(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Quais as novidades da Ci�ncia sobre a intera��o obesidade e c�ncer?

Estudos recentes sobre o efeito biol�gico do tecido adiposo no desenvolvimento do c�ncer t�m nos auxiliado no entendimento desta rela��o


V�rios estudos epidemiol�gicos correlacionam a obesidade ao aparecimento de c�ncer. Um estudo mais recente da Uni�o Internacional de Controle do C�ncer comprovou a rela��o entre obesidade e c�ncer. Ele estima que 30% dos casos da doen�a, nos pa�ses ocidentais, estejam relacionados ao sedentarismo e ao excesso de peso. Este � o segundo fator de risco para o desenvolvimento de c�ncer, ficando atr�s apenas do tabagismo, de acordo a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).

A popula��o mundial est� continuamente mais pesada, o que torna a obesidade um problema de sa�de p�blica. No Brasil, mais de 80 milh�es de pessoas, ou seja, cerca de 60% da popula��o, est�o com excesso de peso, enquanto 15 milh�es s�o consideradas como obesas. Os n�meros avan�am rapidamente entre todas as idades e classes sociais. O n�mero de obesos entre crian�as e adolescentes cresceu nos �ltimos dez anos de 3,7% para quase 13%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Segundo dados do Instituto Nacional de C�ncer (INCA), uma crian�a obesa tem um risco 30% maior de tornar-se um adulto obeso. Entre os adultos com excesso de peso as maiores incid�ncias de tumores est�o relacionadas ao rim, ves�cula, p�ncreas, intestinos, pr�stata, endom�trio (a camada interna do �tero) e mama. Nestes casos, a obesidade � considerada como uma causa em comum, embora haja tamb�m outros fatores envolvidos, como gen�ticos.

Em contrapartida, h� v�rios tumores em que a correla��o com a obesidade n�o pode ser demonstrada at� o momento como, por exemplo, o c�ncer de pulm�o.

� importante ressaltar que as hip�teses para se justificar a associa��o de c�ncer e obesidade se sustentam em quatro pilares — causas hormonais, processo inflamat�rio cr�nico, erro alimentar e causas diretas. Nas causas hormonais, o excesso de tecido gorduroso leva a um aumento da quantidade de estr�geno circulante, que por sua vez est� ligado ao aumento de incid�ncia de tumores, como os de mama, �tero e intestino.

As pesquisas tamb�m sinalizam nos obesos um aumento da quantidade de uma subst�ncia denominada de IGF (fator insulina-s�mile), respons�vel pelo crescimento e multiplica��o celulares. Por outro lado, o excesso de gordura nos adip�citos (c�lulas gordurosas do corpo) provoca um processo inflamat�rio cr�nico, que por sua vez libera continuamente subst�ncias t�xicas e indutoras de inflama��o e c�nceres nas c�lulas normais.

Na �ltima d�cada, a obesidade tem sido associada a um aumento do risco e da agressividade de v�rios tipos de c�ncer. Muitas atividades biol�gicas no tecido adiposo mudam com a obesidade e podem contribuir para a carcinog�nese e o in�cio do c�ncer. Estudos recentes sobre o efeito biol�gico do tecido adiposo no desenvolvimento do c�ncer t�m nos auxiliado no entendimento desta rela��o.

Tecido Adiposo e Carcinog�nese


Estudos baseados na an�lise de amostras cl�nicas e modelos de camundongos analisam o papel das c�lulas do tecido adiposo no envelhecimento e no aparecimento de doen�as em pessoas saud�veis. Descobriu-se o fen�meno da mobiliza��o e tr�fico de c�lulas adiposas para tumores e o efeito estimulador das c�lulas estromais (c�lulas que comp�em tecidos de sustenta��o) adiposas na progress�o do c�ncer. O corpo humano tem essencialmente dois tipos de tecido adiposo: branco e marrom. Nascemos com principalmente adip�citos marrons, cheios de mitoc�ndrias, que queimam energia e produzem calor que nos defende contra hipotermia, obesidade e diabetes.

� medida que envelhecemos e ganhamos peso, come�amos a perder nossas c�lulas adiposas marrons e aumentamos o n�mero de c�lulas adiposas brancas armazenadoras de lip�dios. Se voc� ingere excesso de calorias, os adip�citos brancos aumentam seus estoques lip�dicos e aumentam em n�mero. Com isso, h� tamb�m um aumento no risco de v�rias doen�as, sendo uma delas o c�ncer.

Como o estresse genot�xico evolui e qual seu papel na carcinog�nese


O c�ncer se desenvolve como resultado de danos celulares por serem bombardeados por estressores, alguns dos quais ambientais e outros internos, como inflama��o. Essas v�rias exposi��es a estressores podem produzir radicais livres que prejudicam mol�culas em nossas c�lulas - prote�nas, lip�dios e �cidos nucl�icos.

Al�m disso, os radicais livres gerados pelas mitoc�ndrias, ou de outros locais dentro ou fora da c�lula, causam danos aos componentes celulares e contribuem para o estresse oxidativo. Gerar radicais livres � vital para a fun��o celular normal; no entanto, a exist�ncia de muitos radicais livres cria o problema de danos oxidativos �s organelas da c�lula. O dano genot�xico ï¿½ um tipo espec�fico de dano oxidativo no DNA cromoss�mico que pode levar ao in�cio do c�ncer.

