Mercado

Games impulsionam economia criativa e ganham espaço no mercado brasileiro

Com crescimento estável e foco em internacionalização, a indústria brasileira de games avança apoiada por iniciativas que fortalecem estúdios e talentos locais

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A Brasil Game Show 2025 chega em um momento emblemático para a indústria de games no Brasil. Com mais de mil estúdios ativos, crescimento contínuo em exportações e visibilidade internacional, o país se consolida como um dos polos mais promissores da economia criativa.

A presença crescente de desenvolvedores nacionais no evento e a aproximação com grandes publishers reforçam que o Brasil não é mais apenas um mercado consumidor: é um produtor global com identidade própria e potencial criativo em expansão.

De acordo com a Pesquisa Nacional da Indústria de Games 2023, o Brasil é o maior mercado latino-americano, com mais de 103 milhões de jogadores e uma base produtiva que se expandiu 177% nos últimos cinco anos. A região Sudeste concentra mais da metade dos estúdios, com destaque para Minas Gerais, reconhecido por jogos autorais como Dandara, da Mad Head House, e por seu cruzamento natural com o setor de animação.

Esse amadurecimento tem sido acompanhado por iniciativas que buscam dar estrutura e fôlego ao ecossistema nacional. A Abragames, por exemplo, atua como intermediadora no diálogo entre estúdios independentes, grandes empresas e poder público. A entidade aposta em programas de aceleração e capacitação empresarial voltados às pequenas e médias desenvolvedoras, que representam 90% do mercado, com o objetivo de ampliar a competitividade e a sustentabilidade da produção brasileira.

Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, Rodrigo Terra, presidente da associação, descreveu o momento como um divisor de águas. “O cenário de games no mundo, depois de 40 anos, está mudando. Os ‘Triple A’ (jogos de maiores orçamentos) estão diminuindo e abrindo espaço para produções ‘Double A’ (jogos de médio orçamento), e o Brasil é um território ideal para esse novo modelo”, analisa. Segundo ele, essa mudança abre espaço para produções locais com identidade própria e potencial global. “Temos uma cultura riquíssima e talentos fantásticos na contação de histórias. Isso pode se transformar em soft power, como o que a China faz com Black Myth: Wukong”, complementa.

O levantamento mostra que 93% das empresas desenvolvem propriedade intelectual própria, um sinal claro de amadurecimento criativo. Além disso, 65% dos estúdios que atuam internacionalmente obtêm mais da metade do faturamento no exterior, evidência de uma indústria que aprendeu a competir globalmente mesmo em meio a desafios estruturais, como a falta de investimento privado e políticas de fomento permanentes.

Nos últimos anos, a Lei Paulo Gustavo e o Marco Legal dos Games representaram avanços importantes para o setor, abrindo espaço para o reconhecimento dos games como parte da produção audiovisual. Mas o maior impulso vem de dentro: estúdios cada vez mais sólidos, profissionais qualificados e uma nova mentalidade de negócio que enxerga o jogo não apenas como arte, mas também como produto econômico, cultural e tecnológico.

Às vésperas da Brasil Game Show, o clima é de otimismo cauteloso. A presença crescente de estúdios nacionais no evento e a aproximação com grandes publishers e plataformas internacionais mostram que o Brasil não é mais apenas um mercado consumidor, é também um produtor relevante, com identidade própria e potencial global.

Os bastidores da transformação

Para entender melhor esse processo de expansão e os desafios por trás do amadurecimento da indústria nacional, o Estado de Minas conversou com Rodrigo Terra, presidente da Abragames.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre o reposicionamento da entidade, o crescimento dos estúdios independentes, o papel de Minas Gerais e o futuro dos games brasileiros.

Entrevista com Rodrigo Terra, presidente da Abragames

A Abragames está passando por um reposicionamento estratégico. O que motivou essa nova fase e quais são os principais objetivos?

R – Essa mudança é natural, acompanhando a evolução do mercado de games no Brasil e no mundo. Estamos ampliando nossa atuação, que antes era muito voltada à exportação, para também investir em formação e aceleração de estúdios. A nova aceleradora nacional vai aprimorar a gestão dos estúdios e prepará-los para serem empresas mais sólidas e competitivas, tanto no mercado interno quanto internacional.

Como a associação tem equilibrado a representação entre os estúdios brasileiros?

R – A Abragames representa essencialmente os estúdios brasileiros, sobretudo os independentes, que são cerca de 90% do setor. Buscamos diálogo com grandes publishers e big techs para aproximar os dois lados, como ocorre em ecossistemas maduros, como o da Alemanha. Essa integração é fundamental para o crescimento do mercado.

O crescimento da indústria brasileira está ligado à descentralização dos jogos AAA?

R – De certa forma, sim. Os AAA continuam concentrados nos EUA, Europa e Japão, mas há uma abertura para jogos de médio porte, os chamados “double A”, que têm custos menores e alto apelo criativo. O Brasil tem potencial neste segmento. Além disso, o público mundial busca novas matrizes culturais e narrativas, e o Brasil, com sua riqueza cultural, tem muito a oferecer.

A cultura brasileira pode ser um diferencial competitivo?

R – Com certeza. Temos histórias, paisagens e identidades únicas que podem gerar interesse global. Assim como a China com Black Myth: Wukong, podemos usar nossa cultura como diferencial. Imagine, por exemplo, um jogo ambientado nas cidades históricas de Minas, com a mesma força narrativa de um Assassin’s Creed. Isso é possível e desejável.

Como está o cenário de Minas Gerais dentro da indústria nacional?

R – Minas tem crescido bastante em número de estúdios e qualidade de produção, com destaque para o ecossistema ligado à animação. Casos como Dandara, da Mad Head Games, mostram esse potencial. Ainda falta investimento local, tanto público quanto privado, para que o estado avance mais, mas há uma base sólida e criativa.


Quais são hoje os maiores desafios para os pequenos estúdios brasileiros?

R – Acesso a equipamentos é um problema grave, pois impostos e importação dificultam o desenvolvimento, principalmente para consoles. Outra questão é a falta de espaços físicos de apoio, como hubs e incubadoras específicas para games. A Abragames está criando uma aceleradora nacional e o “plano entrante” no Brasil Games, para ajudar pequenos estúdios a iniciar suas jornadas internacionais. Também precisamos de mais promoção e visibilidade para os jogos independentes.

E quanto à formação de profissionais?

R – Falta oferta pública de cursos de games: 99% ainda são privados. Precisamos de mais programas de capacitação técnica, híbrida e acessível, para suprir a demanda crescente do setor. Formação, visibilidade e apoio à infraestrutura são as chaves para que o Brasil, e Minas, se tornem grandes polos produtores de games.

O que esperar do futuro?

R – O futuro passa por empresas mais estruturadas, com gestão sólida, visão de negócios e valorização das nossas histórias. Se continuarmos nesse caminho, o Brasil tem tudo para ser um dos protagonistas da indústria mundial de jogos digitais.

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Sobre a BGS 2025

A Brasil Game Show 2025, realizada de 9 a 12 de outubro no Distrito Anhembi, em São Paulo, reúne centenas de expositores, influenciadores e fãs de games. A feira oferece uma experiência imersiva com lançamentos, ativações de marcas e campeonatos de e-sports.

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