Em meio ao calor e à aridez do Sertão de Pernambuco, um cenário inusitado chama a atenção: ruínas emergem das águas calmas do rio São Francisco, revelando o que restou de uma cidade que ficou debaixo d’água. É a antiga Petrolândia, município que foi parcialmente submerso no fim dos anos 80 por conta da construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica. A cada estiagem, parte dessa história volta à tona, transformando a cidade em um ponto de turismo, memória e contemplação.

A imagem da igreja do Sagrado Coração de Jesus, com suas torres góticas parcialmente visíveis sobre o espelho d’água, já virou símbolo da região e atrai fotógrafos, moradores, religiosos e turistas de diversas partes do país. Mas além da paisagem impressionante, há uma narrativa de deslocamento, reconstrução e resiliência por trás do cenário que hoje se tornou um cartão-postal inesperado.

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Inundação e o renascimento de Petrolândia

Até o fim da década de 1980, Petrolândia ocupava um ponto estratégico às margens do rio São Francisco, com forte atividade agrícola e religiosa. A cidade foi fundada oficialmente em 1904 e se desenvolveu com base na pesca, na agricultura irrigada e no comércio regional. No entanto, tudo mudou em 1988, quando a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) finalizou a barragem da Usina Luiz Gonzaga, antiga Itaparica, para dar lugar ao grande reservatório, a cidade teve que ser relocada.

Um novo núcleo urbano foi planejado a poucos quilômetros dali, em uma área mais elevada, enquanto a antiga sede foi gradualmente submersa. Igrejas, casas, ruas e até cemitérios desapareceram sob o volume das águas. O impacto foi profundo: cultural, afetivo e material. Famílias precisaram reconstruir suas vidas em um novo local e boa parte da história da cidade ficou escondida sob o lago artificial.

igreja do Sagrado Coração de Jesus Divulgação prefeitura de Petrolândia
igreja do Sagrado Coração de Jesus Divulgação prefeitura de Petrolândia
igreja do Sagrado Coração de Jesus Divulgação prefeitura de Petrolândia
igreja do Sagrado Coração de Jesus Divulgação prefeitura de Petrolândia
Divulgação prefeitura de Petrolândia Igreja inundada

O que ver em Petrolândia durante a seca

Nos meses de estiagem, especialmente entre julho e setembro, o nível da água do rio São Francisco costuma baixar o suficiente para revelar parte das antigas estruturas da cidade submersa. O destaque é a igreja do Sagrado Coração de Jesus, cuja fachada e campanário emergem como uma cápsula do tempo.

É possível chegar até ela de barco, saindo da orla da nova Petrolândia. Guias locais oferecem passeios turísticos com explicações sobre a história da cidade, as transformações causadas pela represa e as memórias dos moradores que viveram a transição.

Orla de Petrolândia Divulgação prefeitura de Petrolândia
Orla de Petrolândia Divulgação prefeitura de Petrolândia
Orla de Petrolândia Divulgação prefeitura de Petrolândia
Orla de Petrolândia Divulgação prefeitura de Petrolândia
Praia do Sobrado Divulgação prefeitura de Petrolândia
Praia do Sobrado Divulgação prefeitura de Petrolândia
Ilha de Rarrá Divulgação prefeitura de Petrolândia
Bico do Papagaio Divulgação prefeitura de Petrolândia
Gruta do Padre Divulgação prefeitura de Petrolândia
Petrolândia Divulgação prefeitura de Petrolândia

Além da igreja, outros pontos de interesse também surgem com a baixa das águas, como trechos de ruas, fundações de construções antigas e resquícios de pontes. Para quem busca uma experiência mais espiritual, é comum encontrar fiéis fazendo promessas e orações nas ruínas da igreja.

A cidade também oferece outros atrativos turísticos permanentes, como a ilha de Rarrá, praias fluviais, o mirante do Serrote do Padre e passeios de lancha pelo lago, que revelam a dimensão do reservatório e a beleza natural do entorno.

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