Opositores do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), repetindo o que ocorreu nas capitais e em outras grandes cidades do país, fizeram uma manifestação em defesa da anistia para os envolvidos nos atos do 8 de janeiro, neste domingo (03/08), em Montes Claros, no Norte de Minas. Diferente de outros protestos anteriores promovidos pelos conservadores, o ato contou com as presenças de políticos que exercem cargos eletivos, entre eles o prefeito da cidade, Guilherme Guimarães (União Brasil), mas nenhum deles fez discurso ao microfone.
A manifestação aconteceu na Avenida Deputado Esteve Rodrigues (a conhecida “Avenida Sanitária”) e ocupou um dos lados da via, situada na região central da cidade, em frente a um restaurante.
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Além do prefeito, o ato contou com as presenças do deputado federal Delegado Marcelo Freitas (União Brasil), do deputado estadual Arlen Santiago (Avante), do vice-prefeito Otávio Rocha (Progressistas) e dos vereadores Carol Figueiredo (PL) e Odair Ferreira (União Brasil).
O prefeito Guilherme Guimarães e os deputados Delegado Marcelo Freitas e Arlen Santiago apareceram em vídeos divulgados nas redes sociais sobre o movimento em defesa da “Anistia Já”. Mas, assim como o vice-prefeito e os vereadores, não subiram no carro de som usado na manifestação, na qual houve palavras de ordem e cartazes com pedidos de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, além da defesa da anistia.
O ato foi sucedido por uma passeata em percurso pela Avenida Sanitária, com cartazes que exibiam frases como "Anistia Já", "Fora Lula" e "Fora Moraes", "Censura não", "Ditadura não" e "Queremos paz". Os manifestantes foram acompanhados de perto pela Polícia Militar, de maneira pacífica.
Uma das regiões mais carentes do estado, o Norte de Minas é tradicionalmente considerado um ponto de apoio ao presidente Lula, sendo que a primeira mulher do petista nasceu em Montes Claros (414,3 mil habitantes).
No segundo turno da eleição de 2022, Montes Claros foi uma das três cidades norte-mineiras em que Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula. Ele recebeu 111.116 votos (51,5%) contra 111.080 (48,5%) dados ao atual presidente. A vitória de Bolsonaro contra Lula no segundo turno de 2022 foi resultado do empenho do então prefeito Humberto Souto (falecido em fevereiro deste ano) em prol do representante do PL.
Os deputados e vereadores que estiveram com Guilherme Guimarães na manifestação “Anistia Já” integram o grupo de sustentação do atual prefeito de Montes Claros. Guimarães foi eleito com o apoio de Humberto Souto, de quem era vice.
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O ‘silêncio’ político durante o ato dos conservadores em Montes Claros foi adotado em acordo entre os ocupantes de cargos eletivos e a organização do ato. “Nas nossas manifestações anteriores, realizadas desde 2013 e 2014, nunca teve fala de nenhum político. Então, (desta vez) mantemos a mesma linha de não dar (oferecer) fala a ninguém que tem mandato”, afirmou o militar aposentado Levi Castilho, um dos organizadores do protesto.
Segundo ele, o “impedimento” dos pronunciamentos de políticos no ato teve como objetivo “evitar competição” entre ocupantes de cargos políticos na manifestação e demonstrar que a iniciativa é de pessoas comuns, de forma apartidária.
Por outro lado, ele destacou a importância do apoio das lideranças políticas. “Hoje, tivemos a retomada das manifestações (da direita) em Montes Claros. Ela superou todas as expectativas e nos surpreendeu muito porque, pela primeira vez, nós tivemos pessoas que têm mandato, como prefeito, deputado federal, deputado e vereador. Tivemos as presenças de muitas pessoas do segmento conservador. E isso para nós é muito interessante, esse apoio de forma presencial que mostra a legitimidade do nosso movimento”, afirmou Castilho.
O militar reformado salientou que a manifestação em Montes Claros também foi um “ato de defesa de uma presa política da cidade”. Ele se referiu à advogada Aline Leal Bastos Morais de Barros, que foi detida em 18 de abril de 2023 por determinação do ministro do STF Alexandre Moraes pela suspeita de envolvimento nos atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Atualmente, ela cumpre medidas cautelares — uma delas, o uso de tornozeleira eletrônica — impostas por Moraes.
No mesmo tom de outros participantes do protesto em Montes Claros, que exibiram cartazes “Aline livre”, Levi Castilho disse que a advogada está sendo injustiçada, tendo em vista que, segundo ele, ela apenas estava em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 e divulgou um vídeo nas redes sociais, sem entrar em nenhum prédio dos três poderes que foram depredados. “Temos uma pessoa que está usando tornozeleira eletrônica, impedida de sair de casa à noite nos fins de semana. E qual o crime que ela cometeu? Nenhum. Não depredou nada, não fez nada. Então, é uma presa política”, afirmou Castilho.
Presidente de entidade de classe e polêmica por apoio a Bolsonaro
O ato em defesa da “Anistia Já” na cidade-polo do Norte de Minas também contou com a participação do presidente da Sociedade Rural de Montes Claros, Flavio Gonçalves Oliveira. Na última semana, a Sociedade Rural divulgou uma “nota de solidariedade” ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Na nota, a entidade lembra que, ao comunicar o aumento de tarifas para importação de produtos brasileiros, o presidente americano Donald Trump “criticou abertamente o processo em curso contra Bolsonaro no STF, classificando-o como politicamente motivado”.
Ainda na publicação, a Sociedade Rural defende a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, alegando que busca a pacificação do país. “Alertamos que a continuidade desse ambiente de confronto, especialmente contra aqueles que, como nós, se dedicam ao trabalho, à geração de empregos e ao desenvolvimento do país, não contribui para a pacificação nacional. Pelo contrário, amplia as dificuldades enfrentadas por quem vive do esforço diário e acredita no progresso do Brasil”, argumenta.
A nota da Sociedade Rural foi duramente criticada pelo deputado federal Paulo Guedes (PT), que tem base no Norte de Minas. Em vídeo publicado nas redes sociais, o deputado petista disse que a entidade ruralista “‘deveria ter feito críticas ao tarifaço de Trump”, “ao invés de bater palminhas para essa turma”, se referindo ao presidente americano, a Jair Bolsonaro e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro. Por outro lado, produtores rurais e apoiadores da direita criticaram o petista, acusando-o de ser “contra o agro e contra o setor produtivo”.
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Ouvido pela reportagem durante a manifestação deste domingo, Flávio Oliveira evitou falar sobre a polêmica relacionada à nota de apoio a Bolsonaro e o embate com o deputado do PT. Ele alegou que compareceu ao protesto em defesa da anistia e por apoiar as pessoas que estão presas ou cumprindo restrições “injustamente”, entre as quais citou o nome da advogada Aline Bastos, que disse ser sua amiga pessoal. “Ela sequer entrou em prédio onde ocorreu quebra-quebra”, alegou.