Com carro na oficina para reparos sem tempo de acabar, por causa da minha mania de preferir carro antigo, tenho andado de t�xi. Como n�o tenho celular, n�o posso fazer uso desses sistemas mais baratos que a maioria usa. Mas t�xi me d� seguran�a e algumas surpresas, que tenho curtido de vez em quando. Na semana passada, tomei um t�xi ao sair do sal�o de cabeleireiro de Laura Nunes. Quando o motorista partiu, escutei no r�dio Aleluia, que me pareceu ser hino de alguma igreja. E a surpresa do dia come�ou. Ele me contou que falava ingl�s e espanhol e que o hino era em hebraico, a l�ngua adotada pelos judeus. Ele estava estudando tamb�m como se fala hebraico e, no seu carro, um computador mostrava o texto do hino, n�o naquele alfabeto complicado, mas no nosso. Quer dizer: dava para ler o que o cantor falava, e entender mais ou menos os versos do hino.
O profissional foi me contando coisas e mais coisas que tem aprendido e refor�ou principalmente no fato de que Jesus n�o se chama Jesus, seu nome hist�rico e tradicional � outro. Mais: como o j n�o existe em iidiche, ele nunca poderia se chamar Jesus. Falou outro nome, mas na minha conhecida surdez n�o consegui entender muito bem e tampouco guardar. Ele me deu uma li��o de B�blia, com novas coloca��es que n�o conhecemos, falou dos profetas e mais, muito mais. Sabe tudo de forma mais complicada do mundo: aprende em outra l�ngua e n�o no nosso portugu�s cotidiano. Quando cheguei em casa, ele colocou um disco de hinos que gosta muito, e que s�o bem bonitos. Mas n�o deu para escutar tudo, porque tinha o que fazer naquela hora. Ele n�o tinha a menor pressa, queria contar o que sabia e o que estava aprendendo.
Como achei um caso raro, motorista de t�xi aprendendo hebraico, andei comentando com um outro usado nas minhas sa�das e alguns deles me confirmaram que o estudo de l�nguas diferentes tem acontecido muito no meio. Quando nada, para atender passageiros ou at� passar o tempo esperando chamadas no ponto. Como essa aplica��o n�o � comum, estou de olho num profissional que tem tudo para atender bem, principalmente por causa da concorr�ncia que est�o enfrentando de servi�os cuja rentabilidade vai toda para as m�os de um americano. Por aqui, s� fica um enganoso sal�rio para quem trabalha em t�xis com aplicativos.
Outro dia, tive outra surpresa. Chamei o t�xi e o motorista j� era meu conhecido, trabalhou durante muitos anos com um empres�rio a quem dedica o maior agradecimento e admira��o. Tanto que deu � filha o nome da mulher do empres�rio. No caminho, ele colocou Julio Iglesias, de quem gosta muito e cujo show aqui em BH j� foi assistir. E me contou que, no fim do ano, realizar� um velho sonho: ouvir Roberto Carlos cantar naquela viagem de navio que vai at� a Argentina. J� comprou sua passagem que estava come�ando a pagar. E completou: “Afinal, trabalhamos para, �s vezes, fazer o que gostamos”. Estava mais do que certo.