GAMES

'Gaucho and The Grasslands' adapta cultura sulista em game estilo Zelda

Em entrevista ao Correio, o diretor de arte do game falou sobre as inspirações para o projeto

Publicidade
Carregando...

O mundo dos games tem olhado com carinho para o Brasil, devido ao número de estúdios tupiniquins cada vez maior, como aponta a pesquisa da Abragames em parceria com a ApexBrasil e GA Consulting. O estudo revela que o país tem mais de mil estúdios ativos e 13 mil desenvolvedores trabalhando na indústria. Dentre eles está a Epopéia Games, que não só produz jogos, como também atua como publicadora, auxiliando estúdios pequenos a ganharem maior notoriedade.

Fundado em 2011 no Rio Grande do Sul, o estúdio tem aparecido com força na comunidade de games a partir do lançamento do jogo de tiro Mullet Madjack, lançado em 2024. O jogo trazia um desafio fora do habitual, onde o jogador deve executar uma morte antes que o coração do protagonista pare, tendo apenas 10 segundos de vida.

Além da jogabilidade ser diferente, Mullet ainda ganhou uma dublagem com toda a nacionalidade que o Brasil esbanja. Com Luiz Feier Motta, que é a voz brasileira de Sylvester Stallone no cinema, interpretando o papel principal e Gilberto Baroli, o Saga de Gêmeos de Cavaleiros do Zodíaco, como o vilão Sr. Bullet, além de um elenco de vozes muito reconhecidas da dublagem brasileira. Essa mistura gerou um fenômeno entre os influenciadores e ajudou o jogo a virar um sucesso.

O estúdio então se remodelou, principalmente em marketing, para poder abraçar esses novos membros que descobriram o trabalho deles, como Mullet Madjack. Agora, em 2025, a Epopéia vive o mais novo lançamento do simulador de fazendinha com toque brasileiro, chegou a Steam Gaucho and The Grasslands. Como o nome já sugere, o jogo é inspirado pela cultura sulista, trazendo um tradicional Gaúcho de Bombacha como protagonista, com fortes inspirações em jogos como Animal Crossing e The Legend of Zelda: Link’s Awakening.

O diretor de arte do jogo e membro de longa data da Epopéia Games, Gustavo Silveira, conversou com o Correio sobre as inspirações, o processo de desenvolvimento e o mercado de jogos atualmente no Brasil. Confira:

Como foi esse sucesso de vocês com Mullet Madjack, a repercussão com ampla divulgação de um indie e de que jeito vocês encararam tantas pessoas conheceram a Epopeia através do jogo?

A gente está no mercado como Epopéia há mais de 15 anos já. Então, a gente tem alguns títulos menores, agora a gente tá com o lançamento do Gaúcho, que tá dando uma repercussão bem legal também. E quando a gente começou a trabalhar no Gaúcho, a gente resolveu desenvolver uma equipe de marketing interno. E o Martinello, que é da Hammer 95, é nosso amigo e já vinha desenvolvendo o Mullet. E a gente já vinha com uma ideia de se tornar uma publisher também, além de somente uma desenvolvedora (...) 

E a partir daí, a gente aprendeu um monte de coisa com ele e acabamos fazendo depois o serviço inverso, pegamos o conhecimento que a gente pegou do Mullet e jogamos de volta para o Gaúcho antes do lançamento.

 Os números do Mullet excederam as previsões, tanto da Hammer 95, quanto da Epopéia, então isso nos colocou numa posição bem interessante e agora com o lançamento do Gaúcho a gente pretende manter essa relevância e conseguir ir avançando tanto como dev – Desenvolvedora – como o publisher – Publicadora.

De onde veio a ideia e porque fazer um jogo trazendo um Gaúcho de bombacha como protagonista?

Essa é uma história interessante também, porque a gente começa a pensar no gaúcho, cara, em 2015, talvez, 2016. A gente tem uma associação de desenvolvedores aqui no Rio Grande do Sul, ADJogosRS.

E a gente sempre procura trazer pessoas interessantes para conversar conosco e a gente se inspirar e pegar referências de quem tá fazendo outras coisas. (...) a gente faz uma tentativa com um tipo de gameplay, a gente vê que que não vai dar certo, a gente para, começa a fazer de novo, e de novo baseado numa outra ideia, num outro gênero.

A gente também vê que não vai dar certo. A gente conseguiu chamar a atenção de algumas pessoas na época, o pessoal da 11bit, que é desenvolvedor do Frostpunk, lá da Polônia, vieram para Porto Alegre para conversar conosco, para ver o jogo. Mas tinha um visual interessante num primeiro trailer, mas a gente não conseguia entregar a qualidade que eles precisavam. “Quer saber, vamos engavetar esse troço”.

