Formada pela UFMG, atua no jornalismo desde 2014 e tem experiência como editora e repórter. Trabalhou na Rádio UFMG e na Faculdade de Medicina da UFMG. Faz parte da editoria de Distribuição de Conteúdo / Redes Sociais do Estado de Minas desde 2022
Maria Solange Amorim comemora conquista da formatura crédito: Instagram
Há cinco anos, as pessoas não sabiam quem era Maria Solange Amorim. Ela viralizou apenas como uma usuária de drogas que dançou “Holiday”, de Madonna, em um bar de Manaus, no Amazonas. As imagens chegaram até à Rainha do Pop, que publicou em seu perfil nas redes sociais o vídeo de Maria dançando. Foi aí que a vida dela mudou.
Nesta semana, aos 55 anos, ela se formou no ensino médio pelo programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Guarulhos, na Grande São Paulo, e agora tem um novo objetivo: prestar o Enem e cursar psicologia. O momento foi celebrado com orgulho pela mulher que superou mais de três décadas de dependência química.
Em entrevista ao g1, Maria resumiu a conquista com a mesma força que marcou sua história de recomeço. "Era um sonho de adolescência. E hoje, aos 55 anos, posso afirmar que tudo é possível quando se corre atrás", disse.
Hoje trabalhando como cuidadora de crianças e reabilitada há quase cinco anos, ela afirma ter reencontrado sua dignidade. "Com humildade, honestidade e fé, a vida flui. Foram 4 anos, 11 meses e 22 dias de sobriedade. E com a permissão de Jeová Deus, daqui a cinco anos vou pegar meu segundo canudo, o de psicologia”, sonha.
Reconstrução
Em 2024, Maria foi convidada para assistir ao show de Madonna no Rio de Janeiro, onde dançou novamente a canção que marcou sua vida. A primeira vez, em 2020, foi num bar manauara, em meio ao luto pela morte do filho Pedro Paulo. Foi ali que foi gravado o vídeo famoso.
"Aquela dança era a minha dor. Uma dedicação ao meu filho. Eu precisava extravasar, e foi através da música", lembrou. O filho, também usuário de drogas, havia sido assassinado. Maria nunca chegou a velá-lo, mas encontrou na arte uma forma de lidar com o luto.
Com a repercussão, um grupo de voluntários criou uma corrente de solidariedade. O projeto Parceiros Brilhantes, de Manaus, ofereceu ajuda. Maria foi internada em uma clínica de reabilitação no interior de São Paulo, onde passou oito meses em tratamento. Também recebeu acompanhamento odontológico, recuperou o contato com parte da família e ganhou oportunidades de recomeço.
A história de Maria tem passagens marcantes. Durante 32 anos, ela viveu sob o impacto do vício em drogas, atravessando períodos de instabilidade e atuação como "mula" do tráfico — transportando entorpecentes de Fortaleza a Manaus. Na última viagem, decidiu ficar na região Norte, onde sua vida se desestabilizou de vez.
Semanas antes de viajar ao Brasil para show no Rio de Janeiro, em maio de 2024, Madonna postou um vídeo no TikTok com fundo musical de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Reprodução do TikTok @madonna
A postagem, que bombou entre os seguidores brasileiros da estrela do pop, trazia versão instrumental de “A Morte do Vaqueiro”, composição do artista pernambucano em parceria com Nelson Barbalho. O Flipar mostrou na época a vida e obra de Luiz Gonzaga. Relembre agora esse genial compositor.
Reprodução do TikTok @madonna
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu no dia 13 de dezembro de 1912 em Exu, município do sertão de Pernambuco, na divisa com o Ceará. A data foi batizada “Dia Nacional do Forró” em homenagem ao artista nordestino.
Luiz Gonzaga - Flickr Renand Zovka
Seu pai, Januário dos Santos, foi um sanfoneiro muito famoso em Exu. Ele é personagem da canção “Respeita Januário”, uma de muitas parcerias de Luiz Gonzaga com o advogado cearense Humberto Teixeira.
Flickr luizgonzagacsc
É considerado uma das personalidades artísticas brasileiras mais importantes por ter difundido a cultura nordestina pelo país. Além de Humberto Teixeira, outro fecundo parceiro de Luiz Gonzaga foi o poeta Zé Dantas.
