Cannabis medicinal: um alívio para endometriose?
Dor mal controlada com medicamentos e efeitos colaterais indesejáveis de fármacos convencionais estão entre os motivos para uso da substância
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Siga noA endometriose é uma condição ginecológica comum, que afeta cerca de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva mundialmente, alcançando até 190 milhões de pessoas. A doença, que atinge mulheres em qualquer fase da vida reprodutiva, é conhecida por causar inflamação e dor, especialmente durante o período menstrual.
No Brasil, estima-se que 8 milhões de mulheres convivem com a doença, que pode causar fortes dores e comprometer a qualidade de vida. Dependendo dos sintomas, o diagnóstico pode levar entre sete e nove anos. Por isso a necessidade de uma avaliação clínica detalhada, desde os primeiros sintomas.
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De acordo com Thiers Soares, especialista em endometriose, um exame ginecológico pode revelar nódulos ou espessamentos suspeitos. Se a endometriose estiver presente em áreas mais altas do intestino, ela pode não ser detectada apenas pelo exame físico, sendo necessário a realização de exames de imagem.
A endometriose pode se manifestar por meio de diversos sintomas, frequentemente agrupados em seis categorias, conhecidas como os “6 Ds”: Dor na menstruação, Dor na relação sexual, Dor ao evacuar, Dor ao urinar, Dor pélvica crônica e Dificuldade para engravidar.
O tratamento é adaptado ao estágio da doença e aos sintomas individuais, com o objetivo de mitigar a progressão e melhorar a qualidade de vida. Tratamentos não cirúrgicos incluem o uso de medicamentos para reduzir a inflamação e a dor, bem como terapias hormonais que podem regular o ciclo menstrual e aliviar os sintomas. No entanto, essas abordagens tendem a ser paliativas, focando no alívio dos sintomas em vez de erradicar a doença.
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Em casos mais severos, em que há envolvimento significativo de órgãos como intestinos, ovários e bexiga, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. "A cirurgia busca remover o tecido fibrótico da endometriose e restaurar a anatomia normal, preservando a função dos órgãos afetados. Procedimentos minimamente invasivos, como a laparoscopia e a robótica, permitem uma recuperação mais rápida, geralmente de duas semanas, dependendo da natureza do trabalho da paciente", explica Thiers.
Pelo atraso no diagnóstico, muitas pacientes desenvolvem dor pélvica crônica (DPC). Mesmo após a cirurgia, é necessário o acompanhamento, visando o tratamento da dor eventualmente remanescente. Para a melhora da DPC, pacientes têm utilizado a cannabis medicinal, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e ansiolíticas, que ajudam a aliviar os sintomas da doença.
Segundo um novo estudo publicado no periódico Reproduction & Fertility, conduzido por pesquisadores da Universidade de Western Sydney, a maioria das pacientes que usam cannabis medicinal no tratamento da endometriose considera a planta mais eficaz e com menos efeitos colaterais do que os medicamentos farmacêuticos convencionais. Para a pesquisa, foram entrevistadas 899 pessoas, com idade média de 30,3 anos, em 28 países, que fazem uso de cannabis para controlar os sintomas dessa doença inflamatória.
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De acordo com o estudo, entre os principais motivos apontados para o uso da cannabis medicinal, destacam-se dor mal controlada com medicamentos (68,6%); efeitos colaterais indesejáveis de fármacos convencionais (56,3%); e medo de dependência de opioides e outros medicamentos (43,9%).
Para o especialista, o uso da cannabis medicinal deve ser adicionado como opção em pacientes com sintomas álgicos refratários aos tratamentos mais tradicionais, sendo necessária uma ampla divulgação de informação com o intuito de alertar a população da diferença dessa modalidade com o uso recreativo.
No Brasil, o uso de cannabis medicinal para endometriose é autorizado, mediante prescrição médica. Pacientes que fazem uso relatam avanços significativos na dor, sono e humor. No entanto, ainda faltam protocolos clínicos padronizados, e o acesso é limitado por custo e desconhecimento médico. A regulamentação para cultivo e produção nacional e a incorporação de flores à farmacopeia prometem facilitar o acesso e reduzir preços nas próximas etapas.
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