Sempre gostei de teatro, de admirar bons atores em cena, aplaudir um belo texto, “entrar” na história tão logo as cortinas se abrem. E ficar encantado quando elas se fecham. Já tive oportunidade de assistir a grandes espetáculos, e alguns ficaram na memória, entre eles “O homem de La Mancha”, com Paulo Autran no papel de Dom Quixote, Bibi Ferreira (Aldonza/Dulcinea) e Grande Otelo (Sancho Pança). Ainda adolescente, fui ver os três “monstros sagrados” no então recém-inaugurado Teatro Adolpho Bloch, no Rio. Tenho me lembrado muito da peça nesses dias, principalmente de Grande Otelo, que, se estivesse vivo, completaria 110 anos no próximo sábado (18).


Mineiro de Uberlândia, cidade onde viveu até os 10 anos, Sebastião Bernardes de Souza Prata (1915-1993), o Grande Otelo, foi dos palcos, incluindo o teatro de revista, do rádio, da televisão e do cinema. Fez inesquecível parceria com Oscarito (1906-1970) no tempo das chanchadas – as comédias populares do cinema brasileiro, em meados do século passado, que misturavam humor, romance, música, com muitas marchinhas lançadas nas telas para fazer sucesso no carnaval.


Em Uberlândia, Grande Otelo é homenageado com um teatro que tem seu nome. O equipamento cultural se encontra fechado para obras, conforme explica a secretária Municipal de Cultura e Turismo, Mônica Debs. Um busto em bronze do artista, antes em espaço público, foi restaurado e ficará numa galeria dentro do teatro, embora sem data de reinauguração.


MACUNAÍMA

Impossível falar do ator sem mencionar uma de suas atuações mais impactantes, Macunaíma, “o herói da nossa gente”, no filme de mesmo nome, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade e baseado na obra de Mário de Andrade. A cena do parto ficou na nossa história e, sem dúvida, é patrimônio do cinema nacional.
Ainda nas telas, Grande Otelo foi um dos destaques dos estúdios Atlântida, quando protagonizou “Moleque Tião”. Estrelou outros sucessos: “Noites cariocas”, “Este mundo é um pandeiro”, “Três vagabundos”, “A dupla do barulho”, “Assalto ao trem pagador”, “O dono da bola” e “Quilombo”.


No teatro, participou de “Um milhão de mulheres”, “Muié macho, sim sinhô”, “Banzo aiê” e “O homem de La Mancha” (1973). Na década de 1950, Otelo trabalhou na TV Tupi e na TV Rio, emissoras na capital fluminense. A partir de 1960, atuou em produções da TV Globo (novelas e o humorístico “Escolinha do Professor Raimundo”).


O mineiro de Uberlândia merece todas as homenagens nesta semana – e sempre. Afinal, não é todo dia que nasce um Grande Otelo. Em 1993, viajou para a França a fim de receber homenagem no Festival dos Três Continentes, realizado na cidade de Nantes. Naquele ano, em 26 de novembro, morreu em Paris.

DOAÇÃO DE IMÓVEL HISTÓRICO VALORIZA...

Bens doados são sempre bem-vindos para enriquecimento do patrimônio cultural. Em São João del-Rei, o Casarão do Embaixador Gastão da Cunha, no Centro Histórico, passa agora à tutela do município. A conquista resulta de longo trabalho técnico e jurídico conduzido pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, em parceria com o corpo jurídico da prefeitura local. Do século 18, o imóvel foi doado pelos herdeiros representados por Simone Gaede. Atitude, sem dúvida, a ser seguida por outros brasileiros em favor da preservação dos conjuntos arquitetônicos de relevância, muitas vezes alvo de ferrenhas disputas familiares e a um passo da ruína.


