INVESTIGAÇÃO EM CURSO

Intoxicações por metanol sobem para 225 no Brasil 

Ministério da Saúde reforça estoques de antídotos e endurece ações de fiscalização, enquanto estados investigam mortes

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O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas subiu para 225 no Brasil, segundo o novo boletim do Ministério da Saúde, divulgado na noite deste domingo (5/10).

Em todo o país, são 16 casos confirmados e 209 em investigação. A maioria das ocorrências (192 registros) está concentrada em São Paulo, onde 14 foram confirmadas, 178 estão em investigação, e duas mortes já foram oficialmente reconhecidas.

Em apenas um dia, o total de casos saltou 15,38%, passando de 195 para 225 notificações, distribuídas em 14 estados e no Distrito Federal. A expansão rápida da contaminação levou o governo federal a adotar medidas emergenciais, como a aquisição de antídotos e o reforço da rede de vigilância toxicológica em todo o país.

Ao todo, são 13 estados com casos notificados. Além de São Paulo, há registros em Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rondônia, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará. Os estados da Bahia e Espírito Santo tiveram os casos registrados descartados. 

Além de São Paulo, há registros em Pernambuco (dez suspeitos e três óbitos investigados), Mato Grosso do Sul (cinco casos e dois óbitos investigados), Goiás e Rio Grande do Sul (dois casos, cada), e Distrito Federal, Mato Grosso, Rondônia, Rio de Janeiro e Paraíba (um caso, cada). Piauí com dois suspeitos. Bahia e Espírito Santo descartaram os casos notificados.

Ao todo, são 15 óbitos, sendo dois confirmados em São Paulo, e 13 em investigação (sete em São Paulo, três em Pernambuco, dois no Mato Grosso do Sul, um na Paraíba e um no Ceará)

Na Paraíba, foi confirmada nesse sábado (4/10) a primeira morte relacionada à intoxicação por metanol. A vítima, um homem de 32 anos, apresentou sintomas típicos da contaminação e morreu após ser internado no Hospital de Trauma de Campina Grande. As autoridades sanitárias ainda apuram de onde veio a bebida ingerida por ele.

Em Minas Gerais, uma notificação em Santa Maria do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, chegou a ser incluída no boletim federal, mas foi descartada pela Secretaria Estadual de Saúde após análise do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox/MG), ligado ao Hospital João XXIII, em Belo Horizonte.

Em coletiva de imprensa realizada nesse sábado, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, explicou que o aumento das notificações não significa necessariamente crescimento real de intoxicações, mas melhor vigilância. A pasta determinou na terça-feira (30/9) que profissionais de saúde registrem qualquer suspeita clínica imediatamente, sem aguardar a confirmação laboratorial.

“Quando o médico faz a notificação, o Centro de Referência em Toxicologia já oferece suporte técnico, orienta o protocolo e ajuda a rastrear a origem da bebida”, afirmou Padilha. A estratégia, segundo ele, também fortalece as investigações policiais, permitindo rastrear a cadeia de fornecimento e identificar focos de adulteração.

Como começaram as intoxicações por metanol?

Os primeiros casos foram identificados no fim de agosto, mas o alerta nacional só veio no fim de setembro, quando médicos de São Paulo começaram a relatar internações com sintomas típicos de intoxicação por metanol. A coincidência entre os quadros clínicos levou profissionais de saúde a trocarem informações e perceberem que se tratava de um fenômeno em série.

As notificações envolvem marcas famosas de uísque, vodca e gim. Entre os casos mais graves está o de um jovem de 27 anos, internado em coma após ingerir gim em uma confraternização na Zona Sul da capital paulista. Ele fazia parte de um grupo de cinco amigos, dos quais quatro precisaram de atendimento hospitalar. Outro paciente perdeu a visão depois de ingerir caipirinhas feitas com vodca em um bar nos Jardins, área nobre de São Paulo.

Em coletiva, logo após a repercussão dos casos, Padilha destacou a mudança no perfil das ocorrências. “Normalmente, a ingestão de metanol acontecia entre pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade, que recorriam a postos de combustível. A partir de setembro, passamos a registrar casos em bares e restaurantes, sobretudo em São Paulo, com adulteração de bebidas como gim, uísque e vodca”, observou.