2021, a gente é contemplado no edital de cultura aqui. Um edital estadual. E a gente recebe uma verba que a gente diz: "Cara, agora a gente consegue fazer um protótipo legal, porque a gente tem grana e consegue ficar tranquilo para desenvolver". E aí que tem o gaúcho que a gente tá vendo hoje.

Bem diferente, mas com o mesmo coração, com a mesma base. O Ivan (CEO da Epopéia) diz: "Vamos fazer o seguinte, vamos fazer diferente, vamos estudar mercado”, daí ele mergulhou na Steam lá, vamos entender o algoritmo, vamos entender como é que funciona esse troço de verdade. Vamos encontrar uma uma tag, uma temática que seja legal, popular e que funcione bem. E daí veio o farming (Famigerados jogos de fazendinhas) que tem tudo a ver com a gente aqui no sul, da cultura tanto da pecuária quanto da agrícola.

Todo mundo gosta muito da Nintendo, a ideia era misturar Zelda Link’s Awakening com o Gaúcho, com o Gaudério do Pampa.

Como foi trazer essa essência brasileira, de gírias e cultura, para dentro do título e de que forma ela foi adaptada para o entendimento dos gringos?

A parte visual acho que foi a mais fácil no assim, foi a primeira coisa que a gente resolveu pegar para para atacar assim para tirar soluções. Então, eu peguei uma foto de um gaúchão clássico e do lado peguei uma imagem do Link em Awakening, botei um do lado do outro assim e deixei os dois numa tela e na outra tela eu fui desenhando. O que eu consigo tirar de importante nessa foto? Fica importante nesse render 3D? e como é que eu mesclo os dois? A partir daí eu fiz um asset que era um uma casinha, uma construção e com esses dois objetos (O gaúcho é a casa em 3D).

Daí a parte do folclore já ficou mais complicado, que a gente vai entrar no game design. Como é que a gente vai colocar isso dentro do jogo de modo que fique legal? Então, a gente escolheu o Boitatá como um ser que está criando problemas climáticos. O jogo não tem violência, não tem não tem vida, o personagem não morre nunca (...) 

A gente pensou: pô, ele não pode morrer, o que é que vai acontecer? Vamos expulsar ele do labirinto! Então, se você é pego, o Boitatá te expulsa do labirinto, aí tu tem que voltar e conseguir vencer ele, Se tu for pego, ele te joga para fora.

Quando você resolve ele, te dá um acesso ao mundo místico. Então, tu entra numa árvore e vai para um outro universo. E daí lá tu vai ter um novo desafio com um ser místico. São três biomas, são três desafios místicos. Um é o pajé, que representa a cultura indígena aqui dentro do Rio Grande do Sul. No outro tem o Negrinho do Pastoreio, que é um clássico.

E no outro tem um conto do Simões Lopes Neto, que é um escritor que viveu em Pelotas aí nos anos 1800 e pouco, acho, que é de uma mulher que tem uma relação com com uma rosa. Então, cada um deles tem um bioma que resolve ajudando cada ser místico que representa aquele bioma. Então, tem a Serra, tem o Pampa e tem o Litoral.

Mas foi feito em cima de muito teste, muita tentativa e erro, várias versões até encontrar “Tá, acho que a gente encontrou a resposta”. Esse jogo ele nasce de forma muito orgânica, né.

A gente lançou três línguas principais para nós, que é o inglês, o espanhol e o português, mas a gente já tá conseguindo parceiros para traduzir para outras línguas. Então, a galera pode acompanhar de boa. E em relação à questão da mística e tal, a gente entende que o jogo não é um jogo educacional, ele é um jogo vestido com a nossa cultura.

Existem diversos jogos e produções culturais que se alimentam das suas culturas locais, sabe? Então, tu vai pegar um God of War, é grego, né? Mas os caras não tão ensinando a cultura da Grécia, aquilo ali tá ali, tu consome e te aprofunda caso tu queira, né? Tem um jogo da Polônia, se eu não me engano. Skyrim? Witcher!

Que é todo em cima do misticismo e da cultura polonesa, mas o cara que tá jogando, sei lá, no Canadá, ele não quer saber da cultura polonesa, ele só quer curtir o Witcher, tá ligado? Então a gente quer que as pessoas fora do Brasil tenham essa mesma percepção, é um negócio muito mais baseado na cultura dos caras, você sabe? É isso.

De que forma vocês veem os influenciadores brasileiros abraçarem esses jogos criados no Brasil, que diferença isso exerce para vocês?

Então, estão dando visibilidade para a gente, né? O A quantidade de matéria que saiu do Mullet, a quantidade de matéria que já saiu do Gaúcho desde o dia 16 é bem interessante assim, né? Então, a gente tá indo bem.

Tipo, o AlanZoka jogou lá as demos, e nossa, deu uma porrada de visualização aquilo ali e abriu alguns lugares para nós, sabe? Agora a gente tá vendo se tá namorando aí para ver se ele joga a versão full, mas ele é muito difícil de chegar nele (risos).

