COP30 traz alerta para doenças respiratórias agravadas por poluição do ar
Mesmo com queda de focos em 2025, período seco continua coincidindo com aumento de síndromes respiratórias no país; fumaça pode aumentas as chances em até 23%
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O Dia da Saúde na COP30, que acontecerá nesta quinta-feira, (13/11), em Belém, vai colocar no centro do debate um efeito concreto da crise climática na vida das pessoas: o crescimento de quadros respiratórios que pioram quando o ar fica mais seco e mais poluído por queimadas e fumaça.
Entre agosto e outubro de 2025, os boletins do InfoGripe/Fiocruz voltaram a apontar sinal de crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em várias regiões do país, puxados principalmente por rinovírus, influenza A e ainda por casos de Covid-19, um comportamento típico do período frio brasileiro e que deixa crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas mais vulneráveis.
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Mesmo com o governo registrando, em agosto de 2025, o menor número de queimadas da série histórica, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostrou que os focos continuaram concentrados no Cerrado e que a sazonalidade permanece, com o fogo aparecendo no auge da seca.
Na avaliação do patologista clínico e diretor do Richet Medicina e Diagnóstico, Hélio Magarinos Torres Filho, os picos de procura por exames respiratórios observados no cotidiano coincidem exatamente com esse período. “O sistema de saúde sente quando o clima piora. No Brasil, temos o aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no outono e no inverno, agravado por uma piora da qualidade do ar. Quando essas duas curvas sobem juntas, o paciente sofre e o serviço de saúde é pressionado”, destaca.
Segundo especialista, o ar frio e seco tem, por si só, maior probabilidade de irritar as vias aéreas, especialmente em pessoas que apresentam algum histórico. Quando, sobre isso, chega a fumaça das queimadas – rica em partículas finas que conseguem atingir os brônquios e o pulmão –, a capacidade de defesa cai e qualquer vírus circulante encontra terreno para causar quadros mais longos e, em alguns casos, mais graves.
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“É por isso que o inverno e o começo da primavera são períodos em que vemos mais crianças chiando, mais idosos com piora da função respiratória e mais exames sendo pedidos pelos médicos”, explica. Os boletins entre agosto e outubro de 2025 registraram exatamente esse movimento.
No Brasil, já existem pesquisas que ajudam a dimensionar o problema. Um estudo sobre a Amazônia, feito pela Fiocruz em parceria com o WWF-Brasil, mostrou que as queimadas aumentaram os percentuais de internações por doenças respiratórias e que, em áreas mais afetadas pelo fogo, o número de crianças internadas chegou a dobrar.
Em outra análise, publicada em setembro de 2025 na Revista Nature, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas estimaram que a exposição à fumaça de queimadas pode elevar em até 23% a chance de o brasileiro desenvolver doenças respiratórias. Os resultados ainda associaram esse cenário ao aumento de internações por causas circulatórias.
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Essa pressão, segundo o especialista, aparece com clareza no ambiente laboratorial. Nos meses secos, cresce o número de solicitações de painéis para vírus respiratórios, de testes moleculares para influenza e covid-19 e de exames que permitem ao médico diferenciar se o quadro é viral ou bacteriano – informação essencial para evitar o uso desnecessário de antibióticos e para impedir que casos leves evoluam para internação.
“A demanda cresce porque o médico precisa ter certeza do agente causador. Muitos pacientes chegam já com quadro de asma, bronquite ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) descompensada pela má qualidade do ar. Se eles pegam um vírus nesse momento, a doença vem mais forte. O laboratório entra para dar rapidez ao diagnóstico”, afirma.
O médico lembra que crianças e idosos formam o grupo mais atingido, o que também foi constatado em levantamentos sobre queimadas na Amazônia. Em 2019, por exemplo, estimou-se mais de duas mil internações atribuíveis à fumaça do desmatamento, sendo cerca de 70% em bebês e pessoas com mais de 60 anos.
Para Hélio, levar esses dados à COP30 é fundamental. “A conferência é o lugar certo para dizer que desmatamento e clima não são só temas ambientais. Eles já estão aumentando o gasto com hospitalizações e com exames no Brasil”, reforça.
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