil e as armas, de uso exclusivo das forças armadas ou das polícias, ou seja, de grosso calibre.
Segundo a major Layla, o cabeça do grupo é oriundo do Rio de Janeiro e estaria escondido em uma favela. “Ele é nosso alvo, no entanto, a polícia não pode entrar na favela. Esse criminoso, segundo ela, postou um vídeo, na internet, tentando intimidar a PM.
“Dizia que era seu grupo, chamado Bonde da Bala, quem comandava Teófilo Otoni. Ostentava fuzis nesse vídeo”, diz a major. A guerra foi deflagrada naquele instante. Ela ressalta que a chave é o golpe às finanças do grupo criminosos.
Muito dinheiro
As investigações da Inteligência mostraram, segundo Giovani Avelar, que 83 empresas de fachada foram utilizadas e que uma delas havia movimentado R$ 20 milhões em apenas um ano. Tal dinheiro era usado na compra de mais droga, explica, mas de forma camuflada.
“Precisamos que o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão do Governo Federal) libere o acesso (à movimentação financeira dos suspeitos). Assim, poderemos agir com mais agilidade”, afirma ele.
As autoridades de segurança também ressaltam as dificuldades de acesso a alguns esconderijos, pois a polícia está proibida de cumprir mandados em favelas, especialmente no Rio, devido à Arguição de Descumprimento de Processo Fundamental (ADPF) das Favelas, ação judicial que tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF) e que buscou reduzir a letalidade policial nas favelas fluminenses, baseada em violações de direitos humanos.
Apresentada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), a decisão do STF resultou na homologação de um plano estadual para a redução de mortes pela polícia, uso obrigatório de câmeras em fardas e viaturas e a exigência de investigações mais aprofundadas por parte da Polícia Federal.
Belo Horizonte
O coronel Maurício diz que, depois que foi detectado o núcleo do Comando Vermelho, as atenções da PM se voltaram para Belo Horizonte, mais precisamente para o Morro das Pedras. “Existe um vínculo entre Teófilo Otoni e o Morro das Pedras. O Comando Vermelho está por trás de ambos. Mas estamos atentos. A PMMG não sairá do Morro das Pedras enquanto não expulsarmos o Comando Vermelho.”
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O que é COAF
O COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) é a Unidade de Inteligência Financeira (UIF) do Brasil, responsável por analisar e investigar operações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. Ele funciona recebendo comunicação de setores obrigados, como bancos, quando detectam atividades financeiras atípicas, analisando essas informações e gerando inteligência financeira para subsidiar investigações policiais e de outras autoridades competentes.