Especialistas explicam que a contaminação por metanol geralmente ocorre em falsificações, quando álcool adulterado é utilizado na produção ou quando a substância é adicionada para baratear e potencializar o teor alcoólico.

O metanol é um tipo de álcool usado em solventes, combustíveis e produtos de limpeza. Embora semelhante ao etanol, é altamente tóxico quando ingerido. No corpo humano, ele é metabolizado pelo fígado e transformado em ácido fórmico, uma substância que causa danos irreversíveis ao sistema nervoso, à medula e ao nervo óptico.

Os sintomas iniciais, como tontura, náusea, sonolência e dor de cabeça, podem parecer uma simples ressaca. Mas, entre 6 e 24 horas após o consumo, o quadro evolui para visão turva, sensibilidade à luz, confusão mental e dificuldade respiratória. Mesmo pequenas doses podem causar cegueira, coma e até a morte.

Fábricas clandestinas 

A principal linha de investigação da Polícia Civil de São Paulo aponta que fábricas clandestinas estariam usando metanol contrabandeado para higienizar garrafas falsificadas antes do envase. O produto, proibido para comercialização livre no Brasil, teria sido trazido de forma irregular e aplicado em recipientes reutilizados.

Mais de mil garrafas já foram apreendidas em operações conjuntas entre a polícia e a Vigilância Sanitária. O Instituto de Criminalística analisa as amostras em duas etapas: primeiro, a autenticidade da embalagem (selo, rótulo e lacre); depois, o conteúdo líquido. Parte dos lotes já testou positivo para metanol.

Na Zona Norte de São Paulo, um homem apontado como um dos principais fornecedores do material usado em destilarias clandestinas foi preso. Nos imóveis ligados a ele, os agentes encontraram 20 mil garrafas, além de tampas, rótulos, selos falsificados e embalagens de marcas conhecidas.

O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) afirma que o esquema abastecia bares e distribuidoras de várias regiões do estado.

O governo de São Paulo determinou tolerância zero para estabelecimentos flagrados com bebidas adulteradas. A Secretaria da Fazenda vai suspender o cadastro estadual desses comércios, impedindo-os de continuar operando.

Em coletiva de imprensa, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que 36% das bebidas destiladas no país são adulteradas e defendeu que a falsificação de bebidas se torne crime hediondo. “Vamos cassar a inscrição estadual de quem comercializar produto falsificado. É uma questão de saúde pública”, declarou.

Nos últimos dias, 11 estabelecimentos foram interditados, e o número de prisões subiu para 41, com ações em Diadema, Santo André, Jacareí e Jundiaí.

Antídoto

Para enfrentar o avanço das intoxicações, o Ministério da Saúde anunciou a compra emergencial de dois antídotos: o fomepizol e o etanol farmacêutico.

O etanol farmacêutico, já disponível no Brasil, é o tratamento mais comum. Ele inibe a metabolização do metanol em ácido fórmico, evitando o envenenamento, embora cause embriaguez como efeito colateral. Já o fomepizol, importado do Japão com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), tem o mesmo efeito, mas sem causar intoxicação alcoólica.

Segundo o ministro Alexandre Padilha, o governo já havia adquirido 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico distribuídas a hospitais universitários federais e agora comprou 12 mil adicionais, além de 2,5 mil tratamentos com fomepizol. O objetivo é abastecer centros de referência em toxicologia e garantir que todas as unidades do SUS tenham acesso ao antídoto em casos suspeitos.

Padilha destacou ainda que a Anvisa mapeou 609 farmácias de manipulação com capacidade para produzir o etanol farmacêutico, reforçando que o produto está disponível “em toda a rede pública, sob recomendação médica e acompanhamento de especialistas em toxicologia”.

Prevenção

As autoridades orientam a população a comprar bebidas apenas em locais conhecidos, desconfiar de preços muito baixos e verificar lacre e selo fiscal nas garrafas. Também recomendam inutilizar garrafas vazias, prática defendida pela Abrasel, para evitar que falsificadores as reutilizem.

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Padilha fez ainda um alerta direto aos consumidores: “Evitem bebidas destiladas, principalmente aquelas com tampa de rosca. É nelas que o crime tem sido identificado. Estamos falando de um produto de lazer, não essencial. A prioridade agora é preservar vidas”.

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