EM BELO HORIZONTE

Exposição Retratistas do Morro em BH reflete sobre memória nas favelas

Com seis fotos colocadas em fachadas de imóveis no Aglomerado da Serra, mostra conta histórias que muitas vezes ficam fora de livros e museus

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“É uma forma de refletir sobre a história das imagens a partir do olhar dos fotógrafos que trabalharam e moraram nos seus próprios territórios, fotografando o dia a dia dos moradores das suas comunidades. É uma história que pertence à favela contada pelos próprios moradores”. É dessa maneira que Guilherme Cunha, artista e idealizador da exposição, descreve a mostra "Retratistas do Morro – Território de Memórias", inaugurada no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 20 de dezembro.

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A exibição celebra dez anos de Retratistas do Morro, completados em 2025, e propõe uma reflexão sobre a construção do imaginário das favelas brasileiras a partir do Aglomerado da Serra, onde o projeto nasceu. Com seis fotografias em tamanho outdoor colocadas em fachadas de imóveis, a exposição conta histórias que muitas vezes ficam fora de livros, museus e exposições.  

“É uma potência nacional que ficou obstruída, invisibilizada, forçosamente invisibilizada, impedida de entrar nas instituições, impedida de circular no imaginário da população brasileira por uma questão de segregação, por um racismo estrutural no Brasil”, afirma Guilherme Cunha.

Por meio dos tamanhos escolhidos para revelação das fotografias expostas, com alturas entre nove e quatro metros, o Retratistas do Morro faz um apelo: não tem como ignorar as histórias, memórias, arte e vivências da favela.

Nada sobre nós, sem nós

“As imagens que estão nas instituições, sejam privadas ou públicas, são imagens que vieram de terceiros, de outras fontes, e não das fontes originais que são os próprios artistas da comunidade”, relata Guilherme Cunha.

O Retratistas do Morro atesta que as histórias das favelas devem ser contadas pelos próprios moradores, como João Mendes e Afonso Pimenta, autores das fotografias em exibição a céu aberto. O projeto defende esse contexto é importante para que o imaginário sobre as periferias seja fidedigno à realidade e se afaste dos estereótipos atribuídos a elas.

As fotografias 

“Como essa foi a primeira exposição na comunidade, a gente trabalhou a escolha a partir da história das imagens, da conexão da história de vida daquela pessoa com o lugar onde a foto está instalada”, explica Guilherme. A fotografia da galeria 1, por exemplo, retrata o já falecido Adaílson Pereira da Silva no Baile Soul do DCE (Diretório Central dos Estudantes) e foi instalada na entrada do beco para a casa dele, onde hoje, em frente, está localizada a escola infantil onde a neta dele estuda.

Assim como a galeria 1, a fotografia 2 foi feita por Afonso Pimenta e traz a memória dos bailes dos anos 80. No retrato da segunda galeria, está Elana dos Santos, no Baile do Italiana, em 1985.  

Tirada por João Mendes, a imagem da terceira galeria mostra Sônia Cristina da Silva, que na época tinha 19 anos e precisava de uma foto para fazer os primeiros documentos, pois havia conseguido um trabalho de carteira assinada como balconista. Atualmente, com 65 anos, ela foi à inauguração da exposição.

“Toda vez que alguém fala dessa foto, me arrepio dos pés da cabeça. Pensa em uma coisa que me impactou muito”, afirma Sônia, que mora no Aglomerado da Serra desde a época em que a foto foi tirada. Ela conta que a fotografia traz lembranças de uma época muito boa da vida e que tem orgulho de apontar para o mural e dizer que "é ela".

Na foto exposta, Sônia Cristina da Silva em 1979, com 19 anos. Na frente da fachada, ela aos 65 anos
Na foto exposta, Sônia Cristina da Silva em 1979, com 19 anos. Na frente da fachada, ela aos 65 anos Tulio Santos/EM/D.A. Press. Brasil. Belo Horizonte - MG

Na foto da galeria 4, de Afonso Pimenta, está registrado o aniversário de seis anos de Renata Gonçalves dos Santos, que atualmente destaca a simplicidade representada na foto. Na quinta galeria, está uma das tradicionais fotos de crianças de beca, de João Mendes. 

Na sexta e última galeria, está João Cardoso dos Santos, em 1970. “Tirei essa foto para mandar para minha namorada, hoje minha esposa. A gente se via só em fins de semana, e eu mandava foto por correio, era uma foto tipo 'carta'", relembra. O registro foi feito por João Mendes no estúdio Foto Mendes. As galerias ficarão expostas até dezembro de 2026.

Retratistas do Morro 

Guilherme conta que o Retratistas do Morro surgiu a partir de uma conversa realizada no galpão da Associação Espírita Christopher Smith na Vila Santana do Cafezal, parte do Aglomerado da Serra. Na ocasião, dona Ana Martins de Oliveira mostrou às pessoas reunidas, dentre elas, Guilherme, o acervo dela de monóculos fotográficos, o qual chamou de “meus tesouros”. 

Os retratos haviam sido tirados por fotógrafos que percorriam a Serra, desde a década de 1960, registrando o dia a dia de moradores da comunidade. Uma das imagens que chamaram a atenção de Guilherme foi a foto do marido de dona Ana comendo uma marmita em um prato de alumínio e jogando sinuca com os amigos no bar que ele tinha debaixo da casa deles.

 Na foto, os integrantes do projeto Retratistas do Morro, João Mendes, Afonso Pimenta, Dona Ana Martins de Oliveira, e Guilherme Cunha
Na foto, os integrantes do projeto Retratistas do Morro, João Mendes, Afonso Pimenta, Dona Ana Martins de Oliveira, e Guilherme Cunha Tulio Santos/EM/D.A. Press. Brasil. Belo Horizonte - MG

“Nunca tinha visto em nenhum livro de fotografia, em nenhuma exposição, nada meramente parecido com aquela imagem. Então, a gente entendeu que tinha algo ali que representava a história da fotografia brasileira, mas que tinha sido deixada fora dos ambientes de circulação de imagem, das instituições”, relembra Guilherme. Foi nessa conversa com dona Ana que o artista sentiu o que descreve como epifania. 

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Além de Guilherme Cunha, os fotógrafos João Mendes e Afonso Pimenta e a madrinha Dona Ana Martins, o Retratistas do Morro é composto pela produtora cultural Kelly Cristina. 

Onde as fotos estão?

  • Galeria 1: Adaílson Pereira da Silva no Baile Soul do DCE, de Afonso Pimenta: Rua Jefferson Coelho da Silva, 1089, Marçola - Praça do Cardoso
  • Galeria 2: Elana dos Santos no Baile da Italiana, de Afonso Pimenta: Rua Jefferson Coelho da Silva, 1130 - Praça do Cardoso
  • Galeria 3: Sônia Cristina da Silva, de João Mendes: Rua Jefferson Coelho da Silva, 1130 - Praça do Cardoso
  • Galeria 4: Aniversário de 6 anos da Renatinha, de Afonso Pimenta: Depósito do Paulo - Rua Serenata, 46
  • Galeria 5: Série Becas, de João Mendes: Rua Binário, 245, Santana do Cafezal
  • Galeria 6: João Cardoso dos Santos, de João Mendes: Rua Binário, 254, Santana do Cafezal

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