Não é depressão: Claudia Ohana relata confusão mental na menopausa
Nevoeiro cerebral é um sintoma comum da menopausa que pode impactar produtividade, bem-estar e autoestima
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Em entrevista recente, a atriz Claudia Ohana comentou que sofreu com confusão mental quando entrou na menopausa. “Comecei a ficar angustiada porque sentia o que as pessoas chamam de névoa, que é uma confusão. Eu saía para a rua e esquecia o que tinha ido fazer. Ficava fora de foco”, disse a artista à revista Marie Claire, se referindo ao “nevoeiro cerebral”, sintoma neurológico comum na menopausa.
“O nevoeiro cerebral é uma sensação de confusão mental, dificuldade de concentração, lapsos de memória e lentidão de raciocínio. Além disso, também se manifesta através de dificuldade em encontrar palavras, esquecimentos de compromissos e uma sensação de estar sobrecarregada mentalmente, com prejuízos na tomada de decisões e na capacidade de resolver problemas”, explica o ginecologista Igor Padovesi, autor do livro 'Menopausa Sem Medo' (Editora Gente), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS).
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“A falta de concentração é um sintoma muito frequente, quando faltam as palavras ao falar. Isso deixa a mulher muito insegura, porque ela fica achando que não vai dar conta de uma apresentação, por exemplo. Depressão, ansiedade, mudanças de humor repentina, choro fácil estão entre os sintomas da mulher na menopausa”, acrescenta a ginecologista Patricia Magier, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e criadora do Método Plena para cuidado da mulher de forma completa, profunda e individualizada.
Na mesma entrevista, Claudia Ohana também diz ter confundido os sintomas da menopausa com sintomas depressivos. “Me dava uma irritação profunda também, como uma TPM master que, graças a Deus, não tenho mais. Você acha que está deprimida, que tem que ir ao psiquiatra, sendo que, na verdade, tudo faz parte dos hormônios”, afirmou.
E essa confusão entre menopausa e depressão não é incomum. Pelo contrário, segundo Igor, “é extremamente comum no consultório, principalmente entre mulheres que não sabem o que esperar desse período. Sintomas como sensação de desânimo, fadiga, falta de energia, ‘preguiça da vida’, tristeza e desesperança podem ser causados pelas duas coisas, mas em mulheres na faixa dos 40, 50, 55 anos, principalmente que nunca tiveram quadro depressivo antes, é mais provável que façam parte de um conjunto de sintomas da síndrome do climatério”, pontua o médico.
Isso acontece porque o estrogênio, o principal hormônio que passa a oscilar na perimenopausa e a faltar depois, tem muitos receptores no cérebro. “A queda do estrogênio e da progesterona influencia neurotransmissores como serotonina e dopamina, podendo gerar sintomas de irritabilidade, ansiedade e tristeza ou depressão. E as ondas de calor, insônia e fadiga intensificam ainda mais essas alterações”, esclarece a ginecologista com Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), Ana Paula Fabricio.
Segundo Ana, o estrogênio atua diretamente no cérebro, especialmente no hipocampo, área da memória. “Com a queda hormonal, o cérebro perde parte dessa proteção. E o nevoeiro cerebral é exatamente essa sensação de ‘mente embaralhada’, como se o raciocínio ficasse lento e a memória falhando. Ele está diretamente ligado à queda do estrogênio na menopausa”, acrescenta a médica.
Além disso, nessa fase, muitas mulheres vivenciam situações estressantes e emocionalmente fortes no casamento, no trabalho, com a saída dos filhos de casa e passam a ter dificuldades com o sono e alterações do humor, irritabilidade, angústia.
“Toda essa desordem psicológica também é danosa à memória e acaba contribuindo para a sensação de nevoeiro mental”, diz Igor Padovesi, que afirma que esse sintoma pode interferir na aptidão em desempenhar tarefas profissionais e pessoais, impactando diretamente a produtividade e o bem-estar. “Mas o impacto vai além do aspecto profissional. Em casa, as mulheres podem sentir-se desorganizadas, o que pode causar estresse adicional. A frustração decorrente desses lapsos de memória e da sensação de estar constantemente distraída pode levar a uma diminuição da autoestima e a um aumento da ansiedade”, comenta o especialista.
Porém, para as mulheres muito afetadas pelos sintomas neurológicos e emocionais, existem algumas estratégias que podem ajudar a lidar com o problema. “A terapia hormonal pode melhorar esses sintomas da menopausa. Ao repor os hormônios, você melhora a saúde mental, diminui o cansaço e conquista mais energia, foco e bem-estar”, diz Patricia Magier.
Mas praticamente todas as mulheres se beneficiam da terapia de reposição hormonal, mesmo que não sofram especificamente com esses sintomas. “Há benefícios na redução da mortalidade e do risco de Alzheimer, a preservação da sexualidade e da função urogenital normal saudável e principalmente melhora significativa da qualidade de vida”, aponta Igor Padovesi.
Conforme Patrícia Magier, a terapia hormonal pode ser iniciada ainda na perimenopausa, com protocolos personalizados. E a pós-menopausa não elimina a necessidade da TH. “Cada fase (perimenopausa, menopausa ou pós-menopausa) tem necessidades específicas, por isso o diagnóstico correto é fundamental. Na perimenopausa, o foco é suavizar flutuações hormonais e manter o equilíbrio cíclico. Na menopausa, o objetivo é compensar a queda abrupta hormonal e prevenir sintomas agudos. Já na pós-menopausa, o cuidado se volta à prevenção de doenças crônicas e à preservação da qualidade de vida, com terapias mais estáveis e medidas de suporte global à saúde”, explica Patricia. “Tem que ser feita uma avaliação individual minuciosa e o tratamento é necessariamente personalizado. Existe um espectro grande de sintomas, de manifestações e não existe receita de bolo”, comenta Igor, que reforça a importância do estilo de vida saudável.
“Cultivar uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente, realizar atividades que desafiam o cérebro, como jogos de lógica, leitura e aprendizado, além de garantir noites de sono adequadas: esses são os principais aliados no envelhecimento saudável e na preservação da memória durante a menopausa”, recomenda.
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