Uma nova perspectiva para o tratamento da obesidade


O tecido adiposo depende de vasos sangu�neos, como os tumores. Uma vez que voc� priva os tumores de seu suprimento sangu�neo, diminuindo os vasos sangu�neos, os tumores morrem. Por isso, postula-se que os mesmos mecanismos poderiam ser empregados para destruir os vasos sangu�neos que sustentam o ac�mulo de gordura, fazendo com que o tecido adiposo se quebre rapidamente e desapare�a.

Recentemente um grupo de pesquisadores desenvolveu um composto experimental que permite observar a intera��o tecido tumor-gordura em modelos animais. Quando se injeta esse agente [proibitina-TP01] em camundongos, ele avan�a e promove a morte dos vasos sangu�neos associados ao tecido adiposo branco, que � ent�o reabsorvido e metabolizado.

Descobriu-se, ent�o, que um m�s de tratamento em camundongos gravemente obesos foi suficiente para restaurar o peso corporal normal do animal. Nenhum dos camundongos usados %u200B%u200Bno experimento foi geneticamente alterado ou propenso � obesidade antes do tratamento; eles ganharam peso porque comiam uma dieta rica em gordura. Ressalta-se tamb�m o fato de o tratamento reverter a obesidade sem nenhum dos poss�veis efeitos colaterais associados � r�pida perda de peso.

Intera��o entre c�lulas tumorais e gordura


Tem havido um interesse crescente na “diafonia” entre o tecido adiposo e as c�lulas tumorais, promovendo o crescimento. Obviamente, livrar-se de gordura extra � uma boa ideia, porque, entre outras raz�es, reduz o risco de c�ncer. H� inicia��o do c�ncer, que � carcinog�nese, e depois h� progress�o do c�ncer, que � o crescimento do tumor levando ao est�gio metast�tico.

A obesidade induz inflama��o, que � cancer�gena, e tamb�m promove claramente a progress�o de muitos c�nceres. Estudos recentes identificaram um “crosstalk” (intera��o) entre os tecidos adiposos e os tumores de c�lulas epiteliais denominados carcinomas. Esses c�nceres de �rg�os reprodutivos e digestivos (mama, pr�stata e c�lon) s�o cercados por tecido adiposo. Durante essa intera��o entre o carcinoma e o tecido adiposo, existem muitos mecanismos de acelera��o do c�ncer em a��o.

Descobriu-se, ent�o, que as c�lulas do estroma no tecido adiposo se mobilizam, migram para o microambiente do tumor e se tornam uma subpopula��o de fibroblastos que promovem a progress�o do c�ncer e a resist�ncia � quimioterapia. As c�lulas estromais e imunes dos carcinomas infiltrantes de tecido adiposo secretam localmente fatores par�crinos no microambiente tumoral.

Al�m disso, adip�citos maduros fornecem adipocinas e lip�dios para as c�lulas cancer�genas. Podemos identificar pelo menos tr�s mecanismos envolvidos na interfer�ncia entre o tumor e o tecido adiposo durante a progress�o do c�ncer, mas ainda n�o est� claro se a obesidade tem um impacto direto no comportamento metast�tico ou se � um fator ambiental adicional.

Qual � o futuro das pesquisas sobre obesidade e c�ncer?


Existem v�rias novas dire��es interessantes de novas pesquisas que despontam nesse momento. H� um paradoxo da obesidade, no qual alguns estudos indicaram que um �ndice de massa corporal mais alto diminuiu o risco de mortalidade em pacientes com c�ncer e ajudou a responder melhor a certas terapias, como a imunoterapia.

Existem evid�ncias crescentes de que, quando um paciente com c�ncer desenvolve caquexia, o excesso de tecido adiposo branco pode estar, sim, atrasando a mortalidade. No entanto, considera-se o outro lado da moeda, pois o excesso de tecido adiposo promove a agressividade do tumor. Uma vez que entendamos melhor os aspectos protetores do tecido adiposo em determinadas situa��es, ele poder� nos fornecer informa��es que podem se traduzir no dom�nio terap�utico.

Outro fen�meno fascinante em estudo � a senesc�ncia celular, ou seja, c�lulas danificadas benignas que n�o podem se dividir, tamb�m s�o resistentes aos mecanismos de morte celular. Essas c�lulas se acumulam no tecido adiposo e come�am a secretar citocinas t�xicas, que contribuem para a inicia��o e progress�o do c�ncer. Portanto, alguns estudos t�m analisado certas abordagens para livrar o tecido adiposo das c�lulas senescentes, impedindo um processo inflamat�rio que � potencialmente indutor de c�ncer.

Se voc� tem d�vidas ou sugest�o de tema, envie para [email protected]

*Andr� Murad � oncologista, p�s-doutor em gen�tica, professor da UFMG e pesquisador. � diretor-executivo na cl�nica integrada Personal Oncologia de Precis�o e Personalizada. Exerce a especialidade h� 30 anos, e � um estudioso do c�ncer, de suas causas (carcinog�nese), dos fatores gen�ticos ligados � sua incid�ncia e das medidas para preveni-lo e diagnostic�-lo precocemente.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)