O debate sobre o uso da maconha ganhou os holofotes nesse fim de semana em Caraguatatuba, litoral de São Paulo, com a realização da primeira Marcha da Maconha autorizada pela Justiça na cidade. O evento, que coincidiu com um festival de skate, joga luz sobre uma dúvida comum para muitos brasileiros: afinal, o que é permitido legalmente no país quando se fala em cannabis?

A resposta está no uso medicinal. Longe da discussão sobre a legalização para fins recreativos, existe um caminho estruturado e regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para quem precisa da planta como tratamento. Pacientes com diversas condições de saúde já podem ter acesso a produtos derivados da cannabis de forma segura e dentro da lei.

A cannabis medicinal utiliza compostos químicos da planta, conhecidos como canabinoides, para fins terapêuticos. Os mais famosos são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). O CBD não possui efeito psicoativo, sendo valorizado por suas propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas e anticonvulsivantes. Já o THC, responsável pelo efeito psicoativo da maconha, também tem aplicações médicas importantes, como no alívio de dores crônicas e náuseas.

No Brasil, a regulamentação permite o uso de produtos à base de cannabis, que podem ser encontrados em farmácias ou importados mediante autorização. Eles são indicados para uma variedade de doenças e sintomas, sempre com acompanhamento médico rigoroso. A legislação não permite o fumo da planta para fins terapêuticos, focando em formatos como óleos, extratos e cápsulas, que garantem dosagens controladas e segurança ao paciente.

"O óleo de cannabis trouxe melhoras expressivas para crianças que sofrem com centenas de convulsões diárias e não encontravam alívio com outros tratamentos", afirma Gabriel Freitas, professor e coordenador do Centro de Informações sobre Medicamentos da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

O acesso a esses tratamentos tem se tornado mais simples, embora ainda envolva etapas burocráticas. A chave é a prescrição médica, que comprova a necessidade do uso terapêutico. A partir daí, o paciente ou seu responsável legal pode iniciar os trâmites para adquirir o medicamento.

Quais doenças podem ser tratadas?

A lista de condições que podem se beneficiar do uso medicinal da cannabis é extensa e continua crescendo com novas pesquisas. O tratamento é individualizado e a decisão de usá-lo deve ser tomada em conjunto com um profissional de saúde. Algumas das principais indicações incluem:

Como obter acesso legal à cannabis medicinal

O caminho para conseguir o tratamento de forma legalizada é bem definido e passa por algumas etapas essenciais. Seguir o passo a passo corretamente é fundamental para garantir que todo o processo ocorra sem problemas. Veja como funciona:

  1. Consulta com médico: o primeiro e mais importante passo é encontrar um médico habilitado e disposto a prescrever o tratamento. Qualquer médico com CRM ativo pode fazer a prescrição, mas muitos pacientes procuram profissionais com experiência na área para uma orientação mais segura.

  2. Obtenção do laudo e da receita: durante a consulta, o médico avaliará o caso e, se julgar necessário, emitirá um laudo detalhado justificando a indicação do tratamento. Além do laudo, ele fornecerá uma receita específica, com o nome do paciente, o produto indicado e a posologia.

  3. Cadastro e autorização na Anvisa: com a receita e o laudo em mãos, o próximo passo é solicitar uma autorização à Anvisa. O processo é feito online, através do portal de serviços do governo. O paciente ou seu representante legal preenche um formulário e anexa os documentos. A aprovação costuma ser rápida, geralmente emitida em poucos dias.

  4. Compra do medicamento: com a autorização da Anvisa, o paciente pode finalmente comprar o produto. Existem dois caminhos principais: a compra em farmácias e drogarias no Brasil, para os produtos que já têm registro no país, ou a importação direta, para medicamentos que ainda não estão disponíveis no mercado nacional.

  5. Busca por via judicial para cultivo: para pacientes que não conseguem arcar com os altos custos dos medicamentos, existe a possibilidade de obter na Justiça uma autorização (Habeas Corpus preventivo) para cultivar a planta em casa e produzir o próprio óleo. Esse caminho é mais complexo e exige o acompanhamento de um advogado.

O que preciso saber sobre o tratamento com cannabis?

O tratamento com cannabis medicinal é uma alternativa séria e com base científica. Ele não deve ser confundido com o uso recreativo. O acompanhamento médico é indispensável para definir a dosagem correta, monitorar os efeitos e garantir a segurança do paciente. O diálogo aberto com o profissional de saúde é a melhor ferramenta para um tratamento bem-sucedido.

Preciso de uma autorização especial para comprar produtos com cannabis?

Sim, a autorização da Anvisa é obrigatória. Mesmo para os produtos já vendidos em farmácias no Brasil, é necessário apresentar a receita médica especial.

Para a importação, o processo é mais rigoroso e exige um cadastro prévio no portal da agência, onde a receita e o laudo médico são submetidos para análise.

Qualquer médico pode prescrever cannabis medicinal?

Legalmente, qualquer médico com registro ativo no Conselho Regional de Medicina (CRM) pode prescrever produtos à base de cannabis.

No entanto, é recomendado buscar profissionais que tenham experiência e conhecimento na área, para garantir uma prescrição adequada e segura.

O plano de saúde cobre o tratamento com cannabis medicinal?

A cobertura pelos planos de saúde ainda é um tema de debate judicial. Muitos planos negam o custeio inicialmente, alegando que o tratamento não está no rol da ANS.

Contudo, um número crescente de pacientes tem conseguido na Justiça o direito à cobertura, especialmente quando se comprova que outras terapias não foram eficazes.

Qual a diferença entre os produtos vendidos na farmácia e os importados?

Os produtos vendidos em farmácias no Brasil passaram por um processo de registro sanitário completo na Anvisa, o que atesta sua qualidade e segurança.

Os importados, por sua vez, recebem uma autorização excepcional para compra. A variedade de produtos importados costuma ser maior.

Plantar maconha para uso próprio medicinal é permitido no Brasil?

O plantio de cannabis continua sendo ilegal no Brasil. A única forma de obter permissão para o cultivo doméstico é através de uma autorização judicial.

Pacientes que comprovam a necessidade do tratamento e a incapacidade de arcar com os custos dos produtos podem conseguir um Habeas Corpus preventivo para cultivar.

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Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.

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