Muitos de meus amigos atravessaram meio mundo para ver o Flamengo jogar em Doha, no Oriente M�dio. E torceram muito. E, na semana passada, a pol�cia prendeu meia d�zia de torcedores, entre os que vandalizaram o Mineir�o no dia do rebaixamento do Cruzeiro. Brasileiros que canalizam sua energia para o futebol, assim como milh�es de outros torcedores que vivem em fun��o de seus times favoritos. Que vibram, que sofrem, que conduzem suas rela��es na base de dar palpites, fazer sugest�es, dar ideias para que seu time seja o vencedor, o campe�o, o triunfante.
Lembro-me de quando a Sele��o se tornou tricampe� do mundo, na Copa do M�xico, em 1970. Os vitoriosos foram recebidos no Pal�cio do Planalto pelo presidente de Rep�blica. E a vit�ria no futebol se tornou uma vit�ria do Brasil literal, o Brasil, n�o um time de futebol, mas um time de “noventa milh�es em a��o”, porque o entusiasmo do futebol foi canalizado para o pa�s. E esse entusiasmo gerou o otimismo que decidiu investimento e criou emprego. E logo o pa�s cresceu em ritmo chin�s, e isso passou a ser chamado “milagre econ�mico” – um crescimento m�dio de 11,2% ao ano, durante tr�s anos. Pleno emprego e plena produ��o.
''Se demonstramos entusiasmo com um time de futebol, que de retorno pode dar-nos, no m�ximo, alegrias, ent�o, podemos torcer pelo Brasil %u2013 time de que somos s�cios perp�tuos %u2013 com resultados que v�o al�m de alegrias club�sticas''
Fico pensando se, sem preju�zo das emo��es por nosso time, dirigirmos o entusiasmo para o time Brasil, formado por 210 milh�es de torcedores. Se nosso otimismo exigir gols contra o advers�rio da corrup��o, do assalto, do homic�dio, das drogas, do engodo, da mentira e da impunidade. E passemos a exigir de todos n�s que conquistemos vit�rias no investimento, no emprego, no fortalecimento das leis anticrime, no fim da burocracia, contra o excesso de carga fiscal, com o fim de um time pesado e lento, que � o Estado brasileiro. E exigir que, no campo, o juiz do jogo seja justo e puna as faltas, principalmente as mais graves. Nosso cuidado de torcida evitaria as bolas fora e exigiria cart�o vermelho para os jogadores que, em nosso nome, estivessem se aproveitando para prejudicar o time em causa pr�pria.
N�o � utopia. J� vi isso nos anos 70. Agora j� temos uma base mais s�lida para o reerguimento de anos de falta de �tica e de administra��o que nos levou � maior recess�o da hist�ria, de tal forma que ainda restam 12 milh�es de desempregados. Se demonstramos entusiasmo com um time de futebol, que de retorno pode dar-nos, no m�ximo, alegrias, ent�o, podemos torcer pelo Brasil – time de que somos s�cios perp�tuos – com resultados que v�o al�m de alegrias club�sticas. Podemos provocar bem-estar, emprego, mais riqueza, melhores sal�rios, mais e melhor ensino, mais seguran�a e, sobretudo, um 2020 melhor. Feliz ano novo!