DESPEDIDA

Discurso de Barroso alerta contra radicalismo: ‘A gente deve ter cuidado’

Ao anunciar aposentadoria antecipada, ministro Luís Roberto Barroso faz apelo por moderação e pela gentileza na vida pública e privada

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Em discurso emocionado, após 12 anos e três meses de atuação no Supremo Tribunal Federal (STF) e dois anos à frente da Presidência da Corte, o ministro Luís Roberto Barroso fez uma firme defesa da democracia e da liberdade de imprensa, alertando para os riscos do extremismo político, das fake news e da intolerância. As afirmações foram feitas em plenário, durante o anúncio de sua aposentadoria antecipada.

“Apesar da agressividade e da intolerância que ainda se vê, reafirmo minha fé nas pessoas e na boa-fé. O radicalismo é inimigo da verdade. A gente, na vida, deve ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões”, disse, recebendo aplausos de pé dos colegas.

A despedida começou com uma declaração de gratidão à educação pública. Nascido em Vassouras (RJ), Barroso lembrou suas origens e atribuiu seu caminho na magistratura ao acesso gratuito à educação.

“Reafirmo minha crença na educação, sobretudo na educação pública, para quem precisa. Eu nasci em uma família simples e sem parentes importantes. Estudei o primário e o ginásio em escolas públicas e me formei em Direito em uma maravilhosa universidade pública, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Devo quase tudo aos meus professores”, afirmou.

Em um discurso pontuado por pausas emocionadas e aplausos dos colegas da Corte, ele reforçou a importância da gentileza, da civilidade e da empatia nas relações públicas e privadas. “Reafirmo minha fé nas pessoas, no bem, na boa-fé, na vontade, no respeito ao próximo e na gentileza sempre que possível”, disse. “Fora dessa bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade.”

A certa altura, Barroso citou o poeta Pablo Neruda para ilustrar seu sentimento diante da despedida. “Mil vezes tivera que nascer, e eu queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, eu queria morrer aqui — mas não agora”, brincou, arrancando risos e aplausos dos colegas, mencionados individualmente no discurso.

Em outro trecho de seu discurso, o ministro reforçou que a política e o debate público precisam reencontrar o caminho do diálogo, defendeu a atuação da imprensa e a autonomia das instituições. “Nesses tempos de desinformação e de perda da importância da verdade, nunca precisamos tanto da imprensa, que se move pela ética e pela técnica jornalística. Checa as notícias e distingue fato de opinião. Mentir precisa voltar a ser errado de novo”, declarou.

Indicado ao STF em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff (PT), o ministro já havia sinalizado, em entrevistas, que pensava em deixar a Corte e buscar “um novo espaço fora da vida togada”. Na segunda-feira (6/10), ele havia transmitido a Presidência do Supremo ao ministro Edson Fachin.

“Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos, mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta”, afirmou. Disse ainda que pretende dedicar mais tempo à literatura, à espiritualidade e à poesia, e que quer retomar uma vida sem a exposição e o peso das decisões públicas.

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Durante o pronunciamento, o ministro fez uma homenagem a Alexandre de Moraes, destacando o papel do colega na defesa das instituições democráticas. “Eu e todos nós somos testemunhas da sua dedicação ao trabalho, ao país e à causa da proteção das instituições. Somos solidários com os preços pessoais elevados que está tendo que pagar e que, um dia, a história há de reconhecer e reparar”, afirmou.

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