Daí, para tu ter uma ideia, em Porto Alegre acontece um evento chamado South Summit, que é de tecnologia, um projeto original da Espanha que trouxeram aqui, já tá na terceira edição, se não me engano. E o ano passado a gente foi, esse ano a gente não foi, a gente foi na primeira e na segunda, esse ano a gente não foi.

E daí tava indo eu e a Cher lá pro stand e quando a gente tá entrando a moça que tava montando lá um painel lá, ela olhou as camiseta, ela disse: "Conheço vocês, o jogo de vocês é muito massa". Eu: "Puta, aonde"? Daí ela: "Não, eu vi no Alanzoka". Eu digo: "Ah, pode crer". Então, isso ajuda muito, muito, muito.

Vocês são bem ativos nas redes sociais, o quanto de diferença faz usar este tipo de divulgação para jogos igual o Gaúcho ajudam a criar uma comunidade/curiosos para jogar o jogo final?

O marketing para games, ele é bem peculiar, assim, é diferente de tu vender…ter um marketing clássico, ele consegue vender pizza e sei lá, esmalte. Certo? Porque no final das contas é um produto. Eu peguei duas coisas bem diferentes para tu entender para, tu sacar (risos). Mas o conjunto de regras e tipo de abordagem daqui se assemelha. É um produto, sabe?

Ele é um produto físico, ele tem um valor, o marketing tá mais acostumado com isso. O marketing para games, pelo menos a gente vê assim, uma das coisas que a gente tem que ter muito domínio é a Steam (Maior loja digital de games, focada no público que joga no computador). E conseguir converter as pessoas para Steam. E daí já é outro caminho e tem que fazer a pessoa botar na wishlist (Lista de desejos), porque isso ajuda o algoritmo. A gente lançou o jogo com 55 mil pessoas na wishlist. A gente tá com 70 mil agora.

Então é fundamental, né? Porque, não adianta tu ter um produto bom que não tem visibilidade.

Para vocês qual é a importância de se ver representado em obras de entretenimento? E se vocês acham que atualmente o Brasil tem aparecido mais em grandes jogos, além dos independentes? 

Para a gente é super gratificante estar sendo reconhecido por estar levando a cultura do Brasil, principalmente do gaúcho para fora.

Muita gente vem dizendo: "Cara, eu sou do Recife, mas eu tô adorando o jogo, eu vou me mudar para aí!". Uns negócios assim, isso é muito legal. E a gente não quer ser reconhecido como uma empresa que faz jogos gaúchos, não é essa a ideia. É uma empresa brasileira que faz jogos pro mundo, né? 

Mas a gente tá dando umas pitadinha assim, tipo, ah, esse personagem que podia lembrar um personagem brasileiro, sabe? Não tem É, então, tu acaba botando na tua arte das coisas que tu te alimenta, de onde é que tu vive, da onde é que tu tá inserido culturalmente, né? Qual foi a tua história. 

Tem alguns outros jogos brasileiros também que tão para sair também que tem retratando a cultura brasileira.E a gente tá surfando nessa trend aí, não sei até quanto dura, se daqui a pouco isso também já cai, deixa de ser novidade, né? Mas funciona e tá funcionando bem. E o negócio, cara, é fazer jogo bom e que tenha conteúdo, né? Nosso conteúdo hoje é esse, com temática gauchesca.

A gente tá se preparando para fazer um outro de futebol, mas não é bem sobre jogar futebol, é sobre os bastidores do futebol. Então, é um storytelling de futebol do que acontece fora de campo, que também é totalmente brasileiro, né?

Como publisher, para vocês como está a situação do mercado de games atual, acham que está mais diversificado para vários gêneros do mundo dos games?

Dá para encontrar de diversos gêneros diferentes dentro do Brasil. E a gente tá procurando encontrar um jogo que entenda que ele vai dar relevância, né, que a gente vai conseguir fazer bastante marketing em cima dele, vender ele legal e que esteja também dentro do nosso escopo financeiro para poder dar o suporte, né?

Às vezes a gente encontra produtos bons, mas agora tá pedindo botar aí 300, 400 mil dólares num projeto, então, a gente tá procurando alguma coisa que a gente possa trabalhar junto com a desenvolvedora para daqui a pouco guiar eles dizer: Cara, o que vocês tão fazendo é muito massa. Mas se tu ajustar um pouquinho aqui, ó, vai ficar um pouquinho mais comercial e daqui a pouco a gente vai conseguir vender melhor e vocês vão conseguir ganhar mais e a gente também. Então, é isso que a gente tá procurando no momento como publisher.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Gaucho and The Grassland já está disponível através da Steam e é exclusivo para PC, com forte promessa de chegar aos consoles em breve.

Tópicos relacionados:

game gaucho jogo pc

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay