No Setembro Amarelo, especialistas destacam como as artes marciais e motivação impactam a saúde mental, a autoestima e o aprendizado de jovens autistas.
Em um cenário em que o bullying escolar e a exclusão ainda fazem parte da rotina de muitas famílias, práticas inovadoras estão abrindo caminhos para uma inclusão mais ampla de crianças autistas.
O esporte, a autodefesa e estratégias de motivação no aprendizado vêm se consolidando como ferramentas capazes de fortalecer não apenas o corpo, mas também a saúde mental e a autoestima desses jovens.
De acordo com o Censo Escolar 2022, o Brasil já tem mais de 760 mil estudantes autistas matriculados na rede de ensino.
Dados recentes mostram que o bullying atinge até 70% dos estudantes com deficiência, segundo a Unesco, e que crianças autistas apresentam risco aumentado de ansiedade e depressão — fatores que reforçam a urgência de práticas inclusivas e preventivas.
Uma história que inspira: Sarita e Elisa
Em Guarulhos (SP), a pequena Elisa, de apenas 6 anos, autista nível 3 e não verbal, encontrou nas artes marciais uma forma de se expressar. Incentivada pela mãe, Sarita Melo, e pelo pai, que é professor de jiu-jítsu, Elisa treina há três anos.
“Ela ganhou mais coordenação, confiança e passou a se socializar melhor. Antes se isolava, agora busca contato e se expressa com mais clareza”, conta Sarita.
A experiência de Elisa mostra na prática como o esporte pode ser aliado da saúde mental e da inclusão: mais do que movimentos, cada treino representa respeito às individualidades e fortalecimento emocional.
O olhar dos especialistas
Para o professor Felipe Nilo, ex-atleta e idealizador do Instituto Nacional de Artes Marciais Inclusivas (INAMI), o esporte adaptado pode ser decisivo na vida de uma criança autista.
“Quando uma criança aprende artes marciais, não está apenas desenvolvendo movimentos. Ela aprende autodefesa, reduz o impacto do bullying, ganha confiança e melhora a saúde emocional. Isso é inclusão real', avalia o professor.
O neuropediatra Paulo Liberalesso, diretor científico do IEPSIS e idealizador do Congresso Autismo 2025, reforça a importância da ciência por trás da prática.
“Precisamos ir além do discurso e mostrar, com evidências, que saúde mental também se promove com ferramentas inovadoras como o esporte e a motivação. O congresso é um espaço para ouvir ciência verdadeira, que pode transformar a vida de milhares de famílias", destaca o neuropediatra.
A assistente social Emília Gama, fundadora do IEPSIS e mãe de Miguel, de 15 anos, que tem síndrome de Down e autismo, lembra que inclusão vai além da técnica.
“Não é sobre um nível ou outro do espectro. É sobre garantir dignidade, saúde mental e educação de qualidade. O diálogo e a união de diferentes abordagens é o que realmente transforma", acredita a assistente social.
O encontro com a ciência e a prática
Todos esses temas estarão em destaque no Congresso Autismo 2025: Muito Além de um Transtorno, que acontece nos dias 19 e 20 de setembro, no Coliseu Convenções, em Alphaville, em São Paulo, e deve reunir cerca de 2 mil participantes entre profissionais da saúde, da educação, familiares e pessoas autistas.