BELO HORIZONTE

Violência brutal na Savassi: tudo o que se sabe da morte de mulher trans

Dois homens já foram qualificados como suspeitos, mas seguem em liberdade. O bar Rei do Pastel se pronunciou pela primeira vez nesta sexta-feira (14/11)

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Alice Martins Alves, mulher transexual de 33 anos, morta em decorrência de agressões sofridas no dia 23 de outubro, depois de deixar um bar na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, pode ter sido vítima de transfobia. A conclusão, ainda preliminar, é da Polícia Civil, que concedeu coletiva à imprensa nesta sexta-feira (14/11).

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Dois homens já foram qualificados como suspeitos, mas seguem em liberdade. O bar Rei do Pastel viu seu perfil nas redes sociais ser inundado por críticas, já que os suspeitos das agressões são funcionários do estabelecimento. Eles teriam seguido Alice e a acusado de não pagar a conta. Por essa razão, ela teria sido brutalmente espancada.

No entanto, para muito além de uma dívida de R$ 22, os investigadores do caso avaliam que a intensidade da violência aponta para crime de ódio em decorrência da sexualidade e da identidade de gênero da vítima. Antes mesmo de a Polícia Civil dizer, o pai dela, Edson Alves Pereira, declarou aos prantos à imprensa no enterro da filha: “Será que um homossexual não tem direito a viver?

A morte de Alice: cronologia

23 de outubro | Alice sai de um bar no cruzamento da Rua Sergipe com a Avenida Getúlio Vargas. Após atravessar a via, em frente a outro bar, localizado na esquina das avenidas do Contorno com Getúlio Vargas, a mulher foi atacada pelos suspeitos. Alice perdeu a consciência e foi socorrida pelo Samu, sendo encaminhada à UPA Centro-Sul.

2 de novembro | Alice é levada de ambulância para o pronto atendimento da Unimed, em Contagem, onde exames apontaram fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo. Segundo o pai, ela passou os dias seguintes debilitada e com dores abdominais intensas.

5 de novembro | Alice registra um boletim de ocorrência. A mulher afirma não conhecer quem a agrediu e relata ter sido espancada de forma inesperada, sem motivo aparente.

8 de novembro | Médicos identificam uma perfuração no intestino, possivelmente causada por uma das costelas quebradas. Alice é submetida a uma cirurgia de emergência.

9 de novembro | Alice morre em decorrência de uma infecção generalizada.

10 de novembro | “Será que um homossexual não tem direito a viver?”. Pai de Alice se emociona ao falar com a imprensa durante o enterro da filha.

“Perdi uma grande amiga, parceira, minha companheira de assistir filmes e tomar uma cervejinha em casa”, declara. Eles moravam juntos no Bairro Betânia. O pai afirma que esteve no local do crime a fim de tentar imagens, mas ninguém forneceu nada.

“Três caras estavam esperando por ela. Agrediram violentamente. Quebrou o nariz, várias costelas, e parece que pisaram nas pernas dela, que ficaram roxas. Foi socorrida pelo Samu, não fizeram exames como radiografia ou tomografia. Ela foi encaminhada para a UPA Centro-Sul e em seguida chamou um uber e foi para a casa.”

13 de novembro | O Estado de Minas obtém acesso a áudios apontando que os responsáveis pelo ataque seriam funcionários de um bar na Savassi, o Rei do Pastel. Nas mensagens, um trabalhador do espaço relata o que teria ocorrido.

"Toda vez que ela chegava, Zé, a gente podia vender cerveja pra ela, e ela pagava na mesma hora, entendeu? Não podia deixar ela pagar no final, que ela era muito doida e ia embora sem pagar. Aí, dessa vez, ela saiu sem pagar. Aí, os meninos [funcionários do local] foram atrás e bateram até ela quase morrer. Aí morreu, bota fé?”, aponta trecho dos áudios recebidos pelo EM.

14 de novembro | Polícia Civil concede entrevista coletiva à imprensa. Veja as principais informações divulgadas:

  • Os dois suspeitos de cometer o crime foram motivados por uma dívida de R$ 22, mas a intensidade das agressões pode ter sido gerada pelo preconceito.
  • Alice era frequentadora do estabelecimento e relatou à polícia que sentia olhares diferentes, de caráter preconceituoso, quando ia ao bar.
  • Delegada responsável pelo caso, Iara França pontua que a vítima era uma pessoa tranquila, formada em estética e sem nenhum prontuário criminal. Segundo ela, era comum que clientes assíduos saíssem sem pagar a conta e retornassem em outro momento para quitar a dívida, prática realizada também por Alice.

“Ela já teria ido ao local e posteriormente se esquecido de pagar a conta devido ao adiantado da hora, ou em razão do consumo de bebida, e ela retornava ao local e quitava a conta. Então, nunca havia tido nenhum problema (...)”.

  • A vítima foi perseguida por dois funcionários. Os homens suspeitos, já identificados e investigados, foram atrás da mulher e, em local mais afastado, a intimidaram. Eles questionaram sobre a conta e ela afirmou ter pagado. Como ela estava sob efeito de bebida alcoólica, pode ter se confundido. A resposta não foi bem vista, e os suspeitos começaram as agressões.
  • A violência somente cessou porque um motociclista parou e interveio na situação. Ele também foi ameaçado por um desses agressores, mas mesmo assim permaneceu no local. A polícia suspeita que a intenção era matar Alice ali mesmo. 
  • Alice relatou aos policiais que demorou a procurar a unidade porque sentia medo dos suspeitos e também por ter ficado envergonhada. 

Nesta sexta-feira, depois de receber diversos comentários em suas redes sociais, o bar Rei do Pastel, com sete unidades em Belo Horizonte, publicou uma nota afirmando que está colaborando com as investigações da Polícia Civil.

Amigos e familiares de Alice Martins vão prestar uma homenagem a ela neste sábado (15/11), em uma missa de sétimo dia.

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 *Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos

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