Em consequência dos 53 casos confirmados de intoxicação por metanol em cinco estados brasileiros desde setembro, a venda de bebidas destiladas nos supermercados do país caiu em 9,4%. Em Minas Gerais, onde não foi constatada nenhuma vítima, a queda foi de 8,6%; e na capital mineira, a redução foi ainda maior, de 15,9%, segundo levantamento da Scanntech, empresa de inteligência de dados. No entanto, os estabelecimentos ouvidos pela reportagem garantem que a queda não procede.

No Brasil, o ano começou com alta nas vendas de destilados. Em abril, o crescimento foi de 6,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A partir de maio, entretanto, o movimento se inverteu, mas a forte redução veio em setembro quando os casos de bebidas adulteradas começaram a ser divulgados. O medo dos consumidores se refletiu nas gôndolas dos supermercados, que só em setembro, a queda nacional chegou a 9,4%, considerado o pior índice do período.

Em Minas Gerais, a tendência seguiu o mesmo padrão. O estado registrava estabilidade nas vendas no primeiro semestre, com variações pequenas, mas a partir da divulgação dos casos de metanol em outros estados, o consumo despencou 8,6% nas vendas em setembro.

Na capital mineira, o cenário foi ainda mais negativo. As vendas de destilados caíram em 15,9% só no mês passado.

Supermercados

De acordo com a análise da Scanntech, os efeitos da apreensão e da cobertura jornalística foram imediatos. Em nível nacional, as vendas de destilados despencaram ainda mais nas duas primeiras semanas de outubro: queda de 10,4% na semana de 28 de setembro a 4 de outubro, e de 16,7% no período seguinte (5 a 11 de outubro).

A reportagem entrou em contato com quatro redes de supermercado da capital mineira e duas afirmaram que não houve queda nas vendas. As demais não se pronunciaram até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.

Parou ou não parou?

Morador de Esmeraldas (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o estudante de jornalismo Júlio César Timóteo, de 20 anos, conta que deixou de beber após os casos de metanol. "Antes eu tomava caipirinha em qualquer lugar que tivesse em promoção, sem se preocupar com a procedência. Depois dos casos passei a tomar cerveja e alguns drinks só em lata por ser mais difícil de serem falsificados, e só compro nos supermercados".

O enfermeiro e morador da capital Igor Pires de Oliveira, de 32 anos, também parou de beber até mesmo nos lugares em que tinha confiança. "Após esses casos recentes de metanol fiquei com receio e parei de beber. Agora bebo somente bebidas que não tiveram relatos do uso de metanol".

O analista imobiliário Lucas Wagner de Carvalho Lima, de 26 anos, relata que parou de beber por medo e afirma que só vai voltar depois que as coisas normalizarem. "Eu parei por medo. Pelo fato de não ter informação em tempo real, tenho medo do que posso tomar e onde posso consumir. Não sei o que realmente foi fiscalizado e onde não tem problema. A ideia é ficar sem beber destilados até o governo falar que está liberado novamente".

A servidora pública Luanda Pimenta Bonfim, de 42 anos, e moradora da capital, relata que parou de beber por não confiar na procedência das bebidas. "Parei com tudo que é destilado, pois não acredito em local de confiança. Não tinha costume de comprar em supermercado, tomava caipirinha em bares, churrascarias e restaurantes".

Em contrapartida, o empresário Felipe Oliveira Silva, de 22 anos, relata que segue bebendo normalmente. “Não deixei de beber porque as bebidas falsas sempre existiram. Continuo comprando nos mesmos lugares onde comprava antes, principalmente nos supermercados, pois são mais confiáveis”.

A estudante de publicidade e propaganda Ana Clara Borges, de 21 anos e moradora da capital, conta que também não deixou de consumir bebidas destiladas e segue comprando tanto nos lugares que tem costume quanto os novos. "Não deixei de beber porque nenhum lugar eu tenho total certeza se é de confiança, mas mesmo assim bebo. Continuo comprando nos locais de antes e em locais novos".

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Metanol

O metanol é uma substância usada em solventes e combustíveis, e seu consumo, mesmo em pequenas quantidades, pode causar cegueira, falência de órgãos e até a morte. Nos últimos dias, autoridades sanitárias e polícias civis em vários estados deflagraram operações para apreender bebidas adulteradas com o composto, o que gerou ampla repercussão nas redes sociais e nas mídias locais.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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