...PATRIMÔNIO DE SÃO JOÃO DEL-REI

Após ser restaurado, o espaço vai abrigar o Centro Cultural e de Ofícios, “reafirmando o compromisso com a valorização da memória, da identidade e da produção cultural da cidade”, diz o secretário Municipal de Cultura e Turismo de São João del-Rei, Caio Andrade. O próximo passo rumo a esse objetivo será a licitação dos projetos de recuperação do imóvel, viabilizados por meio de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. A iniciativa contou com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Conselho Municipal de Patrimônio, da Procuradoria, da Câmara Municipal e de outros órgãos parceiros. Quem foi o embaixador? Natural de São João del-Rei, Miguel Gastão da Cunha (1863-1927) foi político, jurista e diplomata. Atuou como deputado federal por Minas e embaixador em diversos países, representando o Brasil na Liga das Nações Unidas, que precedeu a ONU.

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PAREDE DA MEMÓRIA

Há 190 anos, Lagoa Santa tinha apenas 60 casas. E foi a esse cenário do interior mineiro que, em 1835, chegou o dinamarquês Peter Wilhem Lund (1801-1880), “o pai da paleontologia brasileira”, que logo se embrenhou por grutas e cavernas da região cárstica. Causou estranhamento à população, claro, por colecionar ossos que encontrava enterrados nas lapas – uma prática que, para ele, significava desvendar e revelar ao mundo científico a pré-história do país. Em Lagoa Santa, dr. Lund, como ficou conhecido, viveu durante 45 anos sem jamais voltar à terra natal. Morou numa casa (foto) doada posteriormente para ser uma unidade de ensino, hoje Escola Municipal Dr. Lund. Natural de Copenhague, ele se formou na universidade local em medicina e letras, cursos que lhe permitiram trabalhar na área de história natural (botânica e zoologia).

MILHO VERDE

O turístico distrito de Milho Verde, no Serro, celebra a entrega da primeira etapa de restauração da Igreja Nossa Senhora dos Prazeres. A obra no templo onde a célebre Chica da Silva foi batizada se tornou possível graças a recursos da Plataforma Semente, dentro do Programa Minas para Sempre, do Ministério Público de Minas Gerais, com execução do Instituto Joaquim Artes e Ofícios. O investimento de R$ 2,3 milhões contemplou estrutura, telhados, forros, alvenarias, cabeamento elétrico, instalação de câmeras de segurança, sensores de fumaça e outros setores essenciais. A próxima etapa, que depende da captação de novos recursos, prevê intervenções em pisos, esquadrias, elementos artísticos integrados, drenagem e paisagismo. O templo é tombado pelo Iepha-MG, que fez o acompanhamento da obra.

ENCONTRO EM TIRADENTES

Será nos dias 7 e 8 de novembro, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes, a 8ª Conferência de Pesquisas Interdisciplinares em História da Arte, Arquitetura e Patrimônio, com o tema “Um diálogo entre as comarcas de Minas Gerais”. O encontro terá a participação de pesquisadores e palestras na sexta-feira (7/11) e visitas guiadas (sábado, 8/11) a monumentos locais. Fazem parte da coordenação: Alisson Silveira, Daniela Ayala, Eduardo Abrantes, Edvaldo Antonio de Melo, Isabelle Capanema, Luiz Cruz, Marcos Luan Barbosa, Mateus de Carvalho Martins, Patrícia Urias, Ramon Santos e Rutiero Carvalho. Inscrições abertas. Mais informações no Instagram @conferenciahistoriadaarte

OLHAR DO OBSERVADOR

O historiador belo-horizontino Marcelo Cedro lança o livro “O olhar do observador: narrativas e montagens nos museus Van Gogh e Kröller-Müller nos Países Baixos” (Editora Intermeios). Segundo o autor, a obra descreve o percurso expográfico de duas instituições que reúnem os maiores acervos de Van Gogh (1853-1890). “O texto convida a uma leitura das narrativas curatoriais por meio dos painéis explicativos e das legendas que acompanham as obras.” À venda na Livraria Jenipapo, na Savassi, em BH, no site da editora (intermeioscultural.com.br) ou diretamente com o autor no email: marcelocedro.pucminas@gmail.com

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