Flickr Prefeitura de Belo Horizonte
A sua figura de gibão, chapéu de couro e sanfona tornou-se famosa para além dos estados do nordeste, conquistando popularidade nacional.
Flickr Arquivo Nacional
Em meio século de carreira, o Rei do Baião, como ficou conhecido, construiu uma discografia de 44 álbuns e mais de 50 compactos.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Luiz Gonzaga é considerado o criador do formato de trio sanfona-zabumba-triângulo que forjou o gênero musical baião, um dos mais importantes do país.
Flickr Arquivo Nacional
De acordo com pesquisadores da música brasileira, antes de Luiz Gonzaga o forró não tinha uma padronização. Alguns grupos utilizavam instrumentos como o melê (artesanal) e o pandeiro, hoje muito mais vinculado ao samba.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Após deixar o sertão do Cariri e servir o exército, Luiz Gonzaga migrou para o sudeste e iniciou carreira artística no início dos anos 40.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Foi nessa época que lançou seus primeiros discos em 78 rotações, inicialmente instrumentais. Mais tarde, passou às gravações em que também cantava.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
No dia 3 de março de 1947 lançou “Asa Branca”, canção que se tornaria um hino do homem sertanejo. Outra parceria com Humberto Teixeira, é uma das composições mais regravadas da história da música popular brasileira.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
“Asa Branca” descreve o drama da seca no Nordeste, que leva os habitantes a deixarem a região em busca de condições melhores. O pássaro que dá título à canção simboliza as dificuldades locais ao também abandonar o sertão.
Diogo Sergio/Wikimedia Commons
O sanfoneiro é criador de outros clássico do cancioneiro nacional, como “O Xote das Meninas”, “A Vida de Viajante”, “”Olha pro Céu”, “Que nem Jiló”, “Vem Morena” e “A Morte do Vaqueiro”, canção que Madonna utilizou como trilha de sua postagem no TikTok.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Composições de Luiz Gonzaga são trilha essencial das festas de São João, fazendo com que o músico reine nos chamados arraiais.
Divulgação
Luiz Gonzaga foi influência decisiva na carreira de importantes músicos do Brasil, especialmente nordestinos, como Dominguinhos, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Alceu Valença e Elba Ramalho.
Luiz Gonzaga - Flickr luizgonzagacsc
O músico era pai de criação do também consagrado compositor e cantor Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior), morto em acidente automobilístico em 1991, aos 45 anos.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
A relação conturbada entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha foi tema do livro “Gonzaguinha e Gonzagão”, da jornalista Regina Echeverria. A obra inspirou o roteiro do filme “Gonzaga: de Pai para Filho” (2012), dirigido por Breno Silveira. Divulgação
Luiz Gonzaga, conhecido também como Gonzagão, viveu no Rio de Janeiro entre o fim dos anos 30 até 1980, quando decidiu retornar para Exu. Ele morreu em 2 de agosto de 1989, aos 76 anos de idade, em um hospital de Pernambuco.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Em 2022, por ocasião do seu centenário de nascimento, Luiz Gonzaga recebeu em memória o título Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Rural de Pernambuco por ter sido um “autêntico representante da cultura nordestina”.
Reprodução do Instagram @luizgonzagarei
Ela pagava R$ 30 por noite para viver com o filho em um hotel onde moravam outros dependentes químicos. Mesmo sem ter vivido em situação de rua, enfrentou o abandono e a distância da família por três décadas. "Teve gente que chorou a minha morte. Foram muitos anos sem contato."
Novos sonhos
A reconciliação com os familiares veio apenas em 2021, quando passou a viver com uma irmã em Fortaleza. Pouco depois, voltou a Manaus para uma oportunidade de trabalho, mas acabou retornando a São Paulo com a ajuda de amigos. Desde então, recomeçou a vida em Guarulhos.
Hoje, Maria sonha alto. Quer transformar sua experiência em ferramenta de acolhimento para outras pessoas. "Meu conhecimento vem da vivência. Quero estudar, quero ajudar. Tudo o que vivi me preparou para isso”, afirmou.