PRISÃO

Golpe do falso advogado: grupo que cometia fraudes é alvo de operação

Operação deflagrada nesta sexta (10/10) mira organização criminosa que se passava por advogados para cometer fraudes eletrônicas em três estados

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Duas pessoas foram presas nesta sexta-feira (10/10) durante operação contra uma organização criminosa que se passava por advogados para cometer fraudes eletrônicas – o conhecido golpe do falso advogado. A operação foi deflagrada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG).

O grupo utilizava nomes de advogados e escritórios de advocacia, por meio de aplicativos de mensagens,  induzindo as vítimas a realizar transferências bancárias sob falsos pretextos.

Além de prisões preventivas, a ação apreendeu três celulares, um notebook e R$14 mil. Mandados de busca e apreensão também estão sendo cumpridos no Ceará e em Santa Catarina, onde os alvos da investigação moram. Ao todo, cinco pessoas são investigadas.

A operação “Exame da Ordem” é do Grupo de Atuação Especial de Combate aos Crimes Cibernéticos (Gaeciber), com o apoio das polícias Civil e Militar de Minas Gerais, dos Ministérios Públicos do Ceará e de Santa Catarina, da Polícia Civil do Ceará e da Polícia Militar de Santa Catarina.

A ação foi autorizada pela 2ª Vara das Garantias da Comarca de Belo Horizonte, que deferiu as medidas cautelares de prisão preventiva das duas pessoas e de busca e apreensão em residências ligadas aos investigados. As apurações continuam sob sigilo.

O promotor de Justiça do MPMG e coordenador do Gaeciber André Salles, faz um alerta à população: "Confira sempre o destinatário da mensagem, confira sempre o 'ConfirmADV', site lançado pela OAB, e também nos próprios portais da OAB os nomes e dados de contato dos advogados cadastrados e evitem fazer Pix solicitados, sempre conferindo antes a informação".

Como funciona o golpe do falso advogado?

No golpe do falso advogado, criminosos acessam informações públicas sobre processos judiciais e entram em contato com as vítimas, fingindo ser parte de um escritório de advocacia ou o próprio advogado do caso.

Os golpistas usam fotos, dados de advogados e informações presentes em processos judiciais para ludibriar pessoas pelo WhatsApp ou por e-mails. Por vezes, também assumem a identidade de funcionários de escritórios de advocacia.

Em seguida, pedem dinheiro fingindo ser adiantamentos em dinheiro para pagamento de custas processuais, liberação de documentos, valores de indenização, dentre outras situações. Segundo a OAB, os criminosos chegam a enviar cópia da ação judicial ou informações precisas a respeito do caso para conferir credibilidade ao argumento.

Ainda segundo a instituição, grande parte das vítimas são idosos e operários, público considerado mais vulnerável. Os pagamentos geralmente são feitos de forma gradativa até chegar a somas altas, como R$ 50 mil.

Diálogo entre entidades

Em entrevista ao Estado de Minas/TV Alterosa, em junho deste ano, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB/MG), Gustavo Chalfun, afirmou que os crimes virtuais vistos atualmente são um grande desafio. De acordo com ele, no primeiro semestre de 2025 as principais vítimas foram advogados e seus clientes.

“Nós fizemos várias campanhas de alerta à população como um todo, e realerto aqui a necessidade de que o cliente atendido por um advogado e advogada tenha certeza de que está dialogando com o seu advogado, com a sua advogada, que não se induza a outros números. Inclusive, o advogado e advogada pode ser certificado no próprio site da OAB”, destacou, na ocasião.

Chalfun reforçou que a OAB/MG foi ao MPMG e à Polícia Civil solicitar que medidas fossem tomadas contra a prática desses golpes, incluindo um reforço nas investigações sobre os criminosos e conscientização da  população. Em janeiro, uma denúncia da OAB/MG foi feita ao MPMG.

“O Conselho Federal da nossa entidade desenvolveu uma ferramenta, a ConfirmADV, especializada para dizer a esse interlocutor que ele está sim falando com um advogado ou com uma advogada. Ele não deve manter um diálogo com alguém que passe a impressão de ser um advogado sem de fato exercer aquela profissão, sem de fato ser o seu advogado que detém a sua procuração para sua defesa em juízo ou fora dele. Por isso estamos alertando a população, conscientizando”, concluiu o presidente.

