Zema precisará repetir feito de Collor para se tornar presidente
Nas últimas sete eleições presidenciais, ocupantes de governos estaduais que tentaram chegar ao Palácio do Planalto tiveram campanhas frustradas
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Siga noEm uma gradação das esferas do Poder Executivo no Brasil, ser governador de um estado está logo abaixo da Presidência da República. Fazer o salto entre os cargos, no entanto, não é uma tarefa simples. Desde a redemocratização, apenas Fernando Collor de Mello (então no PRN) conseguiu deixar o comando estadual (Alagoas, no caso) e chegar imediatamente ao Palácio do Planalto nas eleições de 1989. Quase quatro décadas depois, Romeu Zema (Novo) pode ser mais um a tentar repetir o feito ao deixar a gestão de Minas Gerais e embarcar em uma empreitada nacional.
Durante a convenção nacional do Partido Novo no próximo sábado (16), Zema anunciará oficialmente sua pré-candidatura à Presidência da República. Com declarações e publicações nas redes sociais voltadas para o campo da política nacional, o governador mineiro já pavimenta seu caminho para se tornar mais conhecido além dos limites do estado que governa há dois mandatos, sendo reeleito no segundo turno em 2022.
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Zema escolheu a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, em São Paulo, para lançar sua pré-candidatura. Na cidade mais populosa do país, ele dará o passo simbólico no estado que teve os últimos registros de governadores tentando o salto do Palácio dos Bandeirantes rumo ao Palácio do Planalto. Todos sem sucesso.
Eleição presidencial de 2022
Na última eleição presidencial, em 2022, nenhum candidato chegou ao pleito vindo diretamente de um governo estadual, embora Ciro Gomes (PDT) já tenha administrado o Ceará entre 1991 e 1994. Em 2018, Geraldo Alckmin (então no PSDB) tentou sair diretamente do cargo de governador paulista para a presidência, mas terminou na quarta colocação, com apenas 4,76% dos votos.
Em 2014, novamente, nenhum candidato saiu diretamente do cargo de governador, embora o então senador Aécio Neves (PSDB) chegasse à disputa com a experiência de ter gerido Minas Gerais entre 2003 e 2010. O mineiro chegou ao segundo turno, mas perdeu o pleito para Dilma Rousseff (PT), reeleita com 51,64% dos votos válidos. No pleito anterior, a petista havia derrotado o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
Lula superou o atual vice-presidente
Em 2006, Lula foi reeleito deixando para trás o então governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que teve apenas 39,17% dos votos válidos no segundo turno. Na primeira eleição do petista, o governador fluminense Anthony Garotinho (então no PSB) entrou no páreo, mas ficou pelo caminho no 1º turno com 17,86% dos votos válidos.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito presidente pela primeira vez em 1994 deixando dois governadores para trás ainda no primeiro turno: Orestes Quércia (PMDB), de São Paulo, teve 4,38% dos votos, enquanto Leonel Brizola (PDT), do Rio de Janeiro, teve 3,18% dos votos. Quatro anos depois, FHC foi reconduzido ao Planalto sem enfrentar nenhum governador no pleito.
“A carreira do Zema é sui generis, porque ele é um empresário que se lança ao Governo de Minas, ganha a eleição e se reelege”
Bruno Viveiros, pesquisador do Projeto República da UFMG
Em 1989, último caso de sucesso de um governador na disputa presidencial, o alagoano Collor também desbancou Leonel Brizola, que vinha de seu primeiro mandato à frente do estado do Rio de Janeiro entre 1983 e 1987.
Resultados das eleições diretas no Brasil
Em 24 eleições diretas para a Presidência da República no Brasil, o cenário está perfeitamente dividido: em 12 pleitos, o vencedor já havia ocupado o cargo de governador, na outra metade, o presidente eleito não passou pela experiência de chefiar um estado. Em uma análise mais aprofundada, porém, se percebe que o passo que Zema planeja dar em 2026 tem se tornado cada vez mais complicado.
Até 1989, último sucesso presidencial de um governador, os brasileiros já haviam participado de 16 eleições para definir o comandante nacional. Em 12 delas, o cargo ficou com alguém que já havia governado um estado, três quartos das disputas. Desde então, zero sucesso para os chefes de executivos estaduais.
O cenário de disputa eleitoral mudou bastante em mais de 130 anos de República. Um ponto óbvio do momento midiático contemporâneo é que, para se tornar nacionalmente conhecido e eleitoralmente competitivo, não é necessário que um candidato acumule anos de experiência como chefe de Executivo. O próprio Zema, em uma escala estadual, chegou ao governo de Minas em 2018 sem ter exercido nenhum cargo político, como recorda o doutor em história e pesquisador do Projeto República da UFMG, Bruno Viveiros.
“A carreira do Zema é sui generis, porque ele é um empresário do setor privado que se lança ao Governo de Minas, ganha a eleição e se reelege em seguida. Nunca teve nenhum outro cargo e não passou por essa formação política dentro de um partido. Isso já o diferencia de outros governadores que concorreram à presidência”, avalia.
O que explica o cenário no início da República?
Do ponto de vista histórico, outro fator que ajuda a explicar a discrepância entre o sucesso de governadores na empreitada federal antes de 1989 é a fragilidade democrática dos primeiros anos da República. Entre 1894 e 1930, o país teve 11 eleições presidenciais. Nestas, apenas Hermes da Fonseca e Epitácio conseguiram êxito e se tornaram o oitavo e 11º presidentes do Brasil, respectivamente. Viveiros explica como se dava a escolha dos candidatos naquele contexto.
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“Era uma política oligárquica construída desde o município, quando os grandes proprietários rurais elegiam a sua base eleitoral. Esses grandes proprietários tinham acesso direto ao Palácio da Liberdade, no caso de Minas. Era uma política municipal que garantia a política estadual. Minas e São Paulo se revezavam na Presidência da República por conta da política do café com leite, já que eram as oligarquias mais poderosas. Nesse período, era natural que o governador de Minas seria eleito presidente e, logo após, o governador de São Paulo ocuparia o cargo. Quando não era um governador, era um ministro de estado indicado que tinha uma uma carreira política já consolidada”, aponta o historiador.