Barroso nega interesse em cargo político e planeja vida acadêmica após o STF
Ministro anunciou saída do STF nesta quinta-feira (9/10). Ele afirmou que escolha foi motivada por "encerramento de ciclo"
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O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que vai se dedicar à vida acadêmica após aposentadoria na Corte. Em entrevista a jornalistas após anunciar que iria deixar o cargo, nesta quinta-feira (9/10), o magistrado afirmou que recebeu convites para trabalhar como professor em instituições de ensino e garantiu que não tem interesse em atuar em nenhum cargo político.
“Podem imaginar que eu estou cheio de planos, e eu não tenho planos. Meus planos, neste momento, são acadêmicos. Escrever. Aceitei um convite para estar em uma instituição na Alemanha, aceitei um convite para dar um curso como professor visitante em janeiro. No ano que vem, vou começar a pensar na minha vida. Mas eu não tenho nenhum projeto”, disse.
Barroso deixa a Suprema Corte após 12 anos no cargo. Segundo ele, é um encerramento de ciclo. “Eu apenas tive uma sensação no meu coração de ter cumprido um ciclo. Eu fiz tudo o que podia fazer e era hora de abrir espaço para as pessoas que têm outras ideias. A vida é assim. A gente tem que saber ceder o lugar, na hora certa”, destacou.
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“O presidente Lula suspeitava (a intenção de deixar o cargo). Eu estive com ele no sábado, no show da Maria Bethania, e eu disse para ele que eu precisava falar com ele algo importante. E tínhamos marcado uma audiência para ontem. Mas ele precisou adiar, de modo que eu não consegui falar com ele abertamente, salvo dois anos atrás, quando eu disse que tinha essa possível intenção que, após a presidência, deixaria a vaga”, declarou.
Luís Roberto Barroso declarou que vai sentir falta do convívio com os outros integrantes da Corte. “Eu gosto muito de desenvolver relações de amizade, de afeto, de pessoas que se ajudam, que conversam, que se admiram. Vou sentir muita falta disso. Eu gosto de pensar, de trabalhar para o Brasil. Aqui era um espaço. Mas não é único espaço da vida. Fora daqui, eu tenho até mais liberdade de pensar e de ajudar no que posso”, disse.
Questionado, ele ressaltou que não tem interesse em assumir cargo político nem nenhuma embaixada. Barroso também afirmou que não tem interesse em retomar a advocacia.
Doze anos
O tempo de doze anos no cargo já era planejado por Barroso. Ele afirmou que, desde o início, tinha em mente que esse seria o período ideal para a passagem dele pelo Supremo.
“Eu achei que cumpri o meu papel e que era hora de ceder o lugar para outra pessoa que entrasse para fazer uma carreira. Desde a Constituinte, eu sempre defendi o modelo alemão, que é o mandato de 12 anos, que foi o tempo que eu fiquei aqui”, disse.
“Eu, pessoalmente, sempre tive na minha cabeça que 12 anos era o tempo suficiente para conseguir fazer tudo de bom que se pudesse fazer e depois pudesse abrir caminho para quem esteja chegando”, acrescentou o ministro.
Com os jornalistas, o magistrado também elogiou o trabalho da imprensa tradicional na cobertura diária de notícias.
“A gente nunca precisou tanto da imprensa profissional que se move pela ética e pela técnica jornalística para a gente restabelecer espaços mínimos de liberdade, de espaços comuns, a partir de qual as pessoas desenvolvem a sua opinião. A imprensa tem esse papel. O mundo das plataformas digitais criou narrativas dissociadas da verdade e a gente precisa fazer com que mentir volte a ser errado de novo”, destacou.
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, anunciou, nesta quinta-feira (9/10), a saída da Corte após 12 anos no cargo. Em discurso de despedida, ele se emocionou e disse que “é hora de seguir outros rumos”. O anúncio foi feito no fim da sessão do STF.
“É hora de seguir novos rumos. Não tenho apego ao poder e gostaria de viver a vida que me resta sem as responsabilidades do cargo. Os sacrifícios e os ônus da nossa profissão acabam se transferindo aos familiares e às pessoas queridas”, afirmou Barroso.