Esporte do momento, a corrida é uma atividade física acessível, de baixo custo e que pode ser praticada em qualquer hora e lugar, adaptando-se bem à rotina moderna. Traz benefícios como condicionamento físico, controle de peso e melhora da saúde mental e cardiovascular. Também é um esporte social: em 2024, os clubes de corrida cresceram 109% no Brasil, segundo dados do aplicativo Strava, e as corridas de rua aumentaram em 29%, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor.

Mas, apesar das facilidades e benefícios, ainda existem riscos envolvidos na prática, principalmente quando realizada de maneira inadequada. E entre as lesões mais comuns nesse público está o chamado joelho de corredor.

“Joelho de corredor, na verdade, é um nome popular para a síndrome do trato iliotibial. É uma condição comum e pode afetar praticantes de diversas modalidades, mas é mais frequente em esportes como a corrida e o ciclismo. E engana-se quem acredita que é um problema restrito a atletas. Na realidade, constantemente surge em corredores amadores por falta de preparo e acompanhamento adequado”, explica o ortopedista Marcos Cortelazo, especialista em joelho e traumatologia esportiva do hospital Albert Einstein e da Rede D’Or e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

O ortopedista explica que o joelho de corredor surge devido à dinâmica da própria articulação durante a prática esportiva. “O trato iliotibial é uma estrutura localizada na lateral da coxa que se estende do quadril até o joelho, ajudando a estabilizar essas articulações. Ao corrermos, pedalarmos ou realizarmos qualquer atividade que envolva esse movimento repetitivo de flexão e extensão do joelho, há um atrito do trato iliotibial com a lateral do fêmur. Quando esse atrito é excessivo, surge um processo inflamatório doloroso”, detalha o médico, que pontua a dor aguda na lateral do joelho como o principal sintoma da condição.

“Inicialmente, a dor pode não ser incapacitante, inclusive muitas pessoas continuam com a prática. No entanto, com o passar do tempo e sem o tratamento adequado, a dor tende a piorar, causando rigidez e limitação dos movimentos”, alerta.

Segundo Marcos, um dos principais fatores que favorecem o surgimento da dor característica do joelho de corredor é a prática excessiva e sem progressão gradual adequada, o que faz com que o problema seja muito comum entre amadores e quem está iniciando.

“Você começa a correr, pega gosto e já quer enfrentar uma maratona ou praticar todos os dias sem o devido preparo. O resultado? Lesão! O aumento abrupto do volume e da intensidade da corrida, incluindo quilometragem, velocidade e frequência, é a principal causa da síndrome do trato iliotibial. Por isso, descanso adequado e uma progressão gradual e planejada no esporte são fundamentais”, ressalta o especialista.

Além disso, a falta de fortalecimento muscular é outro fator que propicia o surgimento da dor. “Se os músculos do quadril e coxa estiverem fracos, a locomoção fica prejudicada e o trato iliotibial torna-se mais propenso ao atrito e danos”, diz o ortopedista, que reforça que a realização de exercícios de fortalecimento muscular é indispensável, assim como a escolha de um tênis adequado para a prática.

“O calçado deve oferecer estabilidade, possuir um tamanho adequado para seu pé e ser confortável. Os tênis para corrida também devem ser mais leves e ter um sistema de amortecimento mais sofisticado”, pontua o médico.

No caso de surgimento de dor aguda na lateral do joelho durante a prática, o mais importante é buscar um médico para receber o diagnóstico e tratamento adequado. “Inicialmente, na síndrome do trato iliotibial, a dor cessa com a interrupção da prática, o que faz com que muitas pessoas ignorem o quadro e não busquem o médico. Mas, se a dor é recorrente nos treinos, é indispensável procurar um especialista e não se automedicar, o que pode disfarçar os sintomas, favorecendo a piora do quadro”, alerta Marcos. Ele explica que o diagnóstico é realizado através de exame clínico e de imagem, como ressonância magnética ou ultrassom.

Na maioria dos casos, o tratamento da síndrome do trato iliotibial é conservador e apresenta bons resultados, então intervenções cirúrgicas são raramente indicadas. “Repouso é a palavra-chave no tratamento do joelho de corredor. Isso não significa ficar parado, mas optar por atividades que tenham um menor impacto, mas ainda trabalhem a musculatura, como a natação. Sessões de fisioterapia e a realização de exercícios de fortalecimento muscular também são importantes. E o médico ainda pode recomendar medicamentos anti-inflamatórios e, dependendo da gravidade da dor, analgésicos”, diz Marcos Cortelazo.

“Após a liberação do médico, o que pode levar cerca de um mês, os treinos de corrida podem ser retomados, mas de forma muito gradual e com redução da quilometragem. É recomendado também optar pela prática em superfícies mais planas, com menor velocidade e maior foco na qualidade do movimento”, reforça.

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