
O sinal de “pare” nunca funcionou na vida do motorista aposentado Orlando Alves de Melo, de 82 anos, a n�o ser quando o vermelho do sem�foro se acende no tr�nsito. No mais, ele segue tranquilo sua viagem pela vida, cuidando da sa�de, da fam�lia e, principalmente, da educa��o. Quando n�o est� correndo na orla da Lagoa da Pampulha ou curtindo a casa no Bairro C�u Azul, na regi�o, Orlando prega os olhos nos livros, sem perder as aulas do programa Educa��o de Jovens e Adultos (EJA), pois se prepara, confiante, para a realiza��o de um sonho: falar ingl�s e espanhol. No Dia Mundial do Idoso, comemorado hoje, Orlando celebra seu tempo, certo de que, com o estudo, portas se abrem para a luz do conhecimento entrar e espantar o isolamento.
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), h� 33,3 milh�es de pessoas com 60 anos ou mais, sendo 3,5 milh�es (perto de 10%) em Minas Gerais. Aluna do EJA, Lav�nia Machado de Souza acaba de completar seis d�cadas e se mostra feliz. “Tem uma s�rie de benef�cios”, conta bem-humorada, ao lado das colegas Poncila Nascimento Soares, de 67, e Maria de Lourdes do Nascimento Folgado, de 71 – o trio, por sinal, acaba de chegar de uma viagem a Foz do Iguar�u (PR), na companhia de quatro amigos.
Despertar
Maria de Lourdes est� certa de que o estudo representa um despertar na vida, mesmo passados muitos anos longe dos bancos escolares. Vi�va, sem filhos, ela preferiu os cadernos � poltrona, tev� e solid�o. “Fiz at� a quarta s�rie e sa� para trabalhar, pois as condi��es financeiras eram muito “prec�rias” naqueles tempos. Assim trabalhou em casa de fam�lia, em f�brica e com as costuras, para as quais volta nos momentos dom�sticos. Destacando que a escola proporciona divers�o e conviv�ncia, Maria de Lourdes gosta de matem�tica, mas n�o pensa em fazer uma faculdade.
Ao lado, o colega Orlando avisa que o curso superior est� entre suas metas: “Quero ser professor de ingl�s”. E revela, todo orgulhoso, que tem duas filhas, uma deles formada em engenharia qu�mica. Na aula de ontem, n�o p�de estar presentar um aluno mais velho da classe, Juvenil Ferreira da Silva, de 91. Acometido por uma gripe muito forte, preferiu permanecer em casa at� ficar bom, embora seguindo determinado a aprender a ler e a escrever. A professora Gilvania elogia o empenho da turma do programa EJA externa, com alunos acima dos 50 anos, com n�veis diferentes, alguns deles para alfabetiza��o.
Segundo Eduardo Nicodemos da Silva, da Igreja Adventista e um dos l�deres do trabalho com os idosos, o local se tornou um anexo da Escola Municipal Joaquim dos Santos, do C�u Azul, ao ofertar turmas do EJA no turno da tarde. “Geralmente, o curso � ministrado � noite, ent�o, para facilitar a vida dos alunos em seguran�a e mobilidade, resolvemos abrir este hor�rio”, disse Eduardo. Assim, na sala de aulas, “grande parte dos idosos pode fugir do isolamento, da depress�o e do abandono, reencontrando novo sentido para a vida”. Dados citados pela igreja mostram que, conforme o IBGE, a maior parcela de analfabetismo ocorre entre idosos: pessoas com mais de 60 anos representam 19,3% dos analfabetos do pa�s.