Um acidente aéreo deixou quatro mortos na zona rural de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, na noite dessa terça-feira (23/9). Uma das vítimas é o arquiteto chinês Kongjian Yu, criador de um dos conceitos mais inovadores do urbanismo contemporâneo: as cidades-esponja. A ideia, já aplicada em dezenas de cidades na China e em outros países, propõe um novo modelo de infraestrutura urbana capaz de reduzir enchentes e conviver de forma mais inteligente com a água.
O conceito ganhou força em 2012, quando chuvas intensas provocaram a morte de quase 80 pessoas em Pequim. Enquanto grande parte da cidade estava submersa, a Cidade Proibida, construída séculos antes com um sistema de drenagem sofisticado, permaneceu seca. A Cidade Proibida, em Pequim, foi a residência oficial dos imperadores chineses durante quase 500 anos, sendo composta por quase mil edifícios, cercados por muralhas e um fosso.
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A tragédia reforçou a crítica de Yu: as cidades modernas dependem de canais e concreto para expulsar rapidamente a água da chuva, mas ignoram soluções naturais. Pouco depois, o governo chinês lançou um programa nacional para transformar metrópoles em cidades-esponja, capazes de reter 70% a 90% da água da chuva em nível local.
Como funciona uma cidade-esponja?
Esquema das cidades-esponja
A proposta combina soluções baseadas na natureza com infraestrutura urbana. Entre as principais estratégias estão:
- Parques alagáveis: áreas verdes que podem inundar em períodos de cheia e servem como lazer na estiagem;
- Telhados verdes: jardins em topos de edifícios, que reduzem escoamento e a temperatura das cidades;
- Calçadas permeáveis: pisos porosos que permitem infiltração da água no solo;
- Praças-piscina: espaços esportivos ou de lazer que armazenam temporariamente grandes volumes de água;
- Jardins de chuva, lagoas pluviais e biovaletas: pequenas intervenções que captam e filtram a água das chuvas.
Essas medidas criam um “colchão” urbano, capaz de absorver e liberar lentamente a água, diminuindo a intensidade das enxurradas e evitando colapsos em épocas de tempestade.
Exemplos pelo mundo
A China é o maior laboratório desse modelo. Em cidades como Taizhou e Jinhua, muros de concreto que canalizavam rios foram substituídos por parques capazes de conter enchentes. O parque Yanweizhou, em Jinhua, tornou-se referência internacional.
Outros países também aplicam soluções semelhantes, como:
- Roterdã (Holanda): a praça Benthemplein se transforma em reservatório durante chuvas;
- Copenhague (Dinamarca): áreas públicas com pisos porosos retêm água;
- Nova York (EUA): parques à beira do East River protegem a cidade de enchentes;
- Bangcoc (Tailândia): o parque Chulalongkorn acumula temporariamente grandes volumes de água.
No país, o debate voltou a ganhar força após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. Por aqui, ainda predominam os piscinões de concreto, que acumulam água de forma passiva, mas geram problemas urbanos.
Especialistas defendem que cidades brasileiras poderiam adotar soluções descentralizadas, como telhados verdes, jardins de chuva e parques lineares, mas ressaltam a necessidade de políticas públicas consistentes.
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Como foi o acidente no Pantanal?
Avião de pequeno porte caiu na zona rural de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul
- Um avião de pequeno porte caiu na zona rural de Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul
- A aeronave, do modelo Cessna Aircraft 175, fabricado em 1998, caiu e pegou fogo após o impacto
- As causas ainda estão sob apuração pela Polícia Civil e Corpo de Bombeiros
- Além de Kongjian Yu, também morreram os cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr. e o piloto Marcelo Pereira de Barros, proprietário da aeronave.