Vivemos o s�culo das cidades. � nelas que est�o a maioria dos problemas, das solu��es e das pessoas. Cada vez mais. At� 2050, seremos 70% da popula��o mundial em ambientes urbanos. Uma retomada verde passa, portanto, por transforma��es profundas no modo de viver, trabalhar, transitar, se divertir, de socializar - e tudo isso depende do planejamento urbano.
Urbanistas, cientistas, bi�logos, engenheiros e pol�ticos de metr�poles mundo afora tentam organizar as mudan�as. Os exemplos se espalham, mas v�m muito mais de realidades que apostaram em transforma��es do que de iniciativas de novas cidades erguidas em �reas hoje sem uso. Para muitos especialistas, uma cidade mais sustent�vel, do futuro, � aquela que souber se reinventar.
Isso ocorre com mudan�as de paradigma, de a��es para liquidar desigualdades e da tecnologia, para vivermos de novo em sinergia com o ambiente. "Se quisermos manter algum senso de equil�brio com a natureza, precisamos integr�-la de modo muito mais presente", defende Fabiano Lemes de Oliveira, professor na universidade Polit�cnico de Mil�o e autor do livro Green Wedge Urbanism: History, Theory and Contemporary Practice (Urbanismo de Cunhas Verdes: Hist�ria, Teoria e Pr�tica Contempor�nea), sem edi��o em portugu�s.
Para ele, a mudan�a vir� com um planejamento de cidades polic�ntricas, em que servi�os, lazer, trabalho e transporte est�o dispon�veis em deslocamentos curtos. Em Paris, a ideia � de uma cidade de 15 minutos para resolver todas as necessidades, o que inclui mudar espa�os p�blicos, das cal�adas �s escolas.
Nas capitais latino-americanas, cuja urbaniza��o foi mais desordenada, a mudan�a passa tamb�m por adensar �reas mais bem servidas. "O desafio fundamental � a necessidade de se pensar cidades que tenham capacidade de acolher mais gente, fazer isso de um modo com que n�o aumentemos o impacto no planeta e, se poss�vel, aumentar a presen�a da natureza nas �reas urbanas", diz Oliveira.
Esse adensamento deve ocorrer junto de melhorias do ambiente urbano. Uma das aplicadas, em cidades como Estocolmo e Copenhague, � a da implementar cunhas verdes, �reas naturais que come�am mais reduzidas no centro e se expandem em dire��o �s periferias. Elas re�nem potenciais para lazer, agricultura urbana, corredor ecol�gico (ao atrair a fauna) e ambiental (por facilitar a drenagem urbana, absorver di�xido de carbono e reduzir o efeito das ilhas de calor).
Para o coordenador do programa USP Cidades Globais, Marcos Buckeridge, ser�o necess�rios ainda novos materiais e tecnologias, na constru��o civil e no transporte. Entre os exemplos, est�o o uso da cana-de-a��car para gerar energia el�trica, concretos que absorvem menos calor e redes de gerenciamento de energia para redistribui��o em hor�rios de menor consumo. "A ideia � que se aplique a ci�ncia. N�o adianta fazer um pr�dio maravilhoso, que seria considerado sustent�vel, se chega uma energia poluidora."
Essa transforma��o tamb�m envolve oferta diversificada de transporte para todos, destaca Luis Antonio Lindau, diretor do programa de cidades do WRI Brasil, institui��o internacional de desenvolvimento sustent�vel. "N�o d� mais para a gente ficar pensando que um ve�culo ou um �nico modo vai resolver a quest�o do transporte. A gente deveria ter como meta uma rede integrada e multimodal."
Isso inclui restringir a circula��o de ve�culos, como inspe��o veicular (e taxar os mais poluentes), trocar �nibus a diesel por op��es mais sustent�veis, controlar vagas de estacionamento e at� zonas de ar limpo, que pro�bem certos transportes.
No caso de interven��es menores, por exemplo, o impacto pode ser no microclima e no acesso ao lazer. � o caso, por exemplo, dos pocket parques no M�xico, em que terrenos baldios e antigos estacionamentos foram convertidos em pequenos jardins e �reas verdes.
Henrique Evers, gerente de desenvolvimento urbano na WRI Brasil, diz que um investimento com propostas mais sustent�veis traz melhor resultado em m�dio e longo prazo. "� poss�vel ter prosperidade e desenvolvimento econ�mico aliados a solu��es que tamb�m protegem o ambiente. O mais r�pido e f�cil � sempre manter os modelos antigos, que nos levaram ao que a gente tinha, do �velho anormal�, mas o investimento em um novo tipo de infraestrutura, com benef�cio social, econ�mico e ambiental", afirma.
Rios
A urbanista Perola Brocanelli, da Universidade Mackenzie, defende a renaturaliza��o de rios e da mata ciliar. "N�o � plantar �rvore bonita. � deixar o capinz�o de v�rzea, meio alagado", diz.
"Grandes �reas verdes ao longo dos rios podem se transformar em c�lulas de purifica��o." Ela diz que � preciso conhecer mais a hidrografia das cidades, para entender onde est�o v�rzeas e outras �reas alag�veis e vetar novas constru��es no entorno. Com a renaturaliza��o e o tratamento da �gua, esses espa�os tamb�m se tornam �reas de lazer, quase "praias urbanas". "Crescer sobre os rios � uma senten�a de morte."
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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