Vídeo que circula nas redes sociais de um homem idoso com tornozeleira eletrônica que afirma não saber por que está com o dispositivo e o confunde com um relógio não retrata Miguel Cândido da Silva, um dos condenados pelos atos de 8 de janeiro, ao contrário do que sugerem algumas das postagens. O advogado Samuel Castro, que representa Miguel Cândido, negou ao Comprova se tratar de seu cliente nas imagens.
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A gravação tem sido republicada por diversas páginas nos últimos meses. Em uma busca reversa com prints do vídeo, no entanto, o Comprova identificou que o vídeo foi compartilhado pela primeira vez em 23 de abril. A maior parte das publicações não identifica o homem do vídeo, menciona apenas que seria um “vendedor de água de 73 anos”.
Duas postagens dos dias 10 e 12 de agosto de usuários no Facebook, no entanto, afirmam nas legendas se tratar de Miguel Cândido da Silva, que foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão em março de 2024 por acusações de tentativa de golpe de Estado, dano ao patrimônio público, associação criminosa e outros crimes associados ao 8 de janeiro, mas está agora em prisão domiciliar.
O Comprova também pediu à defesa de Miguel Cândido se poderia enviar uma foto dele, mas Castro informou que a família não se sentiu à vontade para o envio. Também foi procurado o advogado Ezequiel Silveira, que representa a Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav). Ele disse que a Asfav tentou por várias vezes identificar quem é o homem do vídeo, mas não conseguiu relacioná-lo ao 8 de janeiro.
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Em depoimento à Justiça, Miguel Cândido afirmou que estava em casa, em Brasília (DF), no momento das invasões e que ouviu a notícia no rádio. Ainda segundo ele, “como às vezes trabalha como vendedor ambulante, resolveu ir para vender água e refrigerante”, mas que “como chegou tarde, desistiu de levar coisas para vender”. Ainda assim, foi até o interior dos prédios “por curiosidade”. Miguel afirmou ter entrado no Palácio do Planalto “porque estava tudo aberto” e “achou que podia entrar”.
O Comprova consultou o STF, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) sobre o vídeo, mas os três órgãos informaram que não poderiam buscar detalhes sobre tal processo sem a confirmação do nome da pessoa que aparece nas imagens.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
Tentamos contato com vários perfis que compartilharam o vídeo do homem. Usando ferramentas de inteligência artificial e a própria busca manual no Google e em redes sociais, o registro mais antigo de compartilhamento do vídeo apresentando o homem como condenado pelo 8 de janeiro foi feito pelo portal AuriVerde, em abril deste ano.
O portal em questão tem grande alcance, com 2,37 milhões de inscritos no Youtube; 153 mil seguidores no Instagram; além dos ouvintes da rádio de mesmo nome, que está sediada em Bauru (SP). O Comprova pediu a um membro da equipe da rádio o contato de quem teria enviado o vídeo, mas ele não o encontrou.
O vídeo investigado pelo Comprova tem circulado em publicações no Facebook, Instagram, TikTok e X, com disseminação tão amplamente difundida que é difícil estimar quantas pessoas já o visualizaram. Em apenas um dos perfis no X, o vídeo foi visto por 638 mil usuários; em outro, no Instagram, mais de 483 mil usuários curtiram o vídeo.
Por que as pessoas podem ter acreditado
O vídeo faz um apelo emocional, mostrando um homem que aparentemente não tem consciência do motivo pelo qual está usando uma tornozeleira eletrônica. Ele chega a chamar o objeto de “relógio”. As publicações deste vídeo estão recheadas de comentários de pessoas compadecidas com a situação dele.
Além disso, o vídeo tem sido publicado por páginas que se dizem jornalísticas, apesar de não apresentarem pontos fundamentais em uma notícia, como a identificação de quem aparece no vídeo.
Fontes que consultamos
Samuel Castro, advogado de Miguel Cândido, citado em uma das postagens como sendo o homem que aparece no vídeo; Ezequiel Silveira, advogado da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav); portal AuriVerde; Defensoria Pública da União (DPU); Supremo Tribunal Federal (STF); e Ministério Público Federal (MPF). ChatGPT para fazer a busca reversa e tentar chegar à identidade do homem que aparece no vídeo.
Por que o Comprova investigou essa publicação
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.