Alta miopia cresce mais que miopia no Brasil, aponta OMS
Relatório projeta aumento de 54% nos casos graves até 2030, ritmo superior ao da miopia comum
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Um relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) acende um alerta para a saúde ocular no Brasil. A projeção indica que os casos de alta miopia, quando o erro refrativo ultrapassa 5 dioptrias, devem crescer 54% nesta década, passando de 6,68 milhões de diagnósticos em 2020 para cerca de 9,5 milhões em 2030.
Já os números da miopia leve e moderada devem subir em ritmo menor: de 60,5 milhões para 83 milhões de casos no mesmo período, o que representa um aumento de 36,6%.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier, em Campinas, o estilo de vida atual tem impulsionado mais o avanço da alta miopia do que a herança genética. “O tempo excessivo em frente a telas, a redução das atividades ao ar livre e a falta de exposição à luz natural são fatores determinantes nesse crescimento”, explica.
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Cirurgia corretiva: precisa e reversível
Apesar da preocupação, a alta miopia pode ser corrigida com o implante de lente de contato intraocular (ICL), uma microlente fácica inserida entre a íris e o cristalino, sem necessidade de retirar estruturas do olho ou desgastar a córnea. O procedimento também serve para corrigir astigmatismo e, em alguns casos, cerocotone.
Leôncio Queiroz destaca que, ao longo dos anos, as lentes evoluíram significativamente: hoje são produzidas com material biocompatível, permitem ajustes mais precisos e oferecem resultados mais estáveis. Além disso, o procedimento é reversível.
O especialista conta que a procura pelo implante tem crescido, especialmente entre jovens com graus muito elevados. Foi o caso do influenciador Lucas Estevam, que eliminou 12 graus de miopia após a cirurgia.
Como funciona a cirurgia?
O procedimento dura cerca de 20 minutos e é feito com colírio anestésico e sedação leve. Uma pequena incisão é realizada na base da córnea para a inserção da lente, que fica posicionada entre a íris e o cristalino.
Segundo o oftalmologista, o olho permanece totalmente íntegro, o que evita problemas como olho seco. A recuperação costuma ser rápida: o paciente recebe alta no mesmo dia e retorna no dia seguinte para retirar o curativo.
Quem pode operar?
A ICL é indicada para pacientes com:
- Miopia entre 6 e 16 dioptrias
- Até 4 dioptrias de astigmatismo
- Idade entre 21 e 45 anos
- Grau estável há pelo menos um ano
- Pupila de até 7 mm de diâmetro
- Ausência de olho seco e histórico de cirurgias refrativas a laser
Antes da cirurgia, é obrigatório realizar exames oftalmológicos completos para avaliar a saúde ocular.
Contraindicações
A técnica não é recomendada para:
- Gestantes e lactantes
- Pacientes com glaucoma, degeneração macular ou sinais de maculopatia miópica
- Pessoas com baixa densidade de células na córnea
- Casos em que não há espaço adequado entre íris e cristalino
Cuidados no pós-operatório
O pós-operatório costuma ser tranquilo e indolor. O paciente deve evitar coçar os olhos, praticar exercícios intensos e deve seguir rigorosamente o uso de colírios prescritos.
Leôncio ressalta que a miopia não é uma doença, mas uma condição refrativa. Mesmo após a correção, o globo ocular do alto míope continua alongado, o que aumenta a predisposição para complicações como glaucoma, rasgos ou descolamento da retina e maculopatia miópica.
“Os sinais de alerta incluem flashes de luz, pontos pretos na visão e a presença de muitas moscas volantes. Esses sintomas exigem atendimento imediato para evitar perda irreversível da visão”, afirma.
O glaucoma, por sua vez, é silencioso e pode dobrar o risco de catarata precoce. Por isso, o especialista reforça a importância de consultas oftalmológicas periódicas, mesmo para quem já fez a cirurgia e voltou a enxergar bem.