Para ele, o diálogo entre o Poder Judiciário, o MPMG e a própria sociedade é necessário, assim como o formato da relação entre o advogado e o cliente. Chalfun cita o exemplo em seu escritório que, desde a contratação inicial, estabeleceu uma cláusula para estipular quais são os meios de contato entre o advogado e o cliente. Tendo em vista o aprimoramento dos golpes, utilização de clonagem das vozes dos advogados, também é essencial estabelecer uma nova forma de contato.

“Acredito que isso minimizará a relação e isso precisa ficar dito aos clientes desde o momento inicial da contratação: ‘O único telefone de contato existente entre a minha pessoa e o meu cliente é o número tal’, por exemplo. Isso precisa ser estabelecido como base de uma relação de confiança, porque a nossa atividade é uma atividade eminentemente regida pela confiança”, concluiu.

Casos em Minas

A advogada Mariana Rocha, que atua em Ponte Nova (MG), na Zona da Mata, foi vítima da fraude. Ela conta que o tipo de golpe tem sido recorrente entre os colegas de profissão.

“No meu caso, entrei com uma ação para uma cliente. Depois de ter distribuído essa ação na justiça, um golpista entrou em contato com a minha cliente com um outro número, que não era o meu, mas com a minha foto e se passando por mim. Para se passar por mim informaram todas informações do processo”, relatou.

No entanto, a cliente entrou em contato com a advogada, que esclareceu que se tratava de um golpe, impedindo que ela perdesse dinheiro. Nessa situação, o golpista informou à cliente da advogada que teria um dinheiro para receber, mas precisaria pagar uma taxa.

“Quando [o criminoso] se passou por mim, pedi as pessoas que eu conhecia para bloquear o número e para que meus clientes só respondessem mensagens mandadas do meu número. E se desconfiassem, que ligassem no meu número, que eu repassaria para todos os clientes”, disse.

Por outro lado, Mariana conta que um de seus sócios passou pela mesma situação e o resultado foi diferente. Na ocasião, o cliente do sócio perdeu R$ 4 mil. Depois de saber da tentativa de golpe, a advogada enviou uma denúncia para a OAB e tentou registrar um boletim de ocorrência (BO) pela internet, mas não conseguiu, pois precisava ser presencial, e acabou não fazendo.

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A situação aconteceu há dois meses e, como medida preventiva, ela avisou todos os clientes sobre o mecanismo dos golpistas, para que nenhum deles fosse uma nova vítima.

Como se proteger?

Advogados

  • Defina, desde o primeiro contato, como serão feitas as comunicações entre o escritório cliente;
  • Se viável, inclua no contrato de honorários meios formais de contato, procedimentos para liberação de valores e pagamentos de custas;
  • Divulgue seus canais oficiais de atendimento em contratos, sites e redes sociais;
  • Utilize senhas fortes ative a autenticação em dois fatores em aplicativos e plataformas jurídicas;
  • Monitore acessos suspeitos aos seus processos eletrônicos.

Clientes

  • confirmar qualquer informação de pagamento diretamente com o advogado;
  • não clique em links suspeitos recebidos por e-mail ou mensagem;
  • certifique-se de que o remetente é realmente o advogado, ligando para o número oficial do profissional;
  • verifique o destinatário de qualquer transação financeira e, se houver qualquer dúvida, não conclua a operação;
  • estabeleça um limite diário seguro para transações via Pix.

Em caso de já ter sofrido o golpe, a OAB pede para que os advogados orientem o cliente a registrar um Boletim de Ocorrência, enviar um e-mail para [email protected] e verificar acessos indevidos aos processos eletrônicos.

Para os clientes, a entidade pede para reunir provas (prints de mensagem, números de telefone e comprovantes de transação); registrar um Boletim de Ocorrência; informar o advogado sobre o ocorrido; e comunicar com o banco, para solicitar o ressarcimento.

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