Chega ao fim o resgate de prefeitos e gestores públicos de MG em Israel
A viagem da comitiva brasileira, organizada a convite do governo israelense, foi interrompida após aumento da ofensiva militar no Oriente Médio
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Siga noTodos os gestores públicos mineiros que integravam a comitiva brasileira em missão institucional a Israel já estão de volta ao Brasil ou em solo brasileiro. O último a embarcar foi o vice-prefeito de Uberlândia, Vanderlei Pelizer (PL), nesta quarta-feira (19). Na véspera, haviam retornado o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União), e a vice-prefeita de Divinópolis, Janete Aparecida (Avante), após dias de tensão com a escalada do conflito entre Israel e Irã.
A viagem, organizada a convite do governo israelense, foi interrompida após o fechamento do espaço aéreo e o aumento da ofensiva militar no Oriente Médio. A comitiva brasileira deixou Israel em duas frentes: uma por terra, até a Jordânia, seguida de voos comerciais; outra via Arábia Saudita, com voo fretado até o Brasil.
No desembarque em Belo Horizonte, Álvaro Damião descreveu o momento como “angustiante”:
“Vi mísseis sendo interceptados sobre Tel Aviv. Pensei na minha filha o tempo todo. Quando abracei a Giovanna no aeroporto, entendi que estava vivo de novo”. Ele ainda rebateu a nota do Itamaraty, que alegou não reconhecer a missão como oficial: “Não fomos a passeio. Fomos a convite do governo de Israel. É uma missão legítima. Reunimos com prefeitos do mundo inteiro.”
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Em Divinópolis, o retorno de Janete Aparecida foi comemorado pelo prefeito Gleidson Azevedo (Novo), que falou ao Estado de Minas: “Estávamos muito angustiados com essa situação de guerra. Ficamos em oração o tempo todo. É um alívio imenso.” Ele também rebateu críticas: “Político não tem moral nenhuma para criticar. Se qualquer um tivesse recebido o convite, teria ido. E a prefeitura não gastou nenhum centavo. Me assusta ver uma deputada que diz defender mulheres espalhando ódio contra uma mulher que estava representando nossa cidade.”
Já o caso do vice-prefeito de Uberlândia, Vanderlei Pelizer (PL), tem ganhado contornos de crise política. Durante sua estadia em Israel, Pelizer recusou-se a acompanhar o grupo na evacuação terrestre, alegando que a travessia era arriscada demais. Permaneceu em solo israelense, e seu retorno só foi confirmado após operação separada, sem divulgação de detalhes por razões de segurança.
Segundo sua assessoria, Pelizer seguiu “em segurança” durante toda a estadia, seguindo as orientações das autoridades locais. No entanto, o comportamento do vice-prefeito foi alvo de críticas. Durante os dias de missão, o vice-prefeito publicou diversas postagens em apoio ao Estado de Israel, gravou vídeos nos bastidores da operação e fez transmissões ao vivo com parlamentares da extrema-direita, como o deputado Caporezzo (PL).
Um dos episódios mais sensíveis envolveu a reação a uma pergunta feita por um parlamentar brasileiro ao exército israelense. A tensão aumentou no grupo depois que um dos membros da comitiva questionou um oficial sobre a viabilidade de seguir com o evento “mesmo com o risco de guerra”. A pergunta teria incomodado os militares locais, gerando um mal-estar interno.
O caso chegou à Câmara Municipal de Uberlândia. O vereador Dr. Igino (PT) protocolou um pedido de cassação do mandato de Pelizer, alegando que o vice-prefeito se ausentou da cidade por mais de 15 dias sem autorização da Casa, o que violaria o artigo 44 da Lei Orgânica do Município. A ausência de licença formal pode configurar, segundo ele, abandono de cargo e improbidade administrativa.
No pedido, Igino também aponta conflito de interesses na viagem, por ter sido financiada pelo governo de Israel: “O recebimento de vantagens, mesmo como ressarcimento de despesas, pode comprometer a imparcialidade exigida de um agente público.” O vereador ainda argumenta que a recusa em voltar ao Brasil quando houve condições seguras agrava a situação: “Ele escolheu permanecer no exterior sem autorização e ainda fez militância política, inclusive com transmissão ao vivo com parlamentares da extrema-direita. Isso fere a ética do cargo e desrespeita os eleitores.”
A leitura do pedido de cassação deve acontecer na próxima sessão ordinária da Câmara, prevista para 1º de julho. O andamento do processo dependerá da aprovação da maioria dos vereadores.
Em meio à controvérsia, a Prefeitura de Uberlândia divulgou uma nota assinada pelo prefeito Paulo Sérgio (PP) — que está em viagem oficial ao Japão — em apoio ao vice-prefeito.
“Pelizer está participando, a convite da embaixada de Israel, de uma visita com outras autoridades brasileiras. O prefeito Paulo Sérgio tem feito esforços junto ao governo federal para uma ação segura. Contatos com o Itamaraty, com a embaixada do Brasil em Israel e com o governo daquele país já foram feitos para proteger a comitiva", diz o texto.
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A nota ainda reafirma que Pelizer seguiu todas as recomendações locais e estava seguro, e expressa esperança de que ele retorne “o quanto antes”.
O Ministério das Relações Exteriores também se manifestou em nota oficial. “Nesta quarta-feira, 18/6, foi realizada a retirada, por via terrestre em direção à Jordânia, do segundo grupo de autoridades federativas [...]. A evacuação das 27 autoridades convidadas por Israel foi custeada pelo governo israelense [...] As Embaixadas do Brasil em Amã e em Tel Aviv têm prestado apoio ao grupo e acompanharam de perto seus deslocamentos [...] O alerta do Portal Consular recomenda evitar viagens a Israel, Jordânia, Iraque, Irã, Líbano, Palestina e Síria.”