O telefone fixo caminha para o desuso no Brasil, mas ainda encontra espaço em lares movidos pela afetividade e pela sensação de segurança. De acordo com dados divulgados recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 7,5% dos domicílios do país ainda mantinham telefone fixo em 2024 - um número que reflete um declínio constante desde 2016, quando essa presença era de 32,6%.
Ao mesmo tempo, o celular segue consolidando sua posição como o principal meio de comunicação dos brasileiros. Em 2024, 97% dos domicílios possuíam pelo menos um telefone celular, o maior percentual desde o início da série histórica. Em 89,9% das residências, o aparelho móvel era o único tipo de telefone disponível.
Celular: indispensável e cada vez mais versátil
O uso do celular não se limita mais a chamadas e mensagens. Segundo o IBGE, o aparelho tem sido cada vez mais utilizado para transações bancárias, o que reflete a sua crescente importância no cotidiano dos brasileiros. Além disso, 92,0% dos lares contavam com serviço de rede móvel funcionando para Internet ou telefonia, proporção estável nos últimos anos, mas com disparidades marcantes entre áreas urbanas e rurais.
Nas cidades, 95,3% dos domicílios contavam com cobertura de rede móvel, enquanto no campo esse índice foi de apenas 65,8% em 2024 - uma queda de 1,6 ponto percentual em relação a 2023 e a menor taxa da série. A diferença de 29,5 pontos percentuais entre o urbano e o rural também é a maior já registrada.
Apesar da ampla abrangência do celular, ainda existem 2,6% dos domicílios sem nenhum tipo de telefone, percentual que, embora pequeno, representa cerca de 2,1 milhões de lares. As regiões Nordeste (4,7%) e Norte (3,2%) concentram as maiores proporções.
Telefone fixo e seu elo emocional
Ainda que os números indiquem o declínio do telefone fixo, ele permanece como um símbolo de vínculo e estabilidade para algumas pessoas. É o caso de Elis Regina Araújo, de 52 anos, que mantém o aparelho em casa por razões que vão além da funcionalidade.
"Gosto de ter o telefone fixo porque me remete à minha vida. Sempre tive. Acho que é uma segurança. Quando minha mãe estava viva, ela só me ligava por ele. Hoje, minha sogra e minhas irmãs ainda ligam. Quando ele toca, sei que são pessoas íntimas", conta Elis.
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Mesmo reconhecendo que o celular atende melhor à sua rotina, ela relata situações em que o fixo é essencial, como no ambiente de trabalho. "Sou distraída, às vezes esqueço o celular ou não vejo mensagens. Então deixo o número do fixo com minha chefe para situações urgentes".
O apego ao número fixo também tem relação com a constância: "Pode ser que alguém que já teve contato comigo queira me encontrar. E meu número fixo nunca mudou", reforça.
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O relato de Elis também evidencia uma mudança de geração. Enquanto ela e o marido ainda fazem uso do telefone fixo, as filhas não o utilizam. A resistência ao fim do telefone fixo, parece estar mais ligada a fatores afetivos e sociais do que à real necessidade de uso. À medida que as novas gerações se comunicam cada vez mais por aplicativos e chamadas móveis, o fixo vai perdendo espaço - embora, em algumas casas, ainda toque com o peso da memória e da tradição.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice