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Estado de Minas COLUNA

''Estatuto da Liberdade'': os versos de Thiago de Mello est�o muito atuais

Os Estatutos do Homem, escrito em 1964, hoje atual�ssimo, nestes tempos estranhos. ''Fica decretado que agora vale a verdade'', � seu primeiro verso.


19/01/2022 04:00 - atualizado 19/01/2022 07:21

O poeta Thiago de Mello morreu na sexta-feira, aos 95 anos
O poeta Thiago de Mello morreu na sexta-feira, aos 95 anos, deixando para os brasileiros o seu maior poema, "Os Estatutos do Homem" (foto: Jos� Farias/Divulga��o - 23/8/11)

O Brasil acaba de perder um de seus maiores poetas. Thiago de Mello foi embora na sexta-feira, com 95 anos. Deixou para n�s o seu maior poema, Os Estatutos do Homem, escrito em 1964, hoje atual�ssimo, nestes tempos estranhos

“Fica decretado que agora vale a verdade”, � seu primeiro verso. Vivemos tempos em que se decretam qual � a verdade e qual � a mentira, retirando da consci�ncia julgadora de cada um o direito de avaliar o que � o qu�. “Fica decretado que os homens est�o livres do jugo da mentira”, proclama o poeta no art. V. Mas a mentira � um jugo que escraviza quem prefere n�o pensar, apenas aceita qualquer mentira porque � mais f�cil se deixar conduzir.

No art. XII “Decreta-se que nada ser� obrigado”. Nesses estranhos dias que vivemos, parece que tudo � obrigado, at� o veto das palavras que n�o permitem que voc� ponha na sua pr�pria boca. Escolhem as palavras da sua boca! Parafraseando outro poeta, Eduardo Alves da Costa, primeiro escolhem palavras que voc� deva pronunciar, e voc� permite; depois p�em frases completas na sua garganta, e voc� cede; quando semearem ideias inteiras no seu pensamento, voc� n�o pode fazer mais nada, porque j� n�o pode pensar. E voc� deixa de ser uma pessoa, para ser uma pe�a descart�vel do coletivo.

Como se opera isso? No art. XIII, Thiago de Mello registra "o grande ba� do medo”. Essa � a arma que abre as defesas do indiv�duo. O medo enfraquece, paralisa. Amea�a-se com um grande mal que paira sobre todos, j� covas abertas e caix�es prontos para receber o seu cad�ver. Mas se voc� obedecer, para o seu bem, poder� ser salvo, desde que entregue a sua liberdade, se una � multid�o dos que transferiram seu destino a grandes condutores de massas.

N�o pode haver intelig�ncia livre; os rebeldes s�o alvos do denuncismo, os que demonstrarem teses contr�rias s�o censurados, banidos para o limbo. O livro 1984, de George Orwell, escrito em 1949, � prof�tico, mostrando o que acontece num pa�s totalit�rio chamado Oceania. At� o nome foi um progn�stico, diante das atuais anula��es de liberdades na Austr�lia. Ironicamente, ontem fez 234 anos que l� chegaram 736 condenados ingleses para colonizar aquela terra sob a �gide da liberdade.

Vivendo como condenados em um regime sem liberdades, mais de 280 mil venezuelanos j� regularizados no Brasil fugiram de sua p�tria, de sua pr�pria terra natal. Ao acolh�-los oferecemos liberdade. A mesma que precisamos legar a nossos filhos e netos.

O Artigo Final dos Estatutos do Homem estabelece que ser� suprimida a palavra liberdade dos dicion�rios e do “p�ntano enganoso das bocas”, porque a morada da liberdade “ser� sempre o cora��o do homem”. Mas a premoni��o liter�ria dos poetas e escritores aqui citados � hoje uma perigosa realidade ganhando corpo. N�o podemos nos omitir de reconhecer que cada um de n�s est� desempenhando um papel, por a��o ou in�rcia, nesses tempos que j� foram apenas fic��o.

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