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Estado de Minas AGRESS�ES

O que faz algumas crian�as praticarem bullying pesado em outras

Pr�tica de bullying geralmente come�a na inf�ncia, mas consequ�ncias para sa�de mental das v�timas podem durar o resto da vida


27/11/2020 11:45 - atualizado 27/11/2020 12:38


Há vários fatores que deixam uma criança mais propensa a praticar bullying
H� v�rios fatores que deixam uma crian�a mais propensa a praticar bullying (foto: Getty Images)

Quando RubySam Youngz foi v�tima de bullying aos 10 anos de idade na escola, se sentiu isolada e confusa. Ela tinha acabado de se mudar com a fam�lia da Inglaterra para o Pa�s de Gales, e os colegas zombaram do seu sotaque. Na sequ�ncia, come�aram a debochar da sua apar�ncia.

"Nada, na verdade, fazia sentido para mim", diz ela. "Estava em um lugar novo, n�o conhecia ningu�m, ningu�m gostava de mim e realmente n�o sabia por qu�."

Youngz conta que o bullying continuou at� o ensino m�dio, e teve um efeito em cascata em todas as �reas da sua vida - ela come�ou a fumar e beber na tentativa de lidar com a quest�o.

S� agora, aos 46 anos, Youngz conseguiu entender a dimens�o que o bullying teve sobre ela.

"Eu sentia que se 'ningu�m gosta de mim, eu tamb�m n�o gosto de mim'", desabafa.

A experi�ncia dela ilustra uma verdade dolorosa. As crian�as, apesar de toda a inoc�ncia e inexperi�ncia de vida, podem ser os agressores mais cru�is. Suas a��es, talvez menos freadas pelas normas sociais que aprendemos mais tarde, podem ser desumanas, violentas e chocantes. E podem ter consequ�ncias para o resto da vida das v�timas.

O que leva, no entanto, uma crian�a a praticar bullying?


Os psicólogos identificaram nos últimos anos diferentes tipos de bullying
Os psic�logos identificaram nos �ltimos anos diferentes tipos de bullying (foto: Getty Images)

"Durante muito tempo, na literatura cient�fica, acreditamos que havia apenas um tipo de agressor: uma crian�a altamente agressiva que tinha problemas de autoestima, possivelmente criada em um lar violento ou negligente", explica Dorothy Espelage, professora de educa��o na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Mas esta imagem agora est� mudando. A defini��o de bullying adotada por acad�micos afirma que � uma forma de agress�o entre indiv�duos ou grupos que t�m diferentes n�veis de poder.

Talvez essa descri��o n�o consiga capturar o impacto terr�vel que pode ter sobre as v�timas ou as raz�es complexas pelas quais as pessoas se tornam agressores. Mas um elemento-chave � a diferen�a de poder.

"Pode ser que voc� esteja fazendo bullying comigo, e voc� seja popular, e eu n�o seja popular, e essa diferen�a de poder dificulte com que me defenda", diz Espelage.

Embora a viol�ncia dom�stica e a agress�o de irm�os ainda sejam fatores de risco para crian�as praticarem bullying, n�o s�o a �nica raz�o, acrescenta a especialista. As crian�as que crescem em lares violentos, mas frequentam uma escola com um programa antibullying e uma atmosfera de apoio, n�o se tornam necessariamente agressoras.


O bullying geralmente diz mais sobre o agressor do que sobre a própria vítima, afirma estudo
O bullying geralmente diz mais sobre o agressor do que sobre a pr�pria v�tima, afirma estudo (foto: Getty Images)

Valent�o ultrapassado

Pesquisas mostram que a imagem do cl�ssico “valent�o” da escola se tornou mais sutil nos �ltimos anos. Al�m da agress�o declarada e direta, outro tipo maquiav�lico de bullying foi identificado.

As crian�as que se enquadram nessa categoria tendem a ter mais habilidades sociais, muitas vezes s�o carism�ticas e queridas pelos professores – bem diferente do estere�tipo dos agressores.

Basicamente, essas crian�as decidem praticar ou n�o o bullying de acordo com suas necessidades.

"Os agressores socialmente dominantes querem ser o l�der da multid�o", afirma Espelage.


O cyberbullying está fazendo com que alguns pesquisadores repensem a definição de bullying
O cyberbullying est� fazendo com que alguns pesquisadores repensem a defini��o de bullying (foto: Getty Images)

"E a maneira como eles fazem isso � empurrando outras crian�as para baixo na hierarquia."

Outras pesquisas argumentam que o bullying geralmente diz mais sobre o agressor em si do que sobre as pr�prias v�timas.

Em um estudo com crian�as em idade escolar na It�lia e na Espanha, os estudantes participaram de um exerc�cio que previa pensar em uma situa��o de bullying do ponto de vista do agressor. Os pesquisadores tamb�m deram �s crian�as um question�rio para preencher sobre os colegas, que deveriam ser classificados como agressor, v�tima ou algu�m alheio � quest�o.

Aqueles que foram apontados como agressores pelos colegas se mostraram mais propensos a reagir a um incidente hipot�tico de bullying com declara��es que focavam em como o epis�dio afetava o pr�prio agressor, fazendo declara��es como: "Eu me sentiria bem porque chamei a aten��o de outras crian�as”.

Ou demonstrando total falta de empatia: “N�o me sinto culpado porque n�o penso nisso"; "Me sentiria indiferente porque a v�tima n�o sofre".

Novos tempos, novo bullying

O bullying tamb�m assumiu novas formas nos �ltimos anos. At� ent�o, os acad�micos definiam a pr�tica como uma agress�o recorrente contra a v�tima. Mas o universo online est� desconstruindo essa ideia, devido ao potencial impacto que um �nico epis�dio de cyberbullying pode ter.

"Precisa acontecer mais de uma vez, quando voc� posta algo que foi para um milh�o de pessoas?" questiona Espelage.

"Provavelmente, n�o."

Na verdade, h� uma converg�ncia t�o grande entre o bullying praticado na escola e o cyberbullying que alguns pesquisadores argumentam que est�o se tornando a mesma coisa – especialmente agora que as crian�as costumam levar os smartphones para a sala de aula.


Ser vítima de bullying na infância pode ter efeitos na autoestima e na saúde mental das pessoas para o resto da vida
Ser v�tima de bullying na inf�ncia pode ter efeitos na autoestima e na sa�de mental das pessoas para o resto da vida (foto: Getty Images)

"Na minha pesquisa, constatamos que muitas vezes os agressores da escola continuam a persegui��o online", diz Calli Tzani-Pepelasi, professora de psicologia investigativa da Universidade de Huddersfield, no Reino Unido.

"Eles podem estar sentados um ao lado do outro, mas preferem intimidar um ao outro por meio da rede social, pois assim suas a��es podem ser vistas por mais gente, e eles sentem uma falsa sensa��o de fama."

Motiva��o

O que voc� deve fazer ent�o se acredita que seu filho pode estar praticando bullying com outras crian�as?

Buscar a origem das motiva��es deles � um bom come�o.

“Se algu�m me ligasse e dissesse que meu filho est� tendo esse tipo de comportamento, eu gostaria de perguntar (� crian�a): 'O que voc� est� ganhando com isso? Por que voc� est� fazendo isso’?”, sugere Espelage.

"Pode ser que seu filho esteja em uma escola onde esse � o comportamento esperado dele."

Tamb�m vale a pena considerar at� que ponto as pr�prias a��es dos pais podem influenciar as dos filhos.

"Em alguns casos, o estilo interpessoal dos pais pode estar moldando esse comportamento", acrescenta.

Uma maneira de lidar com o bullying nas escolas pode ser criando um sistema que promova uma rede de suporte entre os colegas – em que alunos mais jovens tenham um mentor mais velho.

“O fato de os alunos mais jovens terem a oportunidade de se inspirar no comportamento correto dos alunos mais velhos � uma vantagem desse sistema”, aponta Tzani-Pepelasi.

Mas ter um ambiente escolar favor�vel, de uma maneira geral, tamb�m � importante quando se trata de combater o bullying.

“� preciso muita persist�ncia e comprometimento por parte dos professores e funcion�rios da escola em geral, pois sem eles o sistema n�o funciona”, explica.

Espelage concorda que uma rela��o s�lida entre professores e alunos � fundamental.

"O que sabemos pela nossa pesquisa � que em escolas que prestam aten��o aos problemas de entrosamento, se certificando de que todas as crian�as se sintam integradas, h� menos bullying", diz ela.

Muitas vezes, por�m, esse suporte n�o existe. Em 2014, Espelage e seus colegas publicaram um estudo de cinco anos mostrando uma associa��o preocupante entre bullying e ass�dio sexual nas escolas.

A pesquisa mostrou que o bullying entre crian�as pequenas geralmente envolve insultos homof�bicos, que acabam se transformando em ass�dio sexual nos anos letivos posteriores.

Mas as crian�as envolvidas em casos de ass�dio sexual – tanto as agressoras, quanto as v�timas – muitas vezes n�o parecem entender a gravidade dos incidentes, talvez porque os professores n�o estejam intervindo para evit�-los.

“Essa sequ�ncia de agress�o do bullying, de insultos homof�bicos a abuso sexual e viol�ncia no namoro durante a adolesc�ncia � real”, diz Espelage.

E ser� que as crian�as param de praticar bullying quando saem da escola? A especialista acredita que algumas podem parar – ou encontrar uma v�lvula de escape diferente para a agress�o – mas n�o todas.

"Eu diria, com base na minha experi�ncia, que alguns (agressores escolares) buscam profiss�es nas quais esse tipo de comportamento funciona a favor deles, seja como policial, professor de universidade, advogado."

Mas talvez o mais triste disso tudo seja que o impacto do bullying nas v�timas possa durar d�cadas, levando a uma sa�de f�sica e mental mais fr�gil.

Luto

Youngz, que sofreu bullying durante todo o ensino m�dio, se capacitou agora como especialista de apoio ao luto e espera poder ajudar outras pessoas que passaram por perdas semelhantes.

"O bullying faz parte disso porque leva a uma perda da sensa��o de ‘ser normal’, perda de confian�a, perda de prote��o e seguran�a", explica.

A pessoa que mais praticava bullying contra Youngz entrou em contato com ela via Facebook no in�cio deste ano para se desculpar. Quando recebeu a mensagem, ela conta que ficou com raiva.

"Para mim, pessoalmente, n�o serviu para aliviar qualquer dor que ela tenha me causado", desabafa.

"Pode ter ajudado a ela, n�o sei."

Neste aspecto, ela acredita que o pedido de desculpas – assim como o bullying, que teve um impacto t�o negativo na sua vida – tem mais a ver, na verdade, com o agressor do que com a pr�pria v�tima.

"Tenho compaix�o por ela, porque talvez consiga entender por que ela fez o que fez, porque podia estar tendo problemas em casa tamb�m", diz.

"Mas n�o estou de acordo com o que ela fez."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.


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