Na fauna dos sobreviventes, cada filhote é uma vitória
Nascimentos de tamanduá-bandeira e outros animais em criatório em Minas atestam bom acolhimento e dão fôlego a espécies ameaçadas, diz especialista
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A reprodução em cativeiro é um dos grandes desafios dos criatórios conservacionistas, por isso o nascimento de mais um filhote de tamanduá-bandeira no Santuário da Onça-Pintada, em 12 de outubro, é considerada uma “vitória” pelo zootecnista Fábio Hosken, especialista em conservação e manejo da fauna silvestre, que presta consultoria para o criatório conservacionista localizado em Presidente Juscelino, em pleno Cerrado, na Região Central de Minas. Já são dois filhotes dessa espécie. O local abriga também um casal de onças e um lobo-guará, todos nascidos lá. Há também a possibilidade de uma tamanduá-mirim abrigada no Santuário estar prenha, o que ainda não foi confirmado.
“Todas essas espécies estão ameaçadas, por isso, é muito importante reproduzir para termos um estoque genético desses animais para que possam participar, futuramente, de programas de reintrodução na natureza para recuperar essas populações, hoje sob risco, evitando seu desaparecimento e colaborando com a recuperação da população em vida livre ”, explica Hosken. Segundo ele, a reprodução é um sinal de que os animais estão vivendo em condições adequadas, já que há uma dificuldade para que isso ocorra.
“É necessário que todas as condições exigidas pelo animal sejam muito bem-atendidas, como por exemplo, nutrição adequada, recintos de qualidade, amplos e com enriquecimento ambiental, que são elementos que componham o habitat natural, para que o animal possa desempenhar seu comportamento. Tudo isso atendido culmina com a reprodução dos animais”, explica o zootecnista.
Segundo ele, muitas vezes o animal não consegue se reproduzir por viver em recintos muito pequenos, inadequados e com nutrição deficiente. No caso do casal de tamanduás-bandeira, Cleiton e Isabel, a reprodução é muito difícil e raramente relatada em cativeiro por causa do comportamento e hábitos dessa espécie.
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“Uma vez por semana, a gente faz uma expedição na região para catar cupinzeiros e formigueiros para dar essa alimentação natural para eles, porque alguns nutrientes fundamentais para os tamanduás só existem nesses insetos e são fundamentais para sua reprodução”.
O nascimento de onças em cativeiro também é difícil de acontecer, explica Hosken, porque é necessário que os animais se entrosem. “Você precisa de um casal compatível, de animais que se aceitem. Só juntar macho e fêmea não significa que eles vão formar um casal em termos de aceitação como parceiros. E caso isso não aconteça, o macho pode atacar a fêmea. E como vamos separar uma briga dessas?”, questiona. Segundo ele, há todo um período de namoro que precede a reprodução e que também tem relação com as condições em que os animais são mantidos. “Por isso, para nós, a palavra é vitória”, destaca.
Segundo ele, esses filhotes podem participar de programas de reintrodução, diferentemente dos outros animais do Santuário que, em sua maioria, não têm condições de retornar à natureza. “E talvez nunca mais tenham”, afirma. “Futuramente, a gente pode fazer um recinto lá no meio da mata, em uma área de reserva, para ir acostumando o animal a se alimentar naturalmente, antes de soltá-lo”.
“ZOO DESIGN”
Outro quesito no Santuário que colabora para a reprodução, conta Hosken, é a condição dos recintos, cujo projeto de construção deve seguir as regras dos órgãos ambientais. Os recintos dos macacos, por exemplo, são enormes, e abrigam espécies ameaçadas de extinção e algumas já tidas até como raras, como o macaco-cuxiú-da-cara-branca, cuja população, que vive na região da Amazônia, está seriamente em risco.
De acordo com Hosken, os recintos dos macacos do Santuário são hoje considerados referência no “zoo design”. Seu tamanho é bem acima do padrão definido pelas regras ambientais e são dotados de equipamentos para a diversão dos animais. Um deles, que abriga os macacos-aranha, tem 23 metros de altura e é hoje o masis alto do Brasil. Eles foram espelhados em um projeto de conservação no México vi sitado pelo casal responsável pelo recinto, Gil Vale e Karine Pantusa. A legislação determina que os recintos para os macacos tenham no mínimo 4m de altura.
Minas Gerais tem nove criatórios conservacionistas, mas somente sete deles estão regularizados, entre eles o Santuário da Onça-Pintada.Outros dois estão em processo de renovação. De acordo com a analista ambiental Danielle Bruni, do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG), esses locais só podem funcionar com a autorização e estão proibidos de receber qualquer animal que não tenha sido encaminhado por órgãos ambientais.
Segundo ela, todos são marcados. No caso das aves, por meio de uma anilha, e dos outros animais, um chip. Todos são cadastrados, e mortes ou nascimentos têm que ser comunicados aos órgão ambientais. “Todo esse cuidado é para tentar minimizar impactos do tráfico de animais, o terceiro maior do mundo, atrás das drogas e das armas”, destaca.
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A maioria dos animais é oriunda do tráfico ou de apreensões por manutençao ilegal desses bichos. A criação dessas espécies não é proibida, mas há regras que devem ser seguidas. Para isso, é preciso adquirir os bichos com nota fiscal de um criador comercial regularizado. O controle é feito pelo IEF.
Apreensões no país
De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no ano passado, 22.287 animais silvestres foram apreendidos pelos órgãos ambientais e encaminhados aos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), responsáveis por receber os bichos e dar uma destinação para eles, que pode ser a soltura em seu habitat natural ou a entrega para um conservatório ou zoológico. E cerca de 16 mil animais silvestres e exóticos foram resgatados pela Polícia Rodoviária Federal, vítimas de atropelamentos, incêndios e transporte ilegal em todo o país.
FIQUE ATENTO
Saiba como lidar com animais silvestres
Ao encontrar um animal em situação de risco, entre em contato com a Polícia Militar de Meio Ambiente, o Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária ou o Centro de Controle de Zoonoses do seu município.
Se for um animal em cativeiro irregular, entregue-o voluntariamente em um dos Centros de Triagem (Cetas) em cidades como Belo Horizonte, Juiz de Fora, Montes Claros e Patos de Minas. A entrega pode ser anônima e não gera penalidades.
Denuncie: Ligue para o 181 (Disque-Denúncia) ou para a Polícia Militar de Meio Ambiente.