Por que a presidente do Peru, Dina Boluarte, foi afastada do cargo em meio a onda de violência no país
O Peru vive uma uma onda de violência causada por gangues que praticam extorsão — com destaque para um recente ataque a uma banda durante um show.
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O Congresso do Peru aprovou a destituição de Dina Boluarte do cargo de presidente da República na madrugada desta sexta-feira (10/10)
Os parlamentares haviam convocado a chefe de Estado para apresentar sua defesa antes da votação, mas Boluarte se recusou, ao considerar o processo "inconstitucional".
"É simplesmente uma violação de qualquer procedimento. Não vamos validá-lo!", disse Juan Carlos Portugal, um dos advogados da presidente.
Após esperar 20 minutos pela presidente e constatar sua ausência, os parlamentares decidiram votar, argumentando que, após um dia de debates, não havia mais o que discutir. A destituição foi aprovada por unanimidade, com 118 votos a favor, nenhum contra e nenhuma abstenção.
O Peru vive uma uma onda de violência causada por gangues que praticam extorsão — com destaque para um recente ataque a uma banda durante um show.
O chefe do Congresso, José Jerí, assumiu o cargo por sucessão constitucional, após a rejeição de uma moção de censura contra a mesa diretiva que presidia.
"Devemos declarar guerra ao crime. Os inimigos são as quadrilhas nas ruas", disse logo após vestir a faixa presidencial, prometendo liderar um governo de reconciliação.
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Jerí comandará o país até as próximas eleições, previstas para abril de 2026. A posse do novo presidente está marcada para 28 de julho do mesmo ano.

Destituição relâmpago
Parlamentares de várias bancadas apresentaram quatro moções de vacância por "incapacidade moral permanente" da presidente Dina Boluarte. Todas foram aprovadas por ampla maioria com o apoio de partidos de direita e do fujimorismo, que a havia apoiado anteriormente.
O processo de destituição começou na manhã de quinta-feira (09/10), por iniciativa da bancada do Renovação Popular (Renovación Popular), liderada pelo prefeito de Lima, o ultraconservador Rafael López Aliaga, conhecido como Porky.
As moções de vacância foram apresentadas em meio a uma crise de violência e criminalidade no país andino, um dia depois de um atentado contra a popular banda de cúmbia Agua Marina, durante um show em um recinto militar no distrito de Chorrillos, em Lima.
Quatro integrantes do grupo foram baleados no tórax e na perna.
Diversas forças políticas vinham cobrando do governo uma resposta à "impunidade" com que atuam as quadrilhas de extorsão no país.
Propostas anteriores de vacância haviam sido rejeitadas graças ao apoio de partidos conservadores e alguns aliados de esquerda. Desta vez, porém, o afastamento de Boluarte contou com o respaldo de siglas influentes, como o Força Popular (Fuerza Popular), da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori, e o Renovação Popular (Renovación Popular), de López Aliaga, atual prefeito de Lima.
Ambos são apontados como possíveis candidatos às eleições de 2026 e líderes nas pesquisas.
"A extorsão e a criminalidade cresceram, mas ela [a presidente] continua vivendo em uma fantasia. Essa presidente merece ser destituída, merece ser punida", disse a deputada conservadora Norma Yarrow, durante o debate que antecedeu a votação da destituição.
Boluarte assumiu o cargo em 7 de dezembro de 2022, após a destituição e prisão de Pedro Castillo, acusado de tentativa de golpe de Estado.
Desde 2018, o Peru já teve seis presidentes, todos afastados ou renunciantes. Três ex-mandatários estão presos por corrupção ou abuso de poder.
Ataque que agravou a crise
O ataque ao grupo musical Agua Marina ocorreu na noite de quarta-feira (08/10), durante um show com várias bandas e artistas no Círculo Militar de Chorrillos, em Lima.
Quando os integrantes da banda estavam no palco, uma rajada de tiros interrompeu a apresentação.
Segundo relataram testemunhas à imprensa peruana, muitos espectadores confundiram inicialmente o barulho dos disparos com o de um curto-circuito.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que um dos músicos, ferido, é socorrido no palco, enquanto o grupo deixa o local em meio à confusão. O público se jogou no chão e aguardou para deixar o recinto.
De acordo com o general Felipe Monroy, da Polícia Nacional do Peru, as primeiras investigações indicam que o ataque foi cometido por dois homens em uma motocicleta, que atiraram em movimento do lado de fora do local.
A polícia recolheu 27 cápsulas, aparentemente de pistola 9 mm Parabellum.
O médico Ricardo Villarán, do Hospital Nacional Guillermo Almenara, informou que César More e Wilson Ruiz, integrantes do grupo, estão internados, mas em condição estável e sem risco de morte.
O Hospital de Emergências Casimiro Ulloa divulgou nota dizendo ter atendido um homem de 50 anos com ferimento leve por arma de fogo, já liberado.

A polícia informou que reforçou a segurança das famílias dos integrantes do grupo musical atacado e ativou uma operação especial em Lima, chamada Plano Cerco, para localizar os autores do ataque.
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Embora a investigação esteja pendente para confirmar os motivos do ataque, tudo indica que o grupo está sendo alvo de gangues criminosas de extorsão que proliferaram no Peru nos últimos anos.
Pesquisas mostram que o crime se tornou uma das principais preocupações dos cidadãos peruanos, e a extorsão de empresas e negócios se tornou um dos tópicos de conversa mais comuns.
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