Os blocos de rua de Belo Horizonte se reuniram na manhã deste sábado (19/7) na Praça da Estação, na Região Central da capital, para o Cortejo da Tornozeleira. A ideia foi comemorar as restrições impostas nessa sexta-feira (18/7) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a Jair Bolsonaro (PL), como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de usar suas redes sociais. O evento reunia cerca de 150 pessoas por volta das 12h30, ao som de instrumentos de percussão e de metais, quando partiu em direção à Rua Sapucaí, no bairro Floresta, na Região Leste da capital.

 

A manifestação não teve uma organização central. “Foi um movimento espontâneo, uma resposta imediata de nós, os blocos de luta de Belo Horizonte, em apoio a essa ação da PF, do STF e da Justiça”, explicou o eletricitário Antônio Marcos de Oliveira, que participa de vários blocos de rua da capital, como Orquestra de Pífanos de Belo Horizonte, Volta Belchior, Coco da Gente, Andar com Fé e Cavalo Marinho. O evento ainda teve representantes de outros blocos, como Sou Vermelho e Então, Brilha.

Ele conta que a ideia surgiu como uma resposta imediata à determinação do uso da tornozeleira eletrônica por Jair Bolsonaro. No início o tom era de brincadeira nas redes sociais, mas logo surgiu a imagem e um estandarte com o nome do cortejo (feito com inteligência artificial) e a manifestação tomou forma. “A gente responde com ironia, mas sempre com luta. Ninguém está aqui à toa, ninguém está aqui sem propósito, ninguém está aqui por farra. Estamos aqui pela luta. O carnaval de Belo Horizonte é essencialmente um carnaval de luta. Nós somos parte desse carnaval. Muita gente gostaria de estar aqui e não pôde, tinham outros compromissos, até pela celeridade da coisa. Nós pensamos isso ontem e estamos realizando hoje com quem pode estar aqui. Gostaríamos de fazer muito maior. Vamos fazer muito maior no dia que ele for preso”, disse Antônio Marcos.

O símbolo do cortejo era um pé utilizando uma tornozeleira eletrônica que trazia a bandeira brasileira. O autor da obra foi o analista de sistemas Tomáz Dias de Freitas, que relatou que a ideia do pé surgiu nas redes sociais. Ele comprou os materiais na hora do almoço e, depois do trabalho, entrou pela madrugada para construir o pé, feito com materiais como PVC, papelão, jornal, barbante, cola e fita adesiva. Ele ainda contribuiu no naipe de metais do cortejo.

“Eu não aceito a forma do Bolsonaro ter conduzido tudo no governo dele e, agora, ele torna o país refém de um outro país para se defender. O caminho é ele ser preso por mais um motivo. Ele está indo contra um povo e uma nação para se salvar”, opinou a aposentada Ruslana Alvarenga Alves. Apesar disso, ela reconhece que a decisão de Donald Trump, ao impor o tarifaço ao Brasil, foi uma reprimenda pelas falas antidólar que Lula proferiu em evento dos Brics.

“Foi um marco para representar que ele (Jair Bolsonaro) não vai ficar impune. Ele estava se movimentando para fugir e esse foi o primeiro passo para ele ser preso. Já não vai mais conseguir fugir e pedir asilo político em algum lugar”, comentou um participante do cortejo que pediu para não ser identificado.

A esquerda de verde e amarelo

Chamou a atenção no “Cortejo da Tornozeleira” algumas “pinceladas” de verde e amarelo em meio ao vermelho tradicional das manifestações do espectro esquedista. Algumas das chamadas para o evento pediam para que os manifestantes usassem as cores tradicionais da bandeira brasileira, mas, segundo Antônio Marcos, não houve uma articulação para isso.

“O verde e amarelo foi espontâneo. O brasileiro tem orgulho dessas cores. Nossos símbolos foram sequestrados por uma meia dúzia que não representa o povo. O verde e amarelo é digno, é do brasileiro, são as nossas cores, nos representa e eu acho também muito bacana que a gente retome os nosso ícones: a bandeira, as cores, a Seleção Brasileira, o futebol”, disse o eletricitário.

Ruslana estava vestindo as cores nacionais na manifestação e acredita que está em curso a retomada de um nacionalismo que estava sendo isolado pela direita. “O verde e amarelo sempre foi do brasileiro. Não importa se ele é de direita ou de esquerda. Mas aí, com o evento do Bolsonaro, eles se isolaram no verde e amarelo, tomando para si uma coisa que é nacional. Isso não impede que em qualquer manifestação que se refere ao Brasil a gente use verde e amarelo. Pode usar o vermelho também, assim como o PT adotou para si”, refletiu a aposentada.

O manifestante que pediu para não ser identificado também vestia verde e amarelo. Ele acredita que a escolha das cores aguardava uma certa ironia em relação ao Bolsonaro usando tornozeleira eletrônica, mas que também existe um movimento para resgatar as cores que viraram símbolo da direita. “Eu mesmo estava com uma certa birra de usar o verde e amarelo por causa disso, de ser associado a uma coisa que não é do meu gosto. Mas, eu quero ter a liberdade de usar o verde e amarelo, de pegar a bandeira do Brasil, que a direita começou a colocar na janela para se representar. O Brasil é de todo mundo. Quer mostrar que é de direita, coloca na janela uma bandeira do partido deles”, afirmou.

 Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

compartilhe