Já é tradicional do final de ano uma edição especial da coluna Hit, do jornal Estado de Minas, em que personalidades nomeiam as “palavras mais chatas do ano”. Em 2025, o jornalista Helvécio Carlos conversou com o pré-candidato ao governo de Minas Gerais Gabriel Azevedo (MDB), que lançou dois termos que marcaram o cenário político deste ano: “anistia” e “dosimetria”.

“Além de chatas, são corrosões democráticas”, explicou o ex-presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. “Dosimetria”, inclusive, foi o termo mais citado entre os entrevistados pela coluna.

Procurado pela reportagem, Gabriel contou que as escolhas foram motivadas por um “sentido histórico perigoso” que os termos carregam no país, relembrando as intervenções das forças armadas que marcam a história do Brasil, desde a própria instituição da República.

“Atravessamos toda a história republicana com uma presença permanente das Forças Armadas como ator político disposto a interromper o curso democrático sempre que os resultados da política civil desagradam determinados grupos econômicos, ideológicos e institucionais. Isso não é opinião. É história documentada”, disse.

O emedebista apontou três obras que considera fundamentais para a compreensão do Brasil: a série “Ditadura”, de Elio Gaspari; o livro “Utopia autoritária brasileira”, de Carlos Fico; e a coletânea “Forças Armadas e política no Brasil republicano”, de Maria Celina D'Araujo e Lucas Pereira Rezende.

'Mensagem pedagógica'

Gabriel lamentou que os conjuntos não tenham sido lidos “por muita gente que não pensa duas vezes antes de escrever uma opinião sem fundamento nas mídias sociais” e apontou uma “conclusão incômoda”.

“No Brasil, sempre que há uma tentativa de ruptura democrática, surge logo depois uma pressão por anistia ampla, esquecimento institucional, punições simbólicas. Foi assim após 1937, 1945, 1964, 1988”.

Ele vê esse “padrão de indulgência” como causa para a repetição das tentativas de atos golpistas: “Quando não há responsabilização, a mensagem transmitida é simples, direta e pedagógica. Vale a pena tentar de novo. E tentam”.

“A democracia brasileira só se fortalece quando o custo da ruptura deixa de ser simbólico, tolerável, recorrente e passa a ser real”, completou.

Egresso do Colégio Militar de Belo Horizonte, instituição do Exército Brasileiro, Gabriel disse que aprendeu na escola “a valorizar a democracia” e o papel das Forças Armadas na defesa da ordem constitucional.

Anistia e dosimetria

Os termos entraram na pauta do movimento bolsonarista diante das condenações pela tentativa de golpe de Estado orquestrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com participação de membros do seu governo, das Forças Armadas e da sociedade civil.

Considerando as injustas as penas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os apoiadores do ex-presidente clamaram por uma “anistia ampla, geral e irrestrita” - expressão, inclusive, utilizada por opositores da ditadura militar na luta por liberdade na reta final do regime.

Diante da resistência do Congresso Nacional em aprovar uma medida tão drástica - que provavelmente enfrentaria grande resistência também no STF - a anistia foi substituída por “dosimetria”, em um projeto de lei para reduzir penas dos condenados do 8 de janeiro que abre espaço para que os demais golpistas - incluindo Bolsonaro - tenham as punições aliviadas.

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O PL da Dosimetria foi aprovado no Congresso e chegou à mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já anunciou que vai vetá-lo e tem até 12 de janeiro para tal. Após o veto, o texto volta ao parlamento e precisa de maioria absoluta na Câmara e no Senado para ser promulgado.

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