Médica indiciada por sequestro de bebê é presa por homicídio
Detida em Goiás, neurologista que já responde por rapto de recém-nascida também teria comandado o assassinato de farmacêutica para ficar com a filha da vítima
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A médica neurologista Cláudia Soares Alves, de 42 anos, indiciada pelos crimes de falsidade ideológica e tráfico de pessoas no inquérito que investigou o sequestro de uma recém-nascida no Hospital das Clínicas de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, na noite de 22 de julho de 2024, pode responder também por homicídio. Trata-se do assassinato da farmacêutica Renata Bocatto Derani, em 2020, na mesma cidade.
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A neurologista teria participado da preparação e da execução do crime, em parceria com dois homens. No centro da trama, a mesma obsessão por ter uma filha que teria motivado o sequestro da bebê, apontam as investigações. Segundo a polícia, Cláudia mantinha em casa um quarto decorado, com várias roupas de criança e um berço contendo uma bebê reborn, o que seria um sinal dessa obsessão.
A neurologista, que respondia em liberdade pelos crimes relacionados ao sequestro, voltou a ser presa ontem em Goiás, suspeita de participar do assassinato da farmacêutica, morta a tiros há cinco anos quando chegava ao local de trabalho, às7h. Além de Cláudia, outros dois homens de Itumbiara, na região sul do estado do Centro-Oeste brasileiro, foram presos de forma temporária. Essas detenções podem ser prorrogadas por mais 30 dias e convertidas em prisão preventiva.
Segundo o delegado Eduardo Leal,que a médica havia se envolvido com o ex-marido da vítima. O ex-casal tinha uma filha, e a investigada é suspeita de ter tentado tirar o poder familiar da mulher para assumir a maternidade da criança. A mãe havia proibido o pai de ter acesso à criança enquanto estivesse com Cláudia, o que levou à separação dos dois.
"A Cláudia certamente entendeu que ceifando a vida da vítima seria mais fácil para ela conseguir assumir esse poder familiar. Ficou apurado que ela contou com o apoio do vizinho e do filho (dele)", destacou Eduardo Leal, detalhou.
Inquérito
O inquérito sobre o homicídio será conduzido conjuntamente pela Polícia Civil de Minas Gerais, por meio da Delegacia de Uberlândia, e a Polícia Civil de Goiás. O delegado Carlos Fernandes, que participa das investigações do sequestro do recém-nascido em Minas Gerais, também deve assumir esse caso.
Os policiais começaram a investigar o homicídio da farmacêutica a partir da identificação de uma motocicleta com placa adulterada utilizada no crime. Esse mesmo veículo teria sido usado anteriormente por pessoas ligadas à médica suspeita. As apurações apontaram que dois dos investigados, que são de Goiás, estiveram em Uberlândia no dia do crime e apresentaram um álibi, que ficou comprovado ser falso.
A partir das provas reunidas, a Polícia Civil representou pelas prisões temporárias e pelas buscas e apreensões, deferidas pela Justiça de Uberlândia. As ordens judiciais foram cumpridas em Itumbiara (GO). Os presos foram encaminhados ao sistema prisional, onde permanecerão à disposição da Justiça.Os dois supostos comparas de Cláudia no assassinato da farmacêutica serão ouvidos, assim com a médica. Ainda não foi definida uma data para os interrogatórios.
Rapto e indiciamento
Em 6 de agosto de 2024, Cláudia Soares Alves foi indiciada por tráfico de pessoas e falsidade ideológica no inquérito que apurou o sequestro de uma recém-nascida na maternidade do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, na noite de 22 de julho do ano passado. A médica foi presa em flagrante poucas horas depois com a criança, em Itumbiara (GO).
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O delegado Carlos Fernandes diz que o sequestro do bebê foi um ato planejado, uma vez que Cláudia tinha tudo preparado para receber a criança em sua casa. “Lá encontramos um enxoval, carrinho de bebê, fraldas, leite, por isso, acreditamos que tudo tinha sido planejado”, afirma o delegado. Uma bebê reborn compunha a cena, em um berço.
De acordo com a Polícia, inicialmente a médica foi autuada por sequestro qualificado, mas ao longo das investigações surgiram novas evidências que apontaram para os outros crimes. Conforme as investigações, a médica teria premeditado a adoção ilegal de uma criança e entrado em contato com pessoas de outros estados em busca de famílias em situação vulnerável com crianças recém-nascidas para serem adotadas fora do trâmite legal. Nessas buscas, conforme a Polícia, ela teria utilizado dados falsos.
Os levantamentos revelaram ainda que Cláudia havia se inscrito no Cadastro Nacional de Adoção e conseguido uma avaliação positiva no processo de aptidão psicológica, que teria utilizado uma documentação fornecida por ela. A médica também teria mentido para familiares e amigos dizendo que estava grávida e chegou a adquirir um enxoval para o bebê.
Como foi
No dia do sequestro, Cláudia teria utilizado o crachá para entrar no hospital se passando por funcionária, foi até a maternidade e abordou um casal. Ela se apresentou como pediatra e examinou a mãe e a recém-nascida. E disse aos pais que levaria o bebê para ser amamentada. A médica teria colocado a criança dentro de uma mochila e saiu do hospital. No próprio carro, seguiu para Itumbiara, cerca de 134 quilômetros de Uberlândia. Imagens de câmeras de segurança ajudaram as polícias civis de Minas e de Goiás a localizar a médica. A criança foi resgatada e devolvida aos pais.
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Cláudia Soares foi presa preventivamente em um presídio em Goiás. A defesa alega que a médica sofre de transtornos mentais e que faz tratamento. E no dia do sequestro ela teria sofrido um surto psicótico por não ter tomado a medicação. Conforme a legislação brasileira, a pena por tráfico de pessoas pode chegar a oito anos de prisão e por falsidade ideológica, a cinco. (Com agências)