Operação rejeito: servidores ambientais protestam em frente à PF
Servidores destacam conduta ética da carreira e cobram fim de indicações políticas em cargos-chave da área ambiental
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Servidores do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) fazem, na tarde desta sexta-feira (19/9), uma manifestação em frente à sede da Polícia Federal, na Avenida Raja Gabaglia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O ato é uma ação simbólica de apoio à Operação Rejeito, deflagrada nesta semana para desarticular um esquema bilionário de corrupção e fraudes em licenciamentos ambientais em Minas Gerais.
Em greve desde o dia 1º deste mês, os servidores destacam que, além do apoio à investigação, a mobilização busca reforçar a conduta ética dos profissionais de carreira, em contraste com os nomes citados no escândalo, e denuncia o que consideram um processo de enfraquecimento deliberado da política ambiental mineira ao longo dos últimos anos.
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“Os servidores auxiliaram nessa operação que hoje tem resultado. Nós oferecemos documentação, temos meses, anos, de denúncias nos microfones da Assembleia, procuramos as autoridades e agora isso vem a público para mostrar que é o servidor de carreira que passa esse assédio dentro do órgão. Agora quando vem a público a população fica sabendo do tamanho do prejuízo para o nosso meio ambiente, para a sociedade e para o nosso futuro”, afirmou Wallace Alves, presidente do Sindicato dos Servidores Estaduais do Meio Ambiente (Sindsema).
A categoria diz que há muito tempo alerta para a substituição de profissionais concursados por indicados políticos em cargos estratégicos, o que, na avaliação dos servidores, abriu caminho para interferências externas e irregularidades agora escancaradas pelas prisões e denúncias da operação. “Hoje nós amargamos um momento em que mais de mil servidores saíram da nossa secretaria desde 2016. Nós estamos em um ponto de enfraquecimento institucional sem precedentes”, afirma Alves.
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Para os servidores, o caso escancara a urgência de recompor e valorizar os quadros técnicos do Sisema, que completa 35 anos em 2026. Eles defendem concursos públicos, melhores condições de trabalho e o fim de indicações políticas em cargos estratégicos.
Escândalo nos licenciamentos
A Operação Rejeito já levou à prisão de nomes de alto escalão da área ambiental. O ex-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Rodrigo Gonçalves Franco, está entre os detidos, acusado de receber pagamentos regulares para favorecer empresas em processos de licenciamento. Ele havia sido exonerado pelo governo no último sábado (13/9), poucos dias antes da prisão, sob a justificativa de “burburinho” em torno de sua conduta.
Outros quatro servidores foram afastados ou exonerados nesta semana, após determinação da Justiça Federal. Entre eles está Breno Esteves Lasmar, então diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), e Arthur Ferreira Rezende Delfim, diretor de regularização ambiental da Feam, também preso na quarta-feira (17/9).
O gestor ambiental Fernando Baliani da Silva, também afastado do cargo nesta semana, é apontado pela PF como peça-chave no esquema, tendo autorizado licenças e acordos que favoreceram mineradoras investigadas, como a Fleurs Global Mine. Já Lirriet de Freitas Libório Oliveira, que ocupava função gratificada na Feam, foi dispensada do cargo.
Em coletiva de imprensa realizada na quarta, o secretário de Comunicação do governo estadual, Bernardo Santos, ressaltou que parte dos servidores já respondia a processos administrativos instaurados pela Controladoria-Geral do Estado, ainda que os indícios fossem preliminares. Esses procedimentos, no entanto, corriam em sigilo e ainda não tinham produzido responsabilizações efetivas. “A gente só tem poder administrativo e obviamente tem que apurar as coisas com a profundidade para não ser injusto com ninguém. Mas, o poder de polícia, de investigar e prender as pessoas, só a polícia federal tem”, disse.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de novos nomes surgirem nas apurações, Santos preferiu não antecipar informações e voltou a reiterar que os processos administrativos tramitam em sigilo. Reforçou ainda que o governo não compactua com práticas lesivas ao Estado e que qualquer irregularidade identificada será investigada.
Impactos bilionários
Segundo a Polícia Federal, o esquema envolvia o pagamento de mais de R$ 3 milhões em propina a servidores. Parte do dinheiro era repassada mensalmente, em troca da liberação de licenças ambientais que atendiam interesses privados em detrimento da proteção ambiental.
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A Justiça determinou ainda o sequestro e bloqueio de bens avaliados em R$ 1,5 bilhão, para assegurar o ressarcimento dos cofres públicos e impedir a continuidade da movimentação financeira do grupo.