O resgate do corpo do repositor Luiz Gustavo Santiago, de 23 anos, encontrado no fim da manhã desta terça-feira (14/10) em meio a pedras no Ribeirão Arrudas, na divisa entre Belo Horizonte e Sabará, só foi possível com apoio de uma força-tarefa montada por seus amigos e familiares.

Logo após o resgate, David Bruno, lamentou parte do trabalho realizado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (CBMMG) ao longo dos dias em que o amigo de infância estava desaparecido. Para ele, houve negligência por parte da corporação que não deslocou efetivo suficiente para localizar Luiz.

Luiz estava na garupa de uma moto quando ele e um amigo caíram no leito do ribeirão, na Avenida dos Andradas, em Belo Horizonte, na madrugada da última quarta-feira (8/10). Seu amigo, que estava pilotando, foi encontrado no mesmo dia e socorrido por uma Unidade de Suporte Avançado (USA) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A motocicleta em que os dois estavam não caiu no córrego. As circunstâncias da queda não foram informadas.

Ao Estado de Minas, David contou que desde o dia do acidente ele e outros amigos e familiares de Luiz montaram uma força-tarefa para auxiliar nas buscas. O motoboy afirma que o grupo se mobilizou, contratou equipamentos de resgate como binóculos, cordas e drones, e se dividiu em grupos para revezamento.

“Todos os dias nós descemos o rio, todos os dias nós descemos na mata e todos os dias nós temos disponibilizado alguém. A equipe da madrugada de ontem, por volta das 4h30, avistou um corpo boiando próximo a Unidade de Pronto Atendimento Leste, descendo o curso d’água”, relata.

Negligência

Apesar do apoio encontrado na comunidade, David afirma que não houve a mesma recepção por parte dos bombeiros militares escalados para atuar na procura pelo corpo do amigo. Ele afirma que a família chegou a cobrar as equipes e os pediu para que fossem feitas buscas em galerias, por acreditarem que Luiz poderia estar preso em uma delas. No entanto, de acordo com ele, nada foi feito.

“Desde o primeiro dia eles (Corpo de Bombeiros) nos responderam que quando chovesse o corpo ia boiar. Disseram que o corpo fica agarrado e quando chovesse iria boiar. Nós ficamos muito chateados com isso, nós nos arriscamos nas pedras e nas águas em tempo das enchentes levarem a gente”, lamentou David Bruno.

Questionado sobre as alegações da família de Luiz, sobre uma suposta negligência por parte do Corpo de Bombeiros, o tenente Mateus Malheiros afirmou que as equipes empenhadas nas buscas usaram diversas técnicas e estratégias para poder encontrar o corpo da vítima. Ele afirmou que já haviam começado a procurá-lo em um local próximo ao local onde o corpo foi encontrado quando receberam uma chamada informando sobre um possível paradeiro.

“Nós fizemos a varredura dessa área com drone, posteriormente nós viríamos a pé. Porém, os familiares conseguiram visualizar o corpo pela rua mesmo e fizeram o acionamento dos bombeiros. Tivemos bastante dificuldade para içar o corpo. Ficamos ali mais de duas horas para retirada do corpo com segurança do local”, afirmou Malheiros.

Sétimo dia de buscas

Na manhã desta terça-feira (14/10), os militares receberam um chamado que indicava a possibilidade do encontro de um corpo passando no trecho do Ribeirão Arrudas nas proximidades da Avenida Marzagânia, na altura do Bairro Granja de Freitas, na Região Leste da capital, em direção a Sabará (MG), na Grande BH. Às 7h18, o solicitante afirmava que o corpo usava uma roupa similar à de Luiz no momento do acidente.

Minutos antes do encontro do corpo, a reportagem do Estado de Minas acompanhou o sétimo dia de buscas. Em um primeiro momento, foram feitas análises no perímetro por imagem de drone na altura da Rua da Olaria e, como nada havia sido encontrado, os militares seguiram a pé pela margem das águas, no trecho onde o solicitante afirmava que viu o corpo passando.

Com nenhum vestígio encontrado inicialmente, os militares seguiram para a Estação de Tratamento de Esgoto do Arrudas da Copasa, na Rua Seiscentos e Vinte e Nove, no final da Avenida dos Andradas. Momentos depois, a guarnição retornou ao ponto inicial de buscas e localizou Luiz.

A operação foi acompanhada pelo tenente Mateus Malheiros, sargento Weslei de Almeida e sargento Fabíola Vieira, do 1° Batalhão Bombeiro Militar, e passou pela área do ribeirão no perímetro da capital, próximo à estação de tratamento de água da Copasa. Paralelamente a isso, equipes do 3° Batalhão atuavam na área de Sabará. Em toda a margem de caminhada no Ribeirão Arrudas, nada foi encontrado nos primeiros dias de buscas.

Esperança

“Tem que ser hoje”, disse à reportagem Vitória Beatriz Amaral, de 21 anos, companheira de Luiz, horas antes do encontro do corpo. Ela está grávida de seis meses e tem uma filha de 3 anos com ele. “Hoje já são sete dias de buscas pelo Luiz. A gente está aqui procurando e vendo se hoje consegue uma resposta para tudo isso”, afirmou.

Nesta terça-feira, quatro familiares acompanhavam os trabalhos: a companheira Vitória, o irmão Igor, o pai Wesley e uma tia da companheira. Porém, de acordo com Vitória, não são apenas eles que esperavam por respostas. “No sábado (11) e no domingo (12), tínhamos umas 25 pessoas para descer, subir, olhar as matas, olhar as pedras”, disse.

Segundo a família, a roupa descrita no chamado não é igual à roupa que Luiz usava. À reportagem, Vitória contou que a blusa que o jovem usava era preta, tinha o escudo do Atlético e uma estampa que poderia sair com lavagem. O restante da descrição bate com o físico de Luiz. “Falaram que ele era careca e usava bermuda jeans, e isso é verdade”, afirmou.

“A gente não pode desacreditar de nada, porque, se alguém ligou, não é possível que alguém esteja passando trote. Uma situação tão complicada como essa… mas então se a pessoa viu, provavelmente ele [Luiz] vai estar em algum lugar por aqui. A gente precisa achar”, finalizou a jovem.

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“Só que não dá pra falar que não é ele, estamos na esperança… Hoje é o dia que tem que achar, não pode passar de hoje. A gente tá sem dormir direito, o dia inteiro aqui”, disse. Nesta terça-feira, a família encerrou a agonia da não-resposta.

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