A predatória e inconsequente decisão de Donald Trump ao sobretaxar em 50% as importações de produtos brasileiros teve uma série de efeitos colaterais. Os que acabaram por acelerar o ocaso político da família Bolsonaro e rendeu sobrevida a um combalido governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são os mais notórios, mas há também os que ficaram mais restritos às esferas estaduais de poder. Em Minas Gerais, a mudança nos ventos que vêm de Brasília oferece ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) a oportunidade de, enfim, se apresentar como uma peça no tabuleiro eleitoral. Ao governador Romeu Zema (Novo) e seu vice Mateus Simões (Novo) abre-se um caminho para sair debaixo da asa do ex-presidente. 

Pacheco começou a semana em reunião com Zema em Brasília para tratar sobre os vetos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O governador mineiro, sem trânsito no governo federal e também entre os atuais presidentes da Câmara e do Senado, recorreu ao parlamentar que pode ser – e muito provavelmente será – um rival em 2026.

Na terça-feira (15/7), dia seguinte à reunião com Zema, Pacheco se encontrou com o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT-SP) para negociar um empréstimo de R$ 200 milhões ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) via Banco dos Brics, instituição presidida por Dilma Rousseff (PT). O senador se valeu do bom relacionamento com os petistas para fazer o que Zema não pode. 

Politicamente, Pacheco pode se aproveitar do fato de que o governador mineiro fez questão de queimar publicamente cada ponte que poderia ter com a União, e isso cobra um preço caro. O senador pode agora explorar a exposição de sua imagem como a de uma figura a trabalhar pelo estado justamente nos flancos que Zema deixou abertos. Calha também que, com o tarifaço de Trump e o ataque à soberania nacional, se alinhar a Lula e ao governo federal de uma forma mais ampla já não carrega mais o mesmo estigma.

Após mais de um ano recebendo acenos dos petistas e o flerte público e insistente de Lula, Rodrigo Pacheco pode agora retribuir ao apoio, ainda que à sua maneira discreta e institucional. É a melhor janela de oportunidade apresentada até agora na atual legislatura. 

Por outro lado, Jair Bolsonaro (PL) está cada vez mais próximo da prisão, tem o tornozelo esquerdo eletronicamente adornado e recebeu da Justiça restrições para o uso das redes sociais, abre-se à direita uma bifurcação que dividirá quem pretende seguir o caminho da fidelidade canina ao ex-presidente de olho em seu eleitorado e quem tentará caminhar com as próprias pernas e conquistar votos ao apresentar trabalho e propostas.

Com o tarifaço, Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo e Zema em Minas tiveram a chance de se afastar de Bolsonaro e garantir aos empresários que eles têm mais apreço pela cartilha liberal e de proteção da indústria e comércio do que pelo discurso autocentrado do bolsonarismo. Até agora, não o fizeram. O mineiro, ainda mais que o carioca paulistanizado, parece incapaz de sequer elaborar o motivo de sua indignação com as decisões da Justiça contra o ex-presidente e se contenta em apenas manifestá-la incessantemente. 

O inesperado ponto de inflexão na política brasileira vindo direto de Washington a um ano das eleições pode traçar os rumos dos atores que disputarão votos em 2026. Ainda falta muito para ir às urnas, mas as posturas adotadas no atual momento terá um impacto em como os fatos se desdobrarão até outubro do próximo ano.

Datas comemorativas

Tramita entre o primeiro e o segundo turno na Câmara Municipal de BH um projeto que proíbe a instituição de mais de uma data comemorativa no mesmo dia na cidade. O texto é de Uner Augusto (PL) e a medida foi proposta e apoiada pelo mesmo grupo que, só neste ano, já brindou a capital com pérolas como o Dia dos Legendários e o Dia dos Métodos Contraceptivos Naturais. 

Ato bolsonarista

Depois do “cortejo da tornozeleira” ontem, BH terá neste domingo um ato pedindo o impeachment de Lula, Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco. O ato acontecerá durante a manhã na Praça da Liberdade e teve a convocação de manifestantes recrudescida após a adoção de medidas cautelares contra Jair Bolsonaro por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). O público nas últimas edições de protestos no local não chegou à casa das centenas.

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Cleitinho e Moraes

Desde que os Estados Unidos sobretaxaram o Brasil, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) tem mantido suas declarações sobre o tema restritas à defesa do impeachment de Alexandre de Moraes. O anúncio da suspensão do visto americano do ministro do STF foi recebido pelo parlamentar mineiro com mais uma defesa do impedimento do magistrado: “O pessoal de fora, como o Trump, está fazendo mais que a obrigação dos nossos senadores”, disse em vídeo publicado em seu perfil no Instagram.

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