O menino de 9 anos que morreu após ser agredido pela mãe, de 24, que confessou o fato, no bairro Flávio marques Lisboa, no Barreiro, em Belo Horizonte, vivia em um ambiente de abandono e agressão. A informação foi confirmada pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (16/10).
A mulher foi presa, também nessa quinta, após confessar ter matado o próprio filho. De acordo com a PC, a mãe afirmou ter agredido a criança com chineladas e tapas na região do abdômen e nas costas e disse que “passou do ponto”. Ela ainda alegou estar sob o efeito de cocaína no momento.
Segundo informações levantadas pela PC e apresentadas em coletiva de imprensa ontem, no dia anterior ao crime, a criança dormiu por volta das 22h reclamando de dor. A mãe relatou que às 6h o filho acordou gritando por socorro, momento em que ela o pegou no colo e ele desmaiou. A mulher alegou ter pedido ajuda de um vizinho para levá-lo ao hospital.
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A criança deu entrada no Hospital Júlia Kubitschek, no bairro Milionários, em 23 de agosto. A mãe e o padrasto disseram aos médicos que a criança havia caído na escola e machucado uma das pernas. A vítima, no entanto, tinha machucados no abdômen, no nariz e ferimentos internos. O menino, segundo relatos dos médicos, morreu assim que chegou na unidade hospitalar, devido a uma hemorragia e uma parada cardiorrespiratória.
No decorrer da investigação, o laudo do hospital apontou que o menino apresentava sangramento nasal, rigidez abdominal e hematomas múltiplos, todos indicativos de morte violenta decorrente de agressões físicas, o que, de acordo com o relatório médico, era incompatível com a versão de queda escolar apresentada pelos responsáveis.
A mãe prestou depoimento em uma delegacia e assumiu que agrediu o filho com chineladas e tapas na região do abdômen e das costas. Ela afirmou que “passou do ponto” e estava sob o efeito de cocaína no momento das agressões. O padrasto relatou que estava em casa, mas não presenciou qualquer agressão. A versão contraditória, segundo a polícia, evidencia tentativa de manipulação dos fatos.
A prisão temporária da mulher foi decretada ontem, pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do 1º Tribunal do Júri Sumariante da Comarca da Capital. O padrasto do menino também foi preso, sem envolvimento com a morte, mas por crime de tráfico de drogas.
Abandono e agressão
Vizinhos e denúncias anônimas informaram que, durante a noite anterior à morte, foi possível ouvir gritos de socorro da criança, e que a mãe e o padrasto seriam usuários de drogas e agrediam com frequência o menino. A mulher é mãe de outro menino, de 6 anos, e de um recém-nascido, de 6 meses, fruto da relação com o padrasto da vítima.
“Temos relatos de que a ação dos dois responsáveis configura abandono de incapaz. Eles deixavam a criança de 9 anos cuidando dos outros dois. Pessoas próximas também disseram que a mãe pedia alimentos para os parentes, porque não dispunham de dinheiro para colocar comida em casa, mas tinham para comprar drogas. Era uma situação de muito abandono”, informou o delegado Evandro Radaelli, em coletiva de imprensa nessa quinta (16/10). Os outros filhos foram abrigados pelo Ministério Público, junto com o Conselho Tutelar.
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Ainda de acordo com o delegado, após a morte da vítima, algumas crianças da escola da vítima contaram à direção que o menino dizia que faltava muito às aulas por sentir muitas dores causadas pela agressões constantes da mãe e do padrasto. Além disso, a PC informou que o casal orientava os filhos a mentir.
Frieza
O delegado também ressaltou que, em nenhum momento, a suspeita se mostrou triste ou arrependida. “Testemunhas que estiveram com ela no cartório no dia da obtenção da certidão de óbito da vítima, relataram que a mãe estava sorridente. É um caso que traz revolta social. Ontem ela também não demonstrou tristeza ou arrependimento, somente quando soube da prisão. Mas, mesmo assim, não foi um comportamento duradouro”, afirmou Radaelli.
Ele disse que a frieza da mãe chamou atenção dos policiais, pela falta de sentimento de uma mãe que havia perdido o filho. Outro ponto destacado pelo delegado foi a demora para procurar atendimento médico. “Uma médica relatou que houve demora na procura por socorro pela família da criança, porque ela já relatava dores no corpo, e apresentava sangramento no nariz, desde o dia 21”, concluiu Evandro.
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A Justiça entendeu que o casal atuou no crime, como autores, coautores ou partícipes, por omissão consciente diante da violência praticada. Por isso, a prisão temporária, no período de 30 dias, tornou-se imprescindível para a persecução penal. Conforme a PC, a mãe tem três prisões em flagrante por tráfico de drogas em Betim nos anos de 2022 e 2023. Já o padrasto foi preso por tráfico de drogas, sem envolvimento na morte da criança. Ainda há diligências em andamento, como o resultado do laudo de necrópsia, para a conclusão do inquérito.