GUERRA TARIFÁRIA

A dois dias do tarifaço, negociação de senadores e governadores não avança

Comitiva de senadores nos EUA não avança em objetivo de adiar tarifaço. No Brasil, reunião de governadores com Alckmin foi cancelada

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A dois dias para a aplicação da sobretaxa de 50% para as exportações do Brasil aos Estados Unidos, as movimentações de autoridades brasileiras obtiveram pouco ou nenhum avanço em mitigar os danos do tarifaço. Direto de Washington, a comitiva de senadores fala em tom resignado sobre as poucas chances de adiar os efeitos da medida anunciada por Donald Trump para 1ª de agosto.

Em Brasília, uma reunião de governadores com o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), foi cancelada. O chefe do Executivo do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), convocou hoje uma reunião extraordinária do Fórum Nacional de Governadores com a presença de Alckmin. O encontro chegou a ser agendado para a manhã do dia seguinte, mas foi desmarcado horas depois. 

Diante da urgência do tema e com as manifestações vindas de Washington indicando que não haverá recuo, o evento foi marcado de um dia para o outro. O fato, por exemplo, foi utilizado como justificativa para a ausência do governador mineiro, Romeu Zema. Seus pares em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e no Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), também indicaram que não participariam das tratativas solicitadas por Ibaneis. 



Representação mineira

Mesmo antes do cancelamento, o governador Romeu Zema (Novo), já havia informado que não estaria na reunião em Brasília. O mesmo vale para o vice, Mateus Simões (Novo). Em entrevista ao Portal UOL, o chefe do Executivo mineiro afirmou que não poderia participar do encontro por já ter agenda para tratar sobre o mesmo tema junto à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). 

“Essa reunião vai ser amanhã cedo, foi marcada um pouco em cima da hora e eu já tenho compromissos em Belo Horizonte que não consigo alterar. Eu vou estar mandando um representante, porque o assunto é muito relevante”, afirmou o governador do quinto estado brasileiro mais afetado pelo tarifaço.

Convidado para um curso na Inglaterra, o vice-governador Mateus Simões também não estava disponível para o encontro com os governadores e Alckmin. 

Na mesma entrevista em que anunciou a ausência na reunião extraordinária no Fórum Nacional de Governadores, Zema reforçou sua solidariedade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo processo em que é réu foi usado por Trump como uma das justificativas para o tarifaço. Ele ainda reiterou suas críticas ao que considera uma falta de capacidade de negociação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Tudo isso está acontecendo devido à inabilidade do nosso governo federal, principalmente do presidente Lula, que tem atacado um dos maiores clientes do Brasil e se aliado a detratores dos EUA. Tudo isso tem contribuído para que houvesse essa retaliação. Era questão de tempo”, disse o mineiro.

No vácuo da ausência de Zema, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) se movimenta para assumir o protagonismo na relação entre a Indústria mineira e o governo federal. Após reunião com o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), Fausto Varela Cançado, o parlamentar anunciou que fará o contato entre o setor produtivo do estado com o Palácio do Planalto.

“Eu vou cuidar, nos próximos dias, das reuniões necessárias com o presidente Lula, com o vice-presidente Geraldo Alckmin, para dar esse encaminhamento em nome de Minas Gerais e da economia de Minas. Assim como farei em relação a outros setores igualmente importantes para Minas Gerais”, afirmou.

Pacheco defendeu que o contato com o governo federal seja feito com objetivo de garantir ações mitigadoras dos efeitos do tarifaço. O senador defende aferir a possibilidade de abrir novos mercados para escoar a produção que originalmente teria os Estados Unidos como destino.

O senador é o nome favorito de Lula para concorrer ao Governo de Minas em 2026 com apoio do PT. A declaração de que atuará como representante da Indústria Mineira junto ao governo federal se soma a outros movimentos recentes, como a costura para viabilizar um empréstimo de US$ 200 milhões ao estado junto ao Banco dos Brics, e enfatiza a exploração de sua boa relação com o governo federal como um trunfo em relação a Zema e Simões, opositores inveterados da gestão à frente do Palácio do Planalto.

Senadores

Direto de Washington, a comitiva de oito senadores brasileiros formada para adiar a entrada do tarifaço em vigor empreendeu seu segundo dia de reuniões com autoridades americanas. Após apresentar suas reivindicações junto à Câmara de Comércio Americana na segunda-feira (28/7), eles se encontraram com parlamentares dos Estados Unidos no Capitólio.

Ao longo do dia de reuniões, as declarações feitas pelos brasileiros apontaram para uma resignação em relação às chances de sucesso na empreitada pelo adiamento do tarifaço. “A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que o Senado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes”, disse Nelsinho Trad (PSD-MS), coordenador da comitiva e presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado.

Jaques Wagner (PT), líder do governo no Senado e integrante da comitiva, também deu entrevista com declarações que tratam sobre os poucos avanços obtidos pela comitiva. “A gente sai para pescar todo dia, nem todo dia pesca um bom peixe. Mas, se não sai para pescar, não leva peixe nunca. Nós estamos vindo, abrindo portas, conversando”, analisou.

À reportagem, o senador Carlos Viana (Podemos), representante mineiro da comitiva, reforçou a expectativa de avançar nas negociações durante a viagem do grupo. No entanto, ele salientou que há um limite na atuação dos parlamentares e que o passo decisivo para evitar o tarifaço deve partir do Executivo brasileiro. 

“Nós esperamos sair daqui com resultados efetivos. Um deles, ao que parece hoje, nós já recebemos a resposta de que o Departamento de Comércio Americano estuda não tarifar os produtos não fabricados nos Estados Unidos e não produzidos nos Estados Unidos. Já é um avanço. É sinal de que a negociação existe e que nós podemos ser bem-sucedidos. Mas a obrigação firme de negociar com o governo americano é do governo brasileiro. Nós estamos apenas fazendo a nossa parte parlamentar, o que também é uma demonstração de boa vontade do nosso país’, disse Viana.

Fernando Farias (MDB-AL), Esperidião Amin (PP-SC) e Rogério Carvalho (PT-SE) também formam a comitiva, que é completada por dois ex-ministros de Jair Bolsonaro: Marcos Pontes (Republicanos-SP) e Tereza Cristina (PP-MS), que chefiaram as pastas de Ciência, Tecnologia e Inovações; e Agricultura, Pecuária e Abastecimento, respectivamente.

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A viagem dos senadores foi marcada pelo temor de que o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e seu parceiro Paulo Figueiredo atuassem nos bastidores para sabotar a iniciativa de negociação. Ambos falam abertamente que não há diálogo que não inclua nas tratativas a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de Golpe de Estado. 

Na noite de segunda-feira, o filho 03 de Bolsonaro declarou abertamente que trabalhou para inviabilizar a missão dos senadores. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo, porque sei que, vindo desse tipo de pessoa, só haverá acordos daquele tipo meio-termo, que não é nem certo, nem errado", afirmou em entrevista ao SBT News.

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