Diminuição da qualidade do sono é um dos primeiros sintomas da menopausa
Diminuição do estrogênio na menopausa pode piorar qualidade do sono e causar suores noturnos, resultando em fadiga, irritabilidade e instabilidade emocional
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A menopausa é marcada por uma série de mudanças, desafios e sintomas. E o que poucas mulheres sabem é que o efeito da menopausa sobre o sono é um dos mais comuns e mais precoces. “Ele pode aparecer já numa fase inicial da transição menopausal, em uma mulher que ainda tenho ciclos normais, que ainda não tem outros sintomas significativos. Essa pode ser uma das primeiras manifestações. Ela começa a dormir mal, ter dificuldade de adormecer, ter despertares noturnos, dificuldade de voltar a dormir, o sono mais leve, menos reparador”, diz o ginecologista Igor Padovesi, autor do livro Menopausa sem medo (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS).
“Os distúrbios do sono estão frequentemente associados às flutuações hormonais e aos sintomas vasomotores (como ondas de calor e suores noturnos) associados à menopausa. Além disso, uso de psicotrópicos, obesidade, outras comorbidades e a não realização de terapia hormonal também têm relação com o problema”, explica a ginecologista, com título de especialista em ginecologia e obstetrícia (TEGO), Ana Paula Fabricio.
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“Na menopausa, a diminuição do estrogênio pode causar a piora da qualidade do sono e a ocorrência de ondas de calor, que, quando acontecem à noite (suores noturnos), podem interferir no sono, o que frequentemente resulta em fadiga e pode levar à irritabilidade e instabilidade emocional”, explica o ginecologista e obstetra Nélio Veiga Junior, mestre e doutor em tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP).
“A progesterona é um hormônio que ajuda muito, principalmente na indução e regulação do sono, e o estrogênio está muito relacionado também a um prolongamento desse sono de qualidade, para que ele seja regenerador. Na menopausa, com a queda hormonal, há um comprometimento tanto para pegar no sono quanto para manter um sono que realmente proporcione descanso”, explica a ginecologista Patricia Magier, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
E como as mulheres muitas vezes enfrentam múltiplos desafios nesta fase da vida, como estar no topo da carreira e, ao mesmo tempo, cuidar de pais e adolescentes, elas podem simplesmente presumir que esses problemas de sono se devem ao estresse.
“Precisamos desmitificar isso para que elas entendam a importância de buscar ajuda médica. As mulheres não deveriam deixar ninguém lhes dizer que é apenas fadiga ou que faz parte por estar nesta faixa etária. É um sinal de que pode haver algo que vale a pena consertar”, diz a endocrinologista Deborah Beranger, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
“Estamos falando de um problema que impacta não só na qualidade de vida, na medida em que deixa a paciente menos produtiva, mais sonolenta e cansada durante o dia, mas que também é associado a um risco aumentado de problemas cardiovasculares e mortalidade”, completa a médica.
“As mulheres que estão passando pela menopausa definitivamente deveriam ficar de olho em seus hábitos de sono e levar isso a sério, procurando ajuda ao notar mudanças de padrão. Numerosos estudos encontraram uma ligação entre sono deficiente ou insuficiente e um risco aumentado de doenças cardíacas e derrames. Em 2022, a American Heart Association adicionou a duração do sono como uma das oito principais medidas de saúde cardiovascular, recomendando que os adultos durmam de sete a nove horas por noite”, alerta a especialista. “Problemas ligados à saúde mental, como ansiedade, alterações do humor, também dificultam muito para que você tenha um sono que realmente leve a um descanso”, comenta Patricia Magier.
O primeiro passo é consultar um profissional de saúde ou especialista em sono para identificar o problema e verificar se realmente trata-se de uma questão relacionada ao sono ou se o cansaço pode ter outra causa.
“O cansaço, no dia a dia, pode ter várias causas. Anemia, diabetes, glicose alta, hipotireoidismo (que é a diminuição da produção de hormônio de tireoide), alteração cardíaca (quando a bomba cardíaca não está funcionando de maneira adequada), hipertensão ou arritmias gerando problemas cardíacos, doenças mentais (depressão, síndrome do burnout) podem ser causas do cansaço. E algumas medicações que também podem causar fadiga”, explica Deborah.
Mas o fator hormonal também pode impactar realmente na sensação de cansaço, segundo Igor. “É um sintoma que chega a ser exagerado às vezes, da mulher se sentir realmente esgotada, muito sem energia e ter essa percepção de que continua fazendo as mesmas coisas que ela fazia antes, as mesmas atividades, mas passa a se sentir muito mais cansada. E o cansaço tende a piorar se não for tratado adequadamente. A mulher vai tendo mais efeitos da falta progressiva do estrogênio, o corpo vai perdendo massa muscular e óssea, a sensação de vitalidade e disposição vai progressivamente piorando”, diz o especialista em menopausa.
Felizmente, muitos problemas de sono podem ser prevenidos ou melhorados através da adoção de boas práticas de sono. “É importante permitir-se tempo suficiente para relaxar durante a noite, criar um ambiente escuro e favorável ao sono, aumentar a exposição à luz somente durante o dia e definir horários regulares para dormir e acordar”, aconselha Deborah Beranger.
É recomendado também adotar mudanças no estilo de vida. “Prática regular de atividade física, evitar tabagismo, álcool e cafeína, introduzir técnicas para reduzir o estresse (ioga, meditação e técnicas de relaxamento) são fundamentais”, diz Nélio Veja Júnior.
Para problemas mais graves de insônia, a terapia cognitivo-comportamental ou, se necessário, a medicação pode ajudar, de acordo com a endocrinologista. E caso realmente haja um fator hormonal envolvido na falta de sono e na fadiga, a reposição hormonal pode ser indicada.
“Nessas mulheres analisadas com cuidado, a reposição hormonal adequada vai melhorar os sintomas em geral, inclusive reduzindo ondas de calor e suores noturnos e melhorando o sono, o humor e as queixas de cansaço”, comenta Igor Padovesi. “Junto da terapia hormonal, podemos usar também alguns suplementos, como o magnésio para ajudar bastante nessa questão da qualidade do sono. E uma melhora no sono repercute diretamente na energia, no foco, na disposição e no bem-estar dessa mulher”, reforça Patricia Magier.
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