INTOXICAÇÃO

O que é a 'falsa couve', planta tóxica que deixou quatro internados em MG

Quatro pessoas da mesma família foram internadas em Patrocínio, no Alto Paranaíba, após confundir a planta com couve comum

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Uma refeição simples quase terminou em tragédia em Patrocínio, no Alto Paranaíba. Uma mulher de 37 anos sofreu uma parada cardiorrespiratória após ingerir a planta Nicotiana glauca, conhecida popularmente como "falsa couve", "charuteira" ou "couve-do-mato". O caso ocorreu na tarde desta quarta-feira (8/10), durante o almoço da família.

 

Segundo o Corpo de Bombeiros, quatro pessoas que consumiram a planta apresentaram sintomas graves de intoxicação. A mulher de 37 anos teve a piora mais rápida, mas foi reanimada pelos bombeiros e levada ao Pronto-Socorro Municipal, onde teve o quadro revertido.

Os outros três pacientes -- dois idosos, de 60 e 67 anos, e um homem de 49 -- permanecem internados em estado grave. Uma criança de 2 anos também foi hospitalizada para observação, embora não tenha ingerido a planta.

 

O vegetal foi encontrado próximo à cozinha da residência, reforçando a hipótese de erro na identificação da planta durante o preparo do alimento.

O que é a Nicotiana glauca? 

A Nicotiana glauca é uma planta da mesma família do tabaco, originária do norte e nordeste da Argentina e da Bolívia. Atualmente, está naturalizada em várias regiões do sul da América Tropical, Estados Unidos, México, Austrália, Caribe e em áreas secas do Velho Mundo. No Brasil, ocorre de forma cultivada ou ruderal, em ambientes secos ou úmidos, principalmente em quintais, beiras de estrada e áreas rurais.

A planta é considerada invasora, por se dispersar rapidamente e alterar ecossistemas naturais, ameaçando a biodiversidade nativa. É conhecida por diferentes nomes populares: “falsa couve”, “charuteira”, “couve-do-mato” e “erva-de-charuto”. A confusão com a couve comum aumenta o risco de intoxicação.

Por que a planta é tóxica?

A Nicotiana glauca contém alcaloides piridínicos, como anabasina, nicotina, anatabina e nornicotina, que agem sobre o sistema nervoso e afetam funções vitais como batimentos cardíacos, respiração e controle muscular. Alguns desses metabólitos podem levar à paralisia respiratória e até à morte.

Segundo o professor de química farmacêutica da PUC Minas, Guilherme Rocha, a planta produz metabólitos primários, necessários para fotossíntese e sustentação, e metabólitos secundários, que atuam na defesa contra predadores ou atração de polinizadores. Esses metabólitos secundários, como os alcaloides, podem ser extremamente tóxicos e interferir diretamente no metabolismo do corpo humano.

Ele também ressalta que, dependendo da quantidade ingerida, da concentração do alcaloide e do peso da pessoa, mesmo pequenas doses podem ser letais. Ao contrário de alguns alimentos, o cozimento ou refogado não destrói os alcaloides, mantendo a planta perigosa mesmo após o preparo.

Além disso, a Nicotiana glauca é muito comum em áreas rurais no Brasil e já causou confusões graves com a couve, incluindo mortes documentadas.

A intoxicação pela Nicotiana glauca ocorre em duas fases: inicialmente, os alcaloides causam uma superestimulação dos músculos e órgãos, levando a taquicardia, hipertensão, náusea, tontura e sudorese intensa. Em seguida, os receptores nervosos entram em fadiga, provocando queda brusca da frequência cardíaca, paralisia muscular e respiratória e, em casos graves, parada cardíaca.

Sintomas de intoxicação 

  • Náuseas e vômitos logo após a ingestão

  • Tontura e sudorese intensa

  • Taquicardia seguida de queda brusca da frequência cardíaca

  • Fraqueza muscular e dificuldade para respirar

  • Perda de consciência e parada cardíaca


A falsa couve pode ser facilmente confundida com a couve comum, mas algumas características ajudam a diferenciá-la. Ao contrário da couve, que cresce de forma mais rasteira, a Nicotiana glauca desenvolve-se como um pequeno arbusto. Além disso, apresenta flores amarelas e partes com fluorescência, características ausentes na couve tradicional. Para garantir a identificação correta, é recomendado que a planta seja examinada por um biólogo ou especialista em farmacognosia.

Casos de intoxicação por Nicotiana glauca já ocorreram no Brasil. Em 2012, em Santa Luzia (MG), um homem morreu e quatro familiares ficaram internados após comerem a planta refogada, confundindo-a com couve. Em 2018, em Pio IX (PI), seis pessoas, incluindo duas crianças, foram hospitalizadas depois de ingerirem suco com folhas da planta; todas receberam alta.

O que fazer em caso de intoxicação? 

Ao perceber sintomas após a ingestão de plantas desconhecidas, é fundamental procurar atendimento médico imediato, levando, se possível, uma amostra da planta para facilitar a identificação. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Patrocínio para mais informações sobre o estado de saúde das vítimas e aguarda posicionamento.

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A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que está instaurado procedimento policial para apurar as circunstâncias do possível envenenamento, segundo a corporação, os levantamentos preliminares indicam a possibilidade de envenenamento acidental, ocorrido durante o preparo do almoço, quando a planta foi confundida com couve. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde para mais informações e aguarda posicionamento.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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