Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determinou a apreensão de um lote de toxina botulínica ao verificar que o produto não foi produzido pela empresa que tem registro no Brasil. A medida vale somente para o lote W13035 da marca Dysport. O órgão afirma que as toxinas botulínicas da marca com esse lote não devem ser utilizadas. “O perigo vai muito além da ausência de resultado estético. Estamos falando de contaminação biológica, paralisias indesejadas e reações imunológicas”, explica o dermatologista Pedro Jordão Caldas Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional São Paulo (SBD-RESP). “A toxina original é um medicamento biológico de altíssimo controle. Quando falsificada, perde-se completamente a previsibilidade clínica e a segurança do processo de aplicação”, completa o médico.

De acordo com a dermatologista Jade Cury, presidente da SBD-RESP, para evitar cair em golpes, o paciente pode certificar-se de que o profissional que aplicará a toxina botulínica é médico habilitado e experiente, e que a clínica possui alvará de funcionamento. “Outra dica é verificar se a embalagem está lacrada, sem sinais de violação e se corresponde à informação da bula. O paciente também pode exigir a nota fiscal da compra do produto para comprovar a origem e garantir a rastreabilidade”, destaca.

Segundo Pedro, produtos falsificados podem conter bactérias, fungos ou endotoxinas, levando a infecções locais ou até quadros sistêmicos graves, que podem culminar no óbito do paciente devido à paralisia da musculatura respiratória. “De acordo com a concentração e a composição, pode haver difusão exagerada da toxina, causando assimetrias severas (principalmente das sobrancelhas, pálpebras e lábios) ou comprometimento muscular funcional (fala, mastigação, deglutição). Além disso, impurezas ou proteínas não controladas podem desencadear respostas inflamatórias severas e até a formação de anticorpos neutralizantes que tornam o paciente ‘resistente’ a futuras aplicações, mesmo com toxinas legítimas”, comenta o dermatologista.

O médico explica que os produtos falsificados podem conter proteínas desconhecidas, silicones líquidos, anestésicos vencidos ou veículos oleosos, que não são degradáveis pelo organismo. “Nesses casos, não há antídoto nem protocolo padronizado de reversão. Dependendo do que foi injetado, o dano pode ser irreversível, exigindo cirurgias reparadoras, tratamentos prolongados ou podendo, inclusive, culminar no óbito do paciente, nos casos de botulismo”, completa Pedro.

A presidente da SBD-RESP explica que cada frasco original vem com número de lote, código de barras e QR Code rastreável. Marcas sérias oferecem canais de verificação, como aplicativos, site oficial e SAC. “Profissionais e clínicas devem adquirir o produto apenas de distribuidoras oficiais. Um preço muito abaixo do mercado é um dos maiores alertas”, comenta Jade.

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