Os principais problemas urinários que afetam a população trans serão o tema da palestra do urologista brasileiro Ubirajara Barroso, no Simpósio Internacional de Urologia Pediátrica (SIUP 2025), que acontece até este sábado (11/10), no Panamá. Entre as particularidades urológicas da população trans, ainda pouco abordadas em congressos médicos, mas que ganham cada vez mais relevância no cenário da saúde global, estão as infecções urinárias recorrentes, incontinência, alterações provocadas por hormônios e cirurgias de afirmação de gênero.

Segundo o especialista, tanto mulheres quanto homens trans apresentam desafios urológicos específicos, muitas vezes agravados por barreiras de acesso a cuidados médicos, efeitos colaterais da terapia hormonal e alterações anatômicas decorrentes de cirurgias de afirmação de gênero.

Mulheres trans e a saúde da próstata

Segundo Ubirajara, mulheres trans, por serem do sexo biológico masculino, podem desenvolver doenças da próstata, principalmente quando a transição ocorre de forma tardia. “Essas pacientes também podem apresentar estreitamento de uretra e outros problemas urinários semelhantes aos que acometem pessoas do mesmo sexo biológico”, explica o médico, que é chefe do departamento de Cirurgia Afirmativa de Gênero da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

O especialista acrescenta que o processo de transição pode trazer problemas adicionais, como os decorrentes do uso de hormônios femininos, que podem causar flacidez muscular e aumentar o risco de bexiga hiperativa.

“Outro fator importante é que a cirurgia de afirmação de gênero nas mulheres trans costuma encurtar a uretra, facilitando as infecções urinárias devido à maior proximidade com a vagina e o ânus”, complementa.

Outro fator preocupante, segundo o médico, é o receio de usar banheiros públicos. “Estudos mostram que muitas pessoas trans evitam banheiros públicos, o que pode favorecer o aparecimento de infecções urinárias e causar sintomas como urgência miccional e incontinência”, acrescenta.

Homens trans e alterações anatômicas

No caso dos homens trans, o especialista explica que, por terem sexo biológico feminino, é comum apresentarem incontinência urinária de esforço e bexiga hiperativa, sintomas mais prevalentes na população feminina.

"À medida que os hormônios masculinos fortalecem a musculatura do assoalho pélvico, há uma melhora significativa, com diminuição dos episódios de incontinência urinária de esforço”, observa. Por outro lado, o médico destaca que, após a cirurgia de afirmação de gênero, há alongamento da uretra, o que pode causar vazamento de urina e dificuldade para urinar.

"O paciente trans tende a ter mais problemas urinários devido à recusa em usar banheiros públicos, às mudanças hormonais — que podem provocar incontinência — e às próprias alterações anatômicas resultantes da cirurgia”, afirma o urologista chefe da Unidade do Sistema Urinário do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (UFBA).


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