A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS confirmou para quinta-feira (25/9), a partir das 9h, o depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes, que ficou conhecido como o “Careca do INSS” depois de ser apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos principais operadores de um esquema que teria lesado milhões de aposentados e pensionistas em todo o país.

Antunes é tratado pelos parlamentares como peça-chave para esclarecer a dimensão das fraudes no sistema previdenciário.

A expectativa em torno da oitiva é alta. O depoimento já havia sido marcado para a semana passada, mas acabou adiado após a ausência do investigado. Desta vez, segundo integrantes da comissão, há o compromisso formal da defesa para que ele compareça, ainda que tenha a prerrogativa de permanecer em silêncio.

O presidente da CPMI, Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que a oitiva pode ser “um divisor de águas para comprovar a rede de corrupção que vem sendo investigada”. "Na quinta vamos ouvir um dos nomes mais importantes. Desta vez temos o compromisso do advogado e também dele próprio de participar, ainda que fique calado”, afirmou o senador em vídeo encaminhado à imprensa.

Preso preventivamente desde o dia 12 de setembro, por ordem da PF, Antunes foi alvo da Operação Cambota, que cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em Brasília e São Paulo. A ação investigou crimes de obstrução de investigações, ocultação de patrimônio e associação criminosa.

De acordo com a PF, Antunes e o empresário Maurício Camisotti são considerados operadores de um esquema fraudulento que teria prejudicado cerca de 4 milhões de beneficiários do INSS, por meio de descontos associativos não autorizados.

O caso ganhou repercussão nacional por envolver valores vultosos e um sofisticado esquema de corrupção. A “Operação Sem Desconto”, deflagrada em abril pela PF em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), apura que, entre 2019 e 2024, aposentados e pensionistas tiveram descontos ilegais que somam cerca de R$ 6,3 bilhões.

Quem é o “Careca do INSS”

Antônio Carlos Camilo Antunes tornou-se o rosto mais conhecido do esquema, citado pelo Ministério Público Federal (MPF) como o “epicentro da corrupção ativa” investigada. Ele é apontado como sócio de várias empresas ligadas a entidades suspeitas de operacionalizar a chamada “Farra do INSS”, um emaranhado de organizações usadas para aplicar descontos fraudulentos e, supostamente, repassar vantagens indevidas a agentes públicos.

Em maio, durante uma das fases das investigações, a Polícia Federal apreendeu veículos de luxo avaliados em mais de R$ 3 milhões em sua residência. No último dia 9, a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio de bens de Antunes e de suas empresas, como parte da estratégia para ressarcir os aposentados e pensionistas prejudicados. Dias antes, a própria AGU já havia congelado contas e patrimônios de 12 associações suspeitas de participação no esquema.

Pressão política

Apesar da prisão preventiva, Antunes resistia a prestar esclarecimentos na CPMI. O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), chegou a conceder habeas corpus que o dispensava de comparecer à comissão. Diante disso, parlamentares intensificaram a pressão, convocando inclusive familiares dele -- a esposa, Tania Carvalho dos Santos, e o filho, Romeu Carvalho Antunes --, embora ainda sem data definida para os depoimentos.

Na avaliação de Carlos Viana, a CPMI cumpre um papel de dar transparência à sociedade sobre o caso. “Estamos trabalhando as informações para identificar onde está o dinheiro para que a gente possa buscar devolver ao país. Não é justo que quem paga imposto continue sustentando essa roubalheira, tapando um buraco de bilhões”, afirmou o senador.

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Ele reforçou ainda que o esquema expôs “de forma vergonhosa” a fragilidade do sistema previdenciário. “A CPMI tem a obrigação de dar ao povo brasileiro transparência em toda essa roubalheira, desse esquema absurdo que tomou conta da Previdência, descoberto efetivamente depois das operações da Polícia Federal”, declarou.

Antunes deve ser questionado sobre a engrenagem que sustentava a fraude, quem eram os beneficiários políticos e empresariais da rede e de que forma os recursos eram movimentados. Caso decida colaborar, poderá oferecer pistas fundamentais para que a comissão avance na responsabilização de envolvidos e na recuperação de valores desviados.

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