Uma pesquisa da Genial/Quaest, divulgada nesta sexta-feira (10/10), mostra que a maioria dos brasileiros está preocupada com o risco de consumir bebidas alcoólicas após os casos de intoxicação por metanol em bebidas adulterados. Além disso, uma parcela expressiva da população ainda desconfia da capacidade do Estado de punir os responsáveis. O levantamento também revela que, como em tantos outros temas no país, o caso do metanol acabou atravessado por divisões políticas.

O tema, como mostra a pesquisa, rompeu as bolhas regionais do caso que começou inicialmente em São Paulo e chegou às conversas de bar, às redes sociais e às rodas familiares. De acordo com pesquisa da Genial/Quaest, realizada entre os dias 2 e 5 de outubro, o episódio despertou a atenção de quase todos os brasileiros: 93% dos entrevistados afirmaram ter ouvido falar sobre as bebidas adulteradas, que levaram cinco pessoas à morte e outras 24 aos hospitais com sintomas de intoxicação.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A reação popular, mostra o levantamento, é marcada por dois sentimentos principais: o medo e a desconfiança.

Mais da metade dos entrevistados, 61%, acredita que os responsáveis pela adulteração das bebidas serão punidos. Outros 35%, no entanto, não acreditam em punição, e 4% preferiram não responder. A confiança na Justiça, porém, varia de acordo com o local e com o perfil de quem responde. No Nordeste, 70% acreditam que haverá punição. No Centro-Oeste, o percentual é de 67%. Já no Sudeste, cai para 57%, e no Sul, 54%.

A pesquisa mostra ainda que o nível de escolaridade influencia diretamente na percepção de justiça. Entre os entrevistados com ensino superior, 44% acham que os culpados não serão punidos. Já entre aqueles com ensino fundamental, 69% acreditam no contrário.

Mas é no campo político que a divisão se acentua. Os eleitores de Lula demonstram mais confiança nas autoridades: 77% acreditam que haverá punição. Já entre os eleitores de Jair Bolsonaro, o número despenca para 47%. O padrão se repete quando o recorte é ideológico: 81% dos que se declaram lulistas e 71% dos que se dizem de esquerda confiam que os culpados serão responsabilizados, enquanto apenas 55% dos bolsonaristas e 45% dos que se identificam como de direita acreditam nisso.

Outro ponto importante do levantamento é a percepção sobre quem deve ser responsabilizado. Para 52% dos entrevistados, a culpa é do crime organizado, que estaria por trás das redes clandestinas de falsificação e distribuição das bebidas. Já 35% atribuem a responsabilidade às empresas produtoras, dado que expõe o quanto parte da população enxerga falhas também no controle industrial e na fiscalização.

As diferenças regionais voltam a aparecer nesse ponto. No Sul, 60% dos entrevistados apontam o crime organizado como principal culpado. No Nordeste, porém, 46% acreditam que a responsabilidade é das empresas, e não do tráfico ou de quadrilhas clandestinas. O nível de instrução novamente pesa na análise: 59% dos entrevistados com ensino superior atribuem o problema ao crime organizado, contra 48% entre os que têm apenas o ensino fundamental.

Além da questão da culpa, o medo também aparece. Metade dos entrevistados (50%) afirmou não consumir bebidas alcoólicas, mas 25% disseram ter medo de beber qualquer tipo de bebida, e outros 14% declararam temer especialmente os destilados, como gim, uísque e vodca, exatamente as bebidas mais associadas aos casos de contaminação.

O medo não é injustificado. O Ministério da Saúde já contabiliza 259 notificações de intoxicação por metanol no país. São Paulo, onde surgiram as primeiras ocorrências, concentra 181 registros, mas há casos em 13 unidades da federação. Na mesma semana, o governo federal anunciou a compra emergencial de antídotos como o fomepizol e o etanol farmacêutico, além da ampliação da rede de vigilância toxicológica.

Desde o fim de setembro, os casos vêm aumentando semana a semana. No último sábado (4/10), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, explicou que o aumento das notificações não significa necessariamente crescimento real de intoxicações, mas melhor vigilância. A pasta determinou na terça-feira (30/9) que profissionais de saúde registrem qualquer suspeita clínica imediatamente, sem aguardar a confirmação laboratorial.

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A Polícia Civil de São Paulo, por sua vez, segue uma linha de apuração que aponta para a atuação de fábricas clandestinas abastecidas com metanol contrabandeado. A substância, altamente tóxica, teria sido usada para higienizar garrafas falsificadas antes do envase. Mais de mil garrafas já foram apreendidas em operações conjuntas com a Vigilância Sanitária, e as amostras analisadas pelo Instituto de Criminalística confirmaram a presença de metanol em parte dos